Quase quatro anos depois de colocar o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) e o então deputado federal Jair Bolsonaro (que estava no PSL), então candidatos à presidência da República, no mesmo patamar e cravar que a escolha seria muito difícil, o editorial do Estadão desta terça-feira (06/09) dá outros contornos a disputa eleitoral que se aproxima.
Desta vez, sem Haddad que lidera as pesquisas de intenção de voto para o Governo de São Paulo, mas com Luiz Inácio Lula da Silva na corrida ao Palácio da Alvorada, o Estadão voltou seus olhos a forma como Bolsonaro governou ao longo dos últimos três anos e meio: se não acabou com a “mamata”, como prometia na campanha em 2018, a transformou em “método”.
“Quando candidato em 2018, Bolsonaro prometera ‘acabar com a mamata’ da ocupação política de Ministérios, estatais, agências reguladoras e outros órgãos técnicos. Como presidente, ao contrário, ele entregou nacos da administração a parlamentares famintos por orçamentos bilionários em troca de sua permanência no cargo”, dizia um trecho da opinião publicada nesta terça.
Em outro momento, o editorial cita a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). O órgão público que é vinculado ao Ministério da Saúde cuja missão é ‘promover a saúde pública e a inclusão social por meio de ações de saneamento e saúde ambiental’. “Mas, no governo de Jair Bolsonaro, a Funasa foi reduzida à condição de mercadoria nesse degenerado contubérnio que o presidente da República estabeleceu com o Centrão em prol de sua permanência no cargo”, salientou.
O próprio Estadão em reportagens elaboradas ao longo dos últimos anos mostrou o descalabro da escolha dos diretores e superintendentes que tocariam a Funasa: vários dos escolhidos não tinham condição técnica de tocar um órgão tão importante para a saúde pública. Em um exemplo espantoso, a superintendência do Espírito Santo foi entregue ao dono de um restaurante self-service que afirmava ser um ‘especialista em cachaça’.
A conta da escolha difícil chegou. Quatro anos depois, além de não ter encerrado a mamata, Bolsonaro a consolidou. O Estadão indaga: “É como se o Brasil não dispusesse de leis que demandam lisura e competência na gestão do Estado. Onde estão a CGU e a PGR?”