22 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 29/07/2021 às 16:00

Bolsonaristas seguem passos de trumpistas ao manifestarem por voto impresso, avalia especialista

TSE - Tribunal Superior Eleitoral Urna eletrônica
TSE - Tribunal Superior Eleitoral Urna eletrônica

Quando os manifestantes saírem às ruas no próximo domingo (1º/08) pedindo que o processo eleitoral mude para o voto impresso, eles estarão criando mais uma cena para tentar encontrar saídas a uma hipotética derrota do presidente da República, Jair Bolsonaro nas próximas eleições, tais quais fizeram eleitores trumpistas com o repúblicano Donald Trump, em 2020, nos Estados Unidos. Trata-se apenas de um ato que busca ‘construir uma narrativa’, avalia o pesquisador e doutor em sociologia, José Elias Domingos.

“Essa manifestação pelo chamado voto auditável no fundo é uma justificativa dentro dessa narrativa construída pelos grupos bolsonaristas para talvez justificar futuramente assim como aconteceu nos Estados Unidos, com o Donald Trump a possível derrota eleitoral”, pondera. “Bolsonaro vem se desidratando politicamente, sabemos disso, ele vem se desgastando com altos índices de rejeição, isso atrelado a vários fatores como a questão da crise econômica, gestão da pandemia, o próprio comportamento dele que constantemente incorre em quebra de decoro”, contextualiza.

Esse cenário o coloca numa situação complicada para o próximo pleito e ao mesmo tempo faz insurgir essa narrativa do voto impresso entre seus apoiadores. “Esse cenário difícil dele de projetar futuramente para o ano que vem disputando uma eleição com Luiz Inácio Lula da Silva, tem alimentado e servido como combustível para alimentar esses setores clamando pelo chamado voto auditável. Só que a questão é: o voto no Brasil hoje é eletrônico mas ja é auditável”, destaca.

Voto já é auditável

O sociólogo reforça que o processo eleitoral no Brasil já trata o voto como auditável. “O voto passa por diferentes processos de testagem que vão desde a questão da incorporação de pessoas para auditorias antes e depois das eleições, são pessoas ligadas a Organizações Não Governamentais, a diversos partidos políticos, tecnologias de informação e comunicação, segurança de rede. A urna eletrônica é sempre muito bem investigada, sempre passa por muitas testagens.” destaca. 

“A urna eletrônica é criptografada, não tem qualquer tipo de conectividade durante o processo eleitoral. Quando elas vão para o Colégio Eleitoral, elas não passam por qualquer tipo de conectividade pela internet. Temos a impressão de várias vias de zerésimas, que ficam afixadas nos Colégios Eleitorais para comprovar o número de votos que entrou”, explica. 

Ameaça ao pleito é blefe

Apesar de Bolsonaro constantemente colocar em xeque o próximo pleito, Domingos acredita que tudo trata-se de blefe. “Para ele poder cancelar as eleições, ele teria de passar por um dos outros poderes formando uma cláusula pétrea. É um blefe do presidente da República jogando com certos nichos eleitorais de maneira radical com seu elo ideológico,  para fazer com que ano que vem a possibilidade do resultado seja contestado”, destaca.

Apesar de alguns setores militares terem abraçado o presidente da República, isso não representa toda a corporação, pontua. “É bom lembrar que alguns setores da ala militar tem incorporado esse discurso bolsonarista, mas se for a corporação de uma forma geral, eles não compram esse discurso”.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.