02 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 26/07/2020 às 19:33

Nossas avós e as coisas inexplicáveis da vida

A avó deste que vos escreve: foram 90 anos de muitas histórias
A avó deste que vos escreve: foram 90 anos de muitas histórias

Tem algumas coisas que são difíceis de entender. Religiões e crenças tentam explicar há miríades de anos a morte. Algumas falam que nos encontraremos novamente no céu (ou no inferno dependendo do que você faz de ruim na terra). Outras falam na destruição da terra seguido por sua restauração até que tudo aqui seja transformado num paraíso onde reencontraremos nossos entes na ressurreição. E claro tem aquelas que falam sobre a continuidade da vida  por meio de outros corpos em outras gerações. Incontáveis são as versões e credos, mas uma resposta exata e a grande verdade acerca do assunto, pode nunca vir a tona, certo? Na mesa estão postas diversas opções e você pode acreditar na que te conforta mais… No final das contas, a gente aceita com muita dor no coração, tenta entender e toca o barco.

Então, há 9 anos eu perdia minha avó materna. E o coração transbordou tristeza que subiu aos olhos e derramou lágrimas. Dona Manoela foi-se embora aos 90 anos, ainda rindo pelos quatro cantos e tomando uma cervejinha final de semana ou outro. Talvez meu hábito de falar tanto palavrão tenha vindo dela. A velha era desgraçadamente desbocada, serenamente engraçada e boa de copo. 

Dona Manoela ensinou que a gente pode ser alegre com pouca coisa. Aquela senhora tinha um coração enorme. Lutou para conseguir o que queria. Sempre namorou quem quisesse, apesar de ter tido um primeiro casório arranjado, algo comum em entre as mulheres na década de 40. Até que conheceu um italiano que viria a ser meu avô. Seu Vitório que eu não conheci, porque a morte o levou ainda mais cedo, também deve ter lá sido muito feliz e teve duas filhas com Dona Manoela. Deixou história. Suas filhas, hoje, também são avós. À elas, minha mãe e madrinha, eu também tenho todo o carinho do mundo que ainda assim é muito pouco perto do amor que elas já demonstraram.

Há quase uma década perdíamos Dona Manoela e é claro, dor nenhuma no mundo substituí aquela, do dia 3 de novembro de 2012. A morte a levava para lugares que jamais saberemos em vida. Tampouco, precisamos saber. Eu tenho certeza que se ela pudesse falar algo hoje, para mim, e seus outros netos e netas, seria: “não se preocupe com a morte, nem com que há após ela. Faça o bem e viva sua vida, beba cervejas e se cuide, ame e deixe se amar.” O amor que ela tinha, ficou eternizado em meu coração. O amor que compartilhamos, jamais morrerá. 

E à todas os avôs e avós, um feliz dia!

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.