08 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 16/01/2022 às 13:54

Primeiro ano da gestão Rogério Cruz não tem marca, nem disse a que veio, avaliam analistas políticos

Rogério Cruz completa um ano frente ao cargo (Foto: Fernando Leite)
Rogério Cruz completa um ano frente ao cargo (Foto: Fernando Leite)

Um ano após tomar posse e assumir definitivamente a Prefeitura de Goiânia, o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) não conseguiu impor seu nome frente a administração, não tem marcas e nem conjunto de obras para chamar de sua. Essa é a avaliação de especialistas e analistas políticos consultados pelo Diário de Goiás. Apesar de tudo, há ressalvas: vereador até a legislatura passada, o prefeito soube compartilhar até demais o diálogo com a Câmara Municipal.

Para o jornalista e pesquisador Luiz Signates, o republicano faz uma “gestão regular”. “Não é ruim, porque a prefeitura está caminhando, apesar de termos sinais de conflitos internos que podem criar embaraços para a continuidade das obras que a prefeitura está tocando e dos atrasos na finalização de certas realizações deixadas pelo ex-prefeito Íris, como o caso típico do BRT”, destaca. “Mas, também, é uma gestão que não disse ainda a que veio. Não tem uma marca, um conjunto de obras que Rogério Cruz possa chamar de sua.”

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Rogério Cruz e o rompimento precoce com o MDB

Com pouco tempo de gestão, teve de encarar o desembarque do grupo emedebista tocado por Daniel Vilela da administração. Signates avalia que esse episódio marcou a “falta de habilidade política de ambos os lados”. De modo que o conflito foi consolidado com a ruptura. “Daniel esperava mais como eventual herdeiro político do pai ausente e Cruz esperava menos em relação à autoridade do filho de Maguito dentro da administração que passava a ser dele.” O filho de Maguito seguiu seu rumo. “Daniel saiu, para abraçar Caiado e, de novo, em condição secundária”. 

Signates pontua que, o MDB não parece estar fazendo falta, haja vista, que Rogério Cruz tem os vereadores em sua mão. “Nesse sentido, observando a gestão de Rogério Cruz e as alianças políticas que têm mantido na gestão de Goiânia, não me parece que o MDB esteja fazendo falta, afinal, o prefeito dispõe de maioria folgada na Câmara Municipal.”

Terceirização de pautas junto aos vereadores

Para o cientista político Guilherme Carvalho, essa “maioria folgada” pode até ser boa para o prefeito, haja vista que tem governabilidade a partir disso, no entanto, é um sinal da ‘terceirização da administração’.  “Houve forte presença do poder legislativo nas ações de gestão e isso significa a quase inexistência de oposição. Apenas dois vereadores se declararam de oposição e uma oposição muito tímida com cargos e benesses na Prefeitura. Do ponto de vista político, Rogério Cruz soube jogar muito bem, em certo sentido, com a terceirização das pautas da Prefeitura. Rogério Cruz nesse ponto político fez uma gestão compartilhada nesse sentido. Isso não quer dizer que é uma boa avaliação de gestão”, pontua.

Guilherme coloca o Plano Diretor como uma pauta que praticamente foi terceirizada à Câmara. “E a questão do Plano Diretor que está sendo discutido desde o mandato passado e tem muitos interesses locais e imobiliários mas que você não sente a presença da prefeitura. A presença do debate inteiro é dos vereadores e parece que assim como todas as ações passadas, a sociedade não foi chamada para o debate.”

Apesar da terceirização, o compartilhamento junto a gestão com a Câmara Municipal não deve apresentar grandes impedimentos a Rogério Cruz. “Penso que enquanto o prefeito compartilhar a gestão com as forças políticas que sustentam as decisões na Câmara, ele não terá grandes problemas políticos em sua administração”, destaca Signates.

Para Signates, o Plano Diretor, da forma como está sendo conduzida pode significar um desastre para a cidade. “O Plano Diretor é um retrocesso jurídico em vários sentidos, se considerarmos o que se espera de um documento assim, para uma cidade como Goiânia. Se for aprovado como está, acho que pode gerar problemas de natureza política tanto para os vereadores, quanto para o prefeito. Não se pode impactar uma cidade inteira dessa forma, considerando apenas os interesses empresariais da especulação imobiliária, sem prever prejuízos de difícil solução depois”, pondera.

Dificuldade em suceder Iris Rezende

De acordo com Carvalho, a comparação com Iris sempre haverá. “É inevitável que haja comparações. Suceder Iris Rezende é um grande desafio”. “Para ter uma marca como prefeito, Rogério Cruz tem de dialogar mais com a sociedade e não só fazendo vídeos para o Instagram. Estou falando de ir aos bairros, aos Conselhos Tutelares, ter um alinhamento estratégico como o Iris tinha. Ser prefeito depois do Iris não é nada fácil e a comparação é inevitável”, destaca.

Para Guilherme, é imprescindível que o prefeito passe a ouvir mais a sociedade, em vez de apenas os vereadores. “De modo geral do ponto de vista da gestão, ela tem dialogado pouco com a sociedade e sobre os mais diversos temas.”

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.