Algo tem incomodado o Brasil nestes últimos dias. O Big Brother Brasil parece ter deixado de ser o entretenimento vazio e entrou na lacrosfera das redes sociais por conta de seus personagens. Um dramalhão mexicano invadiu a casa mais vigiada do Brasil. Choros, intrigas e comentários incômodos do eliminado Rodolffo sobre o black power do professor de geografia João Luiz repercutiram muito no mundo real. Afinal de contas, sempre é uma “piada” e nunca é “para incomodar”. “Que geração mimimi da p****!”
Debates históricos que envolvem racismo e gênero e que são construídos ao longo de décadas de lutas por parte de movimentos estão sendo reduzidos a “mimimi” com um canavial de comentários criticando a tal “geração mimizenta”, que tenta estabelecer um norte à pauta. Muitos se tornaram especialistas na crítica: desde espectadores de pay-per-view até psicólogos que tentam promover análises rebuscadas em torno da “geração que não deu certo”.
Que blackpower não é apenas um corte, Tiago Leifert explicou muito bem na edição de ontem (06) do programa. Mas nem precisava. Antes de tudo isso acontecer, as redes já haviam sido infestadas por um manancial de disparates lacradores acerca da atual geração que é tida como chata, simplesmente por não aceitar e resistir a comentários e piadas homofóbicas, racistas, sexistas e machistas. Não há como normalizar tais falas nos tempos atuais sob o pretexto de que são “brincadeira”. Como se o preconceito fosse aceitável desde que esteja dentro de um tom amigável ou brincalhão.
Vale lembrar que o próprio Rodolffo havia se incomodado por Juliette o chamar de Peruca e ficou por isso mesmo. No fim das contas, se a “geração mimimi” reclama de tudo, quem reclama da “geração mimimi” é o que?
Domingos Ketelbey
Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.