14 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 23/08/2022 às 09:10

No Jornal Nacional, Bolsonaro mira no passado e não apresenta propostas para o futuro

Bolsonaro falou pouco sobre o que fará em sua próxima gestão
Bolsonaro falou pouco sobre o que fará em sua próxima gestão

Na sabatina ao Jornal Nacional exibida nesta segunda-feira (22), mesmo quando indagado sobre o que iria fazer, caso fosse reeleito, Jair Bolsonaro (PL) não conseguiu responder de forma efetiva sobre como seria a condução de seu governo. À princípio, disse a William Bonner e Renata Vasconcellos que iria retomar o que foi feito em 2019, no ínico de seu governo quando deu pontapé à inúmeras reformas mas depois voltou a terceirizar os problemas que enfrentou em outros fatores como a pandemia, conflitos no Leste Europeu e seca no Brasil.

“O que pretendemos fazer? Continuar na política que temos fazendo desde 2019. A grande vacina a favor da economia foram reformas, como por exemplo a da previdência, a Lei da Liberdade Econômica. A normalização das Normas Regulamentadoras. Milhares de normas deixamos de lado e prorrogamos. A grande vacina foi feita em 2019. Fez com que pudessemos suportar 2020. Pegamos 2020 e 2021 e tivemos um saldo positivo de quase 3 milhões de empregos no Brasil”, destacou.

A partir daí, voltou a mirar seus olhos ao que fez durante a pandemia. “Programas como o PRONAMP e o BEM preservaram dez milhões de empregos no Brasil. O próprio auxílio emergencial, num primeiro momento, 600 reais, fez com que a economia em especial nos pequenos municípios, não colapsassem. Essas pequenas medidas fizeram com que pudéssemos romper 2020 e 2021. 2022 veio a Guerra, tivemos problemas”, salientou. 

“Fui a Rússia negociar fertilizante com o presidente Putin. Se não tivesse ido, não teriamos fertilizantes com o presidente Putin, senão tivesse ido, não teríamos para nossa safra no segundo semestre. Isso garantiu a segurança alimentar no Brasil e no mundo”, complementou.

Na prática não disse muito sobre o que seu novo governo vai fazer a partir de 2023. Com a pandemia enfraquecida mas ainda no vácuo, os conflitos internacional vigentes, preço do combustível atrelado ao câmbio internacional e com o ICMS sobre os combustíveis voltando a normalidade a partir de janeiro de 2023. Bolsonaro não esboçou planos para tirar as pessoas da fome.

Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), revelam a existência de 33,1 milhões de pessoas passando fome no Brasil. Mas as estatísticas são mais assombrosas se considerarmos que muitos brasileiros estão comendo menos ou pior, escolhendo alimentos ultraprocessados ou derivados para poderem comer alguma coisa. Neste caso, o número chegaria a 125,2 milhões com algum grau de insegurança alimentar.

Tudo bem, vamos dar um voto a Bolsonaro. William Bonner e Renata Vasconcellos não deram vazão à tais questões. Uma hipotética resposta do presidente poderia mirar o Auxílio Brasil. “Com 600,00 brasileiro não passa forme”, poderia dizer, afinal das contas, o seu filho senador Flávio Bolsonaro veio com esse dias atrás. A verdade é que com uma caixa de leite beirando os 100 reais e o quilo da carne de segunda os 40,00, é preciso muito mais que 5 ‘Auxílios Brasi’s’ para uma família de 5 pessoas.

Não que ele tenha se saído mal. Estava numa posição de conflito. Jornalismo é isso e numa sabatina essa situação é muito mais amplificada. William e Renata pouco contestaram o presidente e poucas vezes o capitão se exaltou. Quem esperava que ele botasse o pé na mesa, xingasse o jornalismo, ameaçasse a concessão da Globo em pleno Jornal Nacional, viu outro Bolsonaro. Mesmo assim, o presidente falou para sua bolha. Disparou mentiras acostumadas a citar em suas transmissões ao vivo e deu um bom material para que sua equipe de comunicação explorasse ao longo do período eleitoral.

Rendeu memes e dúvidas: chegou com colinha na mão e sequer a mencionou. “Nicarágua”, “Argentina”, “Colômbia” e o nome “Dario Messer”. De forma espontânea, ele conseguiu que sua militância fosse ao Google pesquisar sobre o último. 

Conhecido como “doleiro dos doleiros”, o empresário foi condenado em junho em segunda instância pela Justiça Federal a 13 anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro. A condenação foi no âmbito do processo da Operação Marakata, desdobramento da Lava Jato no Rio. Ele ainda é réu em pelo menos mais 5 ações penais na Lava Jato.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.