12 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 10/04/2022 às 17:02

Respirando ares socialistas, Alysson Lima reforça apoio a Ciro Gomes e diz que, se eleito, manterá postura independente na Câmara dos Deputados

Parlamentar no entanto, destaca que respeitará decisão do partido em apoiar Lula e Geraldo Alckmin
O deputado estadual Alysson Lima e a ficha de filiação ao PSB (Foto: Reprodução/Instagram)
O deputado estadual Alysson Lima e a ficha de filiação ao PSB (Foto: Reprodução/Instagram)

O jornalista e deputado estadual Alysson Lima tentará dar um salto nas eleições em 2022 e mira sair da Assembleia Legislativa rumo à Câmara dos Deputados, em Brasília em um movimento que culminou na sua transferência do Solidariedade, onde foi eleito em 2018, para o PSB, do presidente estadual Elias Vaz, do ex-governador José Eliton e do pré-candidato a vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. 

A transferência pode ter chamado a atenção do campo progressista, já que Lima tem suas origens próximas ao Republicanos, partido de centro-direita ligado à Igreja Universal e o PSB tem articulado e tomado protagonismo na união de uma “frente ampla” de oposição tanto ao governo estadual como ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). O deputado, no entanto, diz que sua ida ao partido não está condicionada a “luta contra pessoas” e sim, a pavimentar sua atuação independente, agora na Câmara dos Deputados.

Eleitor declarado de Ciro Gomes, que tenta emplacar seu nome na terceira via pelo PDT, Lima diz que respeita a decisão de seu partido de caminhar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas seguirá um caminho independente, caso eleito. “Caso isso atrapalhe o partido, aí o partido vai ter de fazer uma escolha: me manter no quadro ou me expulsar porque não abro mão da minha independência em relação aos votos”, destaca.

Em uma entrevista exclusiva ao blog, Lima destaca sua trajetória política, sua origem no Republicanos e seu projeto para a Câmara dos Deputados, em 2018.

Leia a entrevista abaixo com o deputado estadual Alysson Lima (PSB)

Domingos Ketelbey: O senhor foi eleito vereador e deputado estadual pelo PRB, hoje Republicanos, partido declaradamente de centro-direita e que apoia o presidente da República, Jair Bolsonaro. Depois de uma passagem pelo Solidariedade, agora está no PSB, uma legenda que tenta liderar uma frente ampla ao lado do PT, tanto contra o governador Ronaldo Caiado como principalmente ao presidente da República, Jair Bolsonaro. Como se deu essa sua mudança de legenda e vê essas movimentações que seu atual partido vem fazendo?

Alysson Lima: Quando eu me filiei ao Republicanos na época, em 2014, bem antes de eu ser candidato a vereador por Goiânia eu estava na Record que tem esse vínculo com o Republicanos. Eles fazem esse grupo: Record, Universal e o partido. Na época, as pessoas que estavam no partido me convidaram para eu ser candidato a vereador. Primeiro, a ideia era eu ser deputado estadual em 2014, não fui. Então, como eu tinha um ambiente de muitos amigos naquele grupo, eu aceitei em 2016 ser candidato a vereador. Logo que eu fui eleito e entrei na Câmara Municipal eu quis estabelecer um trabalho independente na política, sem ter essa questão do voto fechado e fui adotando uma postura de independência e isso me levou a sair do Republicanos. Embora eu acredite em algumas bandeiras de centro-direita como na questão de controle de gastos, de rigidez de gastos públicos, o que entra numa linha de compliance mas eu sempre trabalhei desde que era jornalista dentro de temas sociais. Sempre tive essa pegada social desde repórter, apresentador. Depois como vereador, as bandeiras dentro do transporte coletivo, saúde e educação. Sempre foi um nicho de trabalho nosso. Eu tenho um perfil muito social. Eu quis equilibrar isso, ser alguém de centro mas também com essa vertente social. É um dos motivos que me trouxe até o PSB, que é um partido que há muito tempo almejava me filiar. Agora, eu não luto contra pessoas. Eu não faço parte de um movimento de esquerda que luta contra o Bolsonaro. Eu luto pelos meus ideais e por aquilo que eu acredito. Hoje, a minha luta é clara contra a cobrança abusiva dos impostos, eu milito nessas causas. O partido me deixou à vontade para poder trabalhar dentro desse contexto.

