O imbróglio e a falta de definição entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e alguma legenda do centrão, desta vez mirando no PL, pode custar caro ao capitão e ao seu grupo no parlamento. Isso porque, ele e os que o acompanham podem parar numa legenda nanica e o contexto já não é mais o mesmo de 2018. Faltam garantias de ambas as partes para que haja a definição e isso arrasta um acordo. É o que avalia o professor e cientista político Guilherme Carvalho em entrevista ao Diário de Goiás.
Sem partido desde 2019 e com a criação do Aliança pelo Brasil ficando pelo caminho, o tempo que Bolsonaro tem para definir seu futuro está cada vez mais curto. Isso porque, se antes ele tinha mais de dois anos, agora lhe restam pouco mais de quatro meses, haja vista a legislação eleitoral impõe o dia 30 de março de 2022 para que o grupo bolsonarista defina em que sigla vão caminhar ao longo das eleições. Sem uma definição, sequer poderão concorrer aos cargos no pleito.
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Para Carvalho, as discussões vão além de qual sigla o grupo irá caminhar e as ‘desconfianças’ são de mão dupla. “Tem uma desconfiança mútua entre os partidos do centrão e o presidente Bolsonaro. Isso é evidente e óbvio que se debruçar um pouco mais. Ambos têm histórico de não cumprirem acordos. Nesse sentido e olhando a partir deste prisma, a gente consegue entender que o imbróglio todo está em torno de garantias palpáveis. A vice-presidência está passando por dentro e pelo escrutínio nas discussões colocadas”, pontua o professor.
Guilherme contextualiza o blocão federativo que deve ser formado em torno do PL, PP e Republicanos para a disputa das eleições em 2022. “Tudo fica muito nublado neste momento porque o que se coloca também não é apenas para onde o presidente vai mas se ele vai ter condições objetivas de cumprir com as promessas que ele tem feito. Há de se lembrar e isso é muito evidente que o presidente Bolsonaro tem chances muito claras de perder a eleição. Esses partidos precisam de garantias sólidas para agora”, pondera.
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Carvalho avalia que Bolsonaro pode acabar entrando numa ‘saia justa’ se não abraçar um grande partido “O presidente está numa saia justa ele está com sérias dificuldades e precisa tomar uma decisão urgente porque o fim da janela partidária é dia 30 de março e ele pode sim, acabar em uma situação bem ruim”, destaca.
O que acontece se Bolsonaro rumar para uma legenda nanica?
Guilherme Carvalho pondera os dois lados da moeda. Para uma legenda nanica, é ótimo receber Bolsonaro. Para Bolsonaro e seu grupo, seria péssimo. Porque? O professor avalia. “Para um partido nanico que tem no mínimo 5 deputados, talvez nem isso e fique sem fundo partidário é interessante receber Bolsonaro. Só que para um presidente da República fazer campanha com fundo partidário tão escasso quanto aquele de 30 deputados e já levando os desgastes todos que ele tem isso não é tão interessante. Inevitavelmente eu acredito que ele caia num partido nanico caso ele não chegue a um acordo com os partidos do Centrão”, explica.
O grande problema que afasta Bolsonaro de grandes legendas que se posicionam ao centro, é que com e extensão geográfica do Brasil e os diretórios estaduais tendo lá suas autonomias, alguns especialmente no Nordeste, estão optando por caminhar com o principal rival do presidente no momento: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que além de liderar as pesquisas de intenção de voto até aqui, tende a receber apoio desses grupos. O próprio PL, possível casa dos bolsonaristas, acena para Lula em algumas regiões. O PP deve apoiar Lula em vários estados ao norte/nordeste do país.
“Inevitavelmente eu acredito que ele caia caso ele não chegue a um acordo com os partidos do Centrão. Eu acho que esse acordo está muito emperrado inclusive as questões do PP, porque o PP tem uma base sólida no Nordeste e boa parte da bancada quer caminhar com o Lula por razões óbvias e ele pode acabar numa legenda nanica e piorando ainda mais a situação dele que já é bastante dramática”, concluí.