08 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 11/03/2022 às 16:48

Partidos enfrentam dificuldades para formar chapas para as eleições

Especialistas explicam como funciona o cálculo
De olho no voto da urna eletrônica. Partidos tem dificuldades em formar chapas. (Foto: TSE/Divulgação)
De olho no voto da urna eletrônica. Partidos tem dificuldades em formar chapas. (Foto: TSE/Divulgação)

Às vésperas das eleições, partidos enfrentam dificuldades para formar chapas para a disputa do próximo pleito, devido à nova legislação, que proíbe coligações proporcionais. Presidentes de partidos e especialistas políticos que acompanham o dia a dia dos bastidores relatam até dificuldades em montar o cálculo na formatação das chapas, seja almejando a Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional.  

Essa dificuldade, de acordo com o advogado eleitoral Rogério Paz, é muito mais política, do que jurídica, visto que legendas com nomes que possuem maior número de votos passam a não ser atrativas. “Com a proibição das coligações proporcionais, passou a existir muita dificuldade em se fazer uma chapa completa, principalmente com a exigência de 30% de gênero para alcançar o chamado quociente eleitoral, que garante aos partidos políticos uma cadeira no parlamento. Essa é a maior dificuldade que tem sido enfrentada, pois aqueles partidos grandes, que possuem parlamentares, passam a não ser legendas atrativas ao ingresso de outras pessoas para competir com igualdade de condições com partidos que já tenham parlamentares nas casas legislativas”, explica ao Diário de Goiás

De acordo com Paz, o novo cálculo trouxe dificuldades tanto para as legendas que já possuem parlamentares em exercício, como para aquelas que não possuem. No entanto, a segunda opção se torna mais atrativa. “Porque não tem aquelas pessoas chamadas campeãs de votos, que podem ficar com a única cadeira da legenda”, explica. “Alguém que consiga ter 10 mil votos não vai entrar em uma chapa em que tem alguém que tranquilamente tem 70 mil votos. Não é atrativo para essa pessoa. Ele vai procurar uma outra legenda que tenha mais pessoas com 10 mil votos e aqueles que são possíveis parlamentares dos seus quadros tendem a ter mais dificuldade de atrair candidatos”, salienta.

Readaptação face as federações

Presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) em Goiás, Kátia Maria relata que a atual legislação mudou a estratégia do partido com relação à composição da chapa para as próximas eleições. “Eu estava fazendo chapa completa, 42 estaduais e 18 federais, e agora essa chapa vai ser composta pelos quatro partidos”, disse. “Automaticamente, vai nos obrigar a repensar estratégias, ao invés de ter muitos candidatos, ter candidaturas mais concentradas para a gente poder participar das chapas e ter um êxito eleitoral”, acrescenta.

Kátia Maria destaca que os partidos continuam com suas estruturas partidárias. No entanto, é preciso pensar e agir em conjunto, a partir de então. “É como se fosse uma associação dos quatro partidos com validade por pelo menos quatro anos”, explica. “Nós temos que ter um projeto coletivo e esse projeto tem que ser defendido coletivamente no parlamento, também. Então significa que, na próxima legislatura, não vai ser só a bancada do PT, o posicionamento vai ser em bloco com esses partidos que compõem a federação”, salienta.

O perfil do candidato em pauta

Para o presidente do PRTB em Goiás, o estudo do perfil do candidato para as eleições será fundamental e é isso que sua legenda tem feito. O histórico de potencial de voto e a trajetória irão se fazer valer em um resultado positivo no pleito. “Nós temos percorrido todo o estado de Goiás e analisado todos os candidatos nas últimas eleições e alguns candidatos que mesmo não tendo apresentado candidaturas antes mas tem potencial de voto. O mais importante é o conhecimento da política. Política é coisa séria: às vezes falamos de política sem levar a sério. Como nosso resultado foi muito positivo na última eleição, estamos procurando candidatos competitivos”, avalia.

Mesmo com as mudanças na regra eleitoral, desde 2020, Denes Pereira rememora que o partido conseguiu um bom desempenho na eleição para a Câmara Municipal em Goiânia. “Fizemos dois na Câmara de Goiânia. Faltou pouco para fazer o terceiro. O PRTB foi o quinto partido mais votado na capital. Estamos trabalhando numa chapa competitiva, onde 12 a 15 mil votos nós acreditamos que vamos fazer deputado estadual”, destacou.  Com todo o histórico, a meta do partido é eleger quatro deputados estaduais e um federal. “Eu digo sem prepotência e sem proselitismo político que a gente tá acostumado a escutar, sem maluquice ou sonho de presidente de partido”, sacramenta.

Especialista explica

Professor de Ciência Política, Guilherme Carvalho explica que a medida vale para todos os cargos proporcionais, exemplificando o cálculo como baldes que devem ser enchidos. “Cada partido é um balde e você precisa encher os baldes com pedacinhos de britas. As britas são os votos e o partido é o balde. Toda vez que o balde enche, é uma nova cadeira feita para o partido. Então, o cálculo é feito baseado no número de votos feitos, número de britas que encheram aquele balde”, elucida.

“O número de votos válidos no partido divide-se pelo número do quociente eleitoral, ou seja, o suficiente para se fazer uma cadeira igual a cadeira feita ou não feita. Então, basicamente todos os votos do partido sobre o quociente é igual ao número de cadeiras que se faz. Portanto, vamos dizer que o quociente para fazer uma cadeira seja 40 mil votos para a Assembleia Legislativa de Goiás e um partido fez 90 mil votos. Ou seja, ele fez duas cadeiras e sobrou um resto que depois volta e é redistribuído pelos suplentes”, pontua o especialista.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.