DK: O PSB então é a legenda que mais se aproxima dos seus ideias? Porque a escolha pelo partido?

Alysson Lima: Eu estava com um trabalho bacana e muito respeitoso no Solidariedade só que na minha opinião o partido estava enfrentando, como enfrentou agora recentemente um problema de chapas. Se as pessoas forem observar, a tendência é que a chapa do Lucas Virgilio faça apenas um deputado. Já a chapa que está sendo montada pelo deputado Elias Vaz, existe a possibilidade real dela fazer dois deputados federais, pois está sendo muito bem montada.  Foi um critério que eu pedi desde o começo: que fosse montado de preferência que não tivesse nenhum deputado federal eleito, aí sim, eu poderia de repente disputar ao menos uma vaga. Mas se fosse com um deputado federal já de mandato que montasse uma chapa com possibilidade de fazer dois. De certa forma, existe uma desigualdade de estrutura para quem já tem um mandato para quem não tem. Eu no caso, sou estadual. É diferente entrar numa disputa com um federal que tem acima de 80 mil votos. Óbvio que quem tá na chuva é para se molhar, quando você vai para disputa você tem que disputar com qualquer um, grandes, gente que tem votação expressiva e quem nunca teve votação. Agora o ponto mais inteligente e mais planejado por ser um movimento político melhor. Eu agradeço por ter conseguido chegar num partido de centro-esquerda, que tem uma vertente social que eu sempre gostei e que me dá liberdade para trabalhar dentro das minhas bandeiras.

DK: Como viu esse movimento do PSB indicar o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin a vice do Lula? 

Alysson Lima: Esse critério nacional não foi determinante para escolher o partido. Eu defendo que tenhamos um presidente que não seja. No meu caso, eu queria que fosse o Ciro Gomes, por exemplo. Meu candidato a presidente da República é o Ciro Gomes. Sempre deixei isso claro nas minhas redes sociais. O partido que estou hoje tem o vice presidente da República que possivelmente vai ser o vice do ex-presidente Lula. Enfim, mas não foi o fator que me atraiu até o partido. Eu vejo todo esse movimento nacional de união entre o PSB, o PT, como movimento de um bloco que quer fazer um contraponto a atual gestão e é normal isso. O presidente da República falhou diversas vezes em questões antidemocráticas. Isso ficou claro. Tentando desestabilizar instituições. Ameaçando dissolver partidos. Tudo isso foi dito e com um discurso negacionista durante a pandemia, isso tudo assustou e é óbvio que uma frente ampla com viés de centro-esquerda se formasse, é natural isso. Eu vejo isso com muita tranquilidade embora eu já tenha externado meu candidato preferido a presidente da República, eu respeito as decisões do partido. Deixando bem claro que quero trabalhar dentro do meu projeto como deputado federal em Goiás. Quero somar dentro do partido que está se propondo fazer mas o foco principal é batalhar para eleger dois deputados federais.

DK: Já que está indo para um partido à oposição do governador Ronaldo Caiado, essa bandeira será intensificada no PSB…

Alysson: Sempre trabalhei com coerência. Não tenho como mudar isso. É uma coerência que mantenho durante um mandato legislativo e manterei ela, seja num mandato no executivo, futuramente. Eu me posicionei na Câmara Municipal como oposição ao Iris e fui oposição durante dois anos de vereador e o partido que eu estava, o Republicanos na época, estava na base do Iris e mesmo assim eu tive força política para segurar até o fim minha posição. Mantive posição no discurso e no voto. As vezes tem oposição de discurso mas no voto acaba votando nos interesses do partido. A mesma coisa aconteceu com o governo Caiado. Fui oposição no voto e no discurso, de tribuna e de bandeiras políticos, com atitudes deixando claro. Ninguém tem dúvidas disso. Eu não tenho cargo na estrutura administrativa do governo. Até o fim, vou ser oposição ao Caiado durante os próximos 10 meses pela frente e caso seja eleito, vou manter os trabalhos de oposição ao Caiado.

DK: E caso eleito deputado federal, numa hipotética eleição do PT e do PSB, seu partido a presidencia da República? O senhor sempre foi oposição como disse. Como será sua postura diante do mandato?

