22 de novembro de 2024
Publicado em • atualizado em 14/01/2021 às 11:49

Os sonhos de Maguito Vilela para Goiânia: ‘Cidade justa, geradora de empregos’

A covid-19 impediu que Maguito Vilela (MDB) conduzisse seu mandato de prefeito à frente da gestão em Goiânia. Apesar de ter tomado posse e a Câmara dos Vereadores permitir sua licença, Vilela sequer chegou a exercer o mandato. Apesar de tudo, o ex-governador do Estado tinha seus objetivos e sonhos no que seriam quatro anos como prefeito da capital de Goiás. Maguito queria continuar as obras de Iris Rezende (MDB), desburocratizar Goiânia e prometeu protagonismo ao tratar do transporte coletivo na região Metropolitana. Acima de tudo, prometeu cuidar dos cidadãos na capital.

Do plano de governo ao único debate que participou, havia alguns sinais de como Maguito tocaria sua gestão e conduziria os objetivos. “Trago no coração o compromisso de dar continuidade ao legado do nosso grande líder Iris Rezende e oferecer, acima de tudo, a melhor qualidade de vida para todos do município”, dizia o texto introdutório de sua apresentação no projeto de gestão registrado junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No documento, ele dava garantias que concluiria todas as obras não encerradas de seu antecessor e aliado Iris Rezende.

No dia 15 de outubro, Maguito Vilela estava presente no auditório da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg) no último debate que participaria em sua trajetória política. Lá, levou a cabo o que dizia em seu plano de governo. Defendeu o legado de Iris e garantiu o que estava em seu plano de governo: que continuaria com as obras. O candidato Alysson Lima, do Solidariedade, chegou à desferir diversas críticas com relação a Iris Rezende dizendo que o então prefeito só se preocupava em “construir viadutos”.

Vilela não titubeou. Disse que era necessário obras para dar mobilidade a cidade, por exemplo, para conectar a periferia ao Centro da cidade e vice-versa. “É importante construir viadutos, tem de dar mobilidade para a cidade. É preciso fazer pontes e travessias, dar mobilidade à todos. É preciso construir obras estruturantes. A Leste-Oeste, a Norte-Sul, os viadutos, o BRT, senão construir isso a cidade toda vai ficar travada. Já existe uma burocracia muito grande, agora não constrói como você quer. Aí fica difícil…” 

Um dos muitos sonhos de Maguito também era transformar Goiânia numa cidade social, geradora de empregos, que promovesse justiça. Junto com sua esposa, Flávia Teles, já havia se reunido com entidades e discutido o futuro da capital no pós-pandemia no sentido de buscar soluções assistenciais para a cidade. 

“Vamos investir na parceria com o sistema S, com todos os empresários talentosos de Goiás. Vamos incentivar o cooperativismo. É assim que vamos fazer uma cidade justa, empreendedora, progressista. Uma cidade geradora de empregos. Uma cidade que olha o social. Eu já me reuni com todas as entidades filantrópicas de Goiânia. Eu e a Flávia, minha esposa, já nos reunimos com todos, para ter um programa pós-pandemia.”

“Cuidar de pessoas é importantíssimo e nós temos que cuidar. Eu acho que o mais importante que nós temos na vida, é o ser humano”. 

Mas nem tudo eram sonhos. Definido pelo prefeito Iris Rezende como um “abacaxi para descascar”, o transporte coletivo na Região Metropolitana de Goiânia seria um dos principais desafios – e talvez, pesadelo – que Maguito Vilela teria ao longo destes quatro anos. E foi ousado. Prometeu tomar para si o protagonismo nas discussões em torno de uma solução para o assunto. Disse que tomaria à frente na questão e que não se furtaria em tentar resolver.

“O problema do transporte coletivo é seríssimo em todo o Brasil. Em todo o Brasil o sistema é deficitário. No nosso caso aqui, tem o estado envolvido. A lei é estadual, tem as prefeituras da região metropolitana e é difícil chegar a um acordo sobre todos os entes responsáveis. Estou propondo liderar esse processo. Chamar os atores de responsabilidade. Os empresários, donos de ônibus, as cidades que todas estão envolvidas. Chamar o Estado com a sua responsabilidade e encontrarmos um denominador comum. Dar um basta nisso.”

“Estou propondo liderar esse processo. Chamar os atores de responsabilidade […] Dar um basta nisso. Todos os outros ex-prefeitos prometeram receber e eu não quero fazer uma promessa fácil. Eu não vou falar que vou resolver esse problema mas vou chamar a responsabilidade e buscar o ponto certo e se não resolver definitivamente, minimizar o problema do usuário. ”

Tornar a cidade inteligente para melhorar a mobilidade. Uma das formas de resolver a questão do transporte seria dar mais inteligência ao trânsito. E isso seria feito por meio da tecnologia. “Serão adquiridos programas de computadores para gerenciar o trânsito de Goiânia, que juntamente com os sensores de passagem em cada esquina relevante, câmeras de monitoramento e sala de situação permitirá dimensionar, planejar e controlar o tráfego da cidade com eficiência, saindo do empírico sistema do achismo para uma forma de gestão digital requerida pelos tempos atuais”, dizia um trecho do programa de governo.

Na Acieg, Maguito prometeu ‘internacionalizar’ Goiânia. Apresentar uma capital do Estado ‘para o mundo’. E para isso pediu ajuda das empresas privadas. O sonho começaria a ruir alguns dias depois. No dia 19 de outubro, os primeiros sintomas apareceram e sua agenda presencial foi cancelada.

“Fiz um plano de governo voltado para internacionalizar Goiânia. Mostrar Goiânia para o mundo. Fizemos um plano de governo que vai proporcionar um salto de desenvolvimento nunca visto”



Os planos de Maguito Vilela foram abreviados com a covid-19. Sequer sentou na sua cadeira de prefeito no Paço Municipal que agora será ocupada definitivamente por Rogério Cruz (Republicanos). O ex-governador havia recebido o diagnóstico com a contaminação do novo coronavírus no último dia 20 de outubro e logo no dia 22 deu encaminhamento à internação no Hospital Órion em Goiânia. Na época, a ideia era que o político fosse observado “por precaução”. No dia 27 de outubro, ele foi encaminhado para a UTI do Albert Einstein, em São Paulo e de não saiu mais do hospital.

No dia 2 de dezembro, os médicos constataram que Maguito não estava mais com a presença do vírus no organismo e três dias depois, os médicos decidiram retirar a ECMO do tratamento do então prefeito eleito. Era um indicativo animador para Vilela que duas semanas antes, havia apresentado um sangramento pulmonar e teve de ser submetido à uma cirurgia.

De lá para cá, Maguito alternou entre momentos de sedação. Entre doses leves e altas de sedativos, ele apresentava uma recuperação lenta e gradual em seu estado de saúde, mas desde o dia 8 de janeiro foi diagnosticado com uma infecção pulmonar com fungos e bactérias no pulmão, o que fez com que ele fosse submetido a altas dosagens de drogas vasoativas. Ele não resistiu ao tratamento. 

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.