31 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 09/09/2021 às 08:22

Se Bolsonaro não mudar sua forma de governar, dificilmente terá governabilidade para terminar o mandato, avalia presidente do PSD em Goiás

(Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)

Se o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) não mudar o tom em sua forma de governar, baixando críticas às instituições do país, inventando ‘falácias’, inimigos invisíveis e não focar no que realmente importa para tirar o Brasil da crise: apaziguar as tensões, melhorar a economia e diminuir a inflação, dificilmente termina o mandato, avalia o presidente do PSD em Goiás, Vilmar Rocha. Sua legenda abriu um processo para avaliar a possibilidade de impeachment.

Em entrevista ao Diário de Goiás, o também advogado e professor de Direito Constitucional enxerga que dificilmente Bolsonaro terá governabilidade se não mudar o comportamento mas não vê possibilidade que leve a uma guinada radical. “As eleições serão democráticas como foi a de 2018 que o elegeu, vão ser eleições limpas, democráticas e quem ganhar toma posse, quem perder vai para a casa. Eu acredito que neste próximo ano vai ter muita tensão política mas não chegaremos a uma ruptura institucional”, destacou.

Segundo Rocha, as regras serão mantidas mesmo com as tensões promovidas pelo presidente da República. “As instituições do Brasil, o Congresso Nacional, a Justiça, o MInistério Público, a Polícia Federal, as instituições do estado e a sociedade civil estão vigilantes e vão estar ao lado majoritariamente da democracia, do estado de direito, das instituições e das regras. Teremos alguma tensão política mas não acredito e torço para que não tenhamos uma ruptura institucional”, pondera.

Deixar ir até o fim do governo ou tirá-lo com um processo de impeachment?

Com a crise escancarada, o PSD decidiu abrir um processo interno no partido para avaliar a possibilidade de entrar com um processo de impeachment. “Eu considero correta a decisão do presidente Gilberto Kassab porque nós temos de fazer uma reavaliação da nossa posição. Porque? Antes, a gente não defendia o impeachment, mas também não esperávamos que ia chegar ao ponto que chegou”, avalia. 

A grande questão que o partido deverá avaliar é qual o mal menor para o país. “O grande problema é saber o seguinte: Qual é o mal maior para o país? Essa é a grande questão: se é deixar ir até o fim ou tirá-lo agora através de um processo legal de impeachment? É isso que o partido vai avaliar e naturalmente o Congresso que tem a responsabilidade neste assunto deve avaliar. O que é melhor e causa menos dano ao país?”

Com esse cenário caótico e sem uma mudança, díficilmente Bolsonaro teria condições de governar o país. “Eu acho difícil ele ter governabilidade a não ser que ele respeite as regras e instituições. As instituições não vão fazer o que é da vontade dele. As coisas que ele vê de forma falaciosa como a questão do voto auditável, isso não tem o menor sentido, colocar isso como uma questão urgente e salvacionista para o Brasil. Isso não é verdade, é uma falácia. É apenas para continuar mantendo sua base política mobilizada”, pondera.

‘Destempero verbal’

Rocha avalia que ao disparar ameaças a outros poderes, Bolsonaro age de maneira politicamente irresponsável criando tensões desnecessárias. “É mais um destempero verbal dele [as ameaças aos Ministros do STF, no último 7/9]. Politicamente, irresponsável porque ele eleva a tensão política de forma artificial e desnecessária. Com isso, traz consequência para o país”, pondera.

No fim das contas, cria-se um clima de instabilidade atacando inimigos invisíveis e não se ataca os reais problemas que a população brasileira tanto se preocupa. “Ficamos gastando energia com essa tensão enquanto os problemas reais não estão sendo atacados. Por exemplo, a inflação foge do controle e o custo de vida aumenta muito. Há uma preocupação com os investimentos que não geram emprego e renda. Enquanto nós ficamos com essa radicalização, não temos tempo nem políticas públicas para enfrentar os problemas da sociedade”, destaca. 

Rocha avalia que Bolsonaro mira um caminho equivocado. “Eu acho que isso é um erro. Já estamos dizendo há algum tempo e esperamos que essa crise pare por aí e que não leve a uma crise institucional porque aí seria uma coisa muito grave e ruim para o futuro do país.”

Inimigos invisíveis

Bolsonaro repetidas vezes tenta jogar a culpa do problema da inflação e diversas crises que o Brasil vive no colo dos prefeitos e governadores. “É uma desculpa e sempre é assim. As pessoas quando estão acuadas, elas jogam a responsabilidade para outro”, avalia Rocha. É que o presidente diz que a política do “fecha-tudo”, como define, acentuou o país na crise. 

“Os governadores fizeram com o distanciamento, as restrições, o que o mundo todo fez. Nova Yorque, Roma, França, o mundo todo fez. Será que só os governadores aqui do Brasil estavam errados e o mundo todo estavam errados? É evidente que não”, destacou.  “Eu estava assistindo no domingo passado a Fórmula 1, na Holanda, todos de máscara. O rei da Holanda de máscara. Aqui no Brasil, o presidente acha um absurdo usar máscara. Todos os líderes mundiais vacinaram-se publicamente para dar o exemplo e estimular. Aqui não se vacinou. Será que o mundo todo estava errado?”, comparou. 

Por fim cravou: “Evidentemente, que no momento duro da crise onde o mundo todo fez, tinha de fazer o distanciamento social. Não é correto jogar a culpa nos governadores pela crise econômica.”

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.