Alysson Lima: Eu sou independente. Sempre tive esse viés, porque eu venho da televisão e do jornalismo. Defendo a imprensa livre e liberdade de expressão como pilares básicos da sociedade. Eu vi que durante tempo, trabalhei durante 30 anos como locutor, jornalista televisivo, apresentador. Sempre fui jornalista independente e acredito que tem que essa marca na política. Eu não me vejo fazendo um trabalho de base, aquele trabalho fisiológico, votando tudo que o presidente manda votar ou mesmo o governador. Isso comigo não funciona. O partido que por acaso um dia tentar fazer isso e impor o voto para mim. Não vai conseguir, ou me convence a votar em determinado projeto. Eu quero ser independente. Se por um acaso, o ex-presidente Lula ganhar eleição junto com o Geraldo Alckimin, e eu for eleito deputado federal, eu vou ter um trabalho independente, de ajudar o governo nas pautas importantes, mas ter a minha liberdade de criticar e cobrar quando tiver de cobrar. Caso isso atrapalhe o partido, ai o partido vai ter de fazer uma escolha: me manter no quadro ou me expulsar porque não abro mão da minha independência em relação aos votos. Claro que você tem de trabalhar muito para poder ajudar o partido na questão de representatividade política, mas muito mais importante é minha consciência com relação as pessoas que me colocam no cargo público.

DK: O senhor deve ter eleitores que apoiam o presidente Jair Bolsonaro e que viam o senhor filiado no Republicanos. O que acha que passa pela cabeça deles ao ver o senhor filado a uma sigla socialista de centro-esquerda?

Alysson Lima: A mudança não foi algo calculado. Eu sou muito intuitivo no meu trabalho. Faço tudo com muito carinho e amor. Sou um cara emotivo, muito ligado a questões que acredito, sociais. Foi acontecendo. Eu estava num ambiente naquela época, foi um partido que me convidou e tinha amigos que me ajudaram politicamente naquela época e que estavam no Republicanos. Esse cordão umbilical aos poucos foi rompido. Eu queria já lá atrás eu queria fazer esse movimento de ir para um partido de centro com uma vertente mais social. Isso está acontecendo agora. Sou contra isso do político ir pulando de  galho em galho, mas uma coisa que tem que ficar bem clara é que a política no Brasil para poder participar numa chapa política, o partido às vezes não tem um quadro para atingir o coeficiente. Então, entrar numa eleição e saber que você não tem condição nenhuma de ganhar… Eu entro para poder vencer, claro que não é vencer a qualquer custo. Faço política dentro daquilo que acredito. As mesmas pautas que eu milito quando eu estava no Republicanos são as mesmas que eu milito hoje. Veja bem: mesmo o Republicanos, por exemplo, mesmo sendo de centro-direita, não conseguiu me mudar. O Alysson continua o mesmo. Eu tenho minhas bandeiras e trabalho em cima das minhas causas. Quando eu comecei na política com mandato efetivo de vereador a minha bandeira, o trabalho que eu dedico e apresento a sociedade são sempre com as mesmas características. Eu não mudei, eu tive que fazer a alternância de partidos, mas agora, eu quero ficar por um bom tempo no PSB, onde tenho amigos e liberdade para trabalhar da forma que eu acredito e é uma legenda que tem viés democrata. Sou uma pessoa democrata, tenho uma visão social que respeita a diferença é que combato o radicalismo e os extremos.

DK:  Qual será o principal tema de interesse do eleitor nessa eleição?

Alysson: A pauta econômica, geração de emprego, aumentar a renda per capita e familiar. Os governadores vão ter de apresentar essa proposta. Os pré-candidatos a senador, deputados federais vão ter de falar muito sobre essa questão econômica. O Brasil está patinando a anos. O Brasil tá com inflação galopante, a questão tributária pesa muito. Os aumentos tributários farão parte da temática das eleições. É o martírio do brasileiro que está cansado de viver num país inflacionado. Essa agenda do ódio tem de ser interrompida. O discurso de inimizade entre as pessoas e que pensam diferente têm de ser resolvidas para estabelecer uma agenda nacional. O Brasil precisa realmente voltar a pensar nisso.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.