Ao longo dos últimos quatro anos, o setor do agronegócio e o presidente derrotado Jair Bolsonaro (PL) entraram numa relação de amor que terá data para acabar. “O pessoal do agro me adora”, disse orgulhoso peelista em um dos debates entre presidenciáveis direcionando-se a Soraya Thronicke, do União Brasil. Tamanha a relação entre produtores rurais e Bolsonaro que o bolsonarismo ficou marcado junto ao setor.
Em Goiás, no entanto, um movimento de produtores rurais começa a ganhar contornos antagônicos ao bolsonarismo-raiz. O “Agro pela Democracia” nasceu na reta final do segundo turno declarando já seu apoio irrestrito à então candidatura do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin, do PSB.
LEIA TAMBÉM: Ex-ministra de Bolsonaro defende diálogo com Lula: ”O agro está triste com a derrota”
Capitaneado por Jalles Fontoura, empresário referência no ramo sucroenergético nacional, o grupo logo conseguiu sair das fronteiras goianas e recebeu apoio dos ex-ministros da Agricultura, Neri Geller e Kátia Abreu, ambos do Progressistas que hoje estão na base do presidente Jair Bolsonaro (PL). Prometem, inclusive, aproximar o presidente eleito do setor.
Articulador e trabalhando nos bastidores de todos os acordos, está o ex-presidente do PSDB Jovem, produtor rural e presidente do Sindicato Rural de Nerópolis, Rodrigo Zani. Em entrevista ao Diário de Goiás, o tucano destaca o que pode ser um ato de coragem: desde 2018 não se vendeu ao movimento bolsonarista que se alastrou pelo setor. “No primeiro turno, fiz campanha para o Alckmin. Já no segundo votei, declarei voto e fiz campanha pedindo votos para o Fernando Haddad, do PT”, ressaltou.
De lá para cá, conseguiu movimentar a recriação do Sindicato Rural de Nerópolis. Em 2022, a declaração de voto na chapa petista veio logo no primeiro turno e ao fazê-lo, começou a receber mensagens de todo o interior com o mesmo pensamento. Também descobriu que, assim como ele, outros produtores rurais não haviam vestido a camiseta bolsonarista. Junto com Fontoura, desenhou a criação do “Agro pela Democracia” que hoje já possui mais de quinhentos adesistas.
Um dos focos do Movimento já tem sido ouvir pequenos, médios e grandes produtores e apresentar ao governo de transição uma série de demandas que vão desde o fortalecimento das instituições de pesquisas até às linhas de créditos para a produção que foram deixadas de lado pelo governo Bolsonaro.
“Eu sou produtor de leite, e certa vez eu ouvi de um veterinário que presta assistência na nossa fazenda que é uma pequena fazenda, que o produtor de leite é a profissão mais nobre que existe porque é quem gera o alimento da criança, então acho que o pequeno produtor rural precisa ser olhado com toda a atenção por qualquer governo que seja”, destacou Zani.
Zani vê no governo eleito, uma saída para isso. “Eu tenho a convicção que no governo Lula e Alckmin nós vamos ter toda a atenção que a gente precisa e merece, até pra produzir alimento né numa situação de fome de de miséria que o Brasil se encontra em um pós bolsonarismo é eu acho que nesse momento valorizar o pequeno produtor rural é é também combater a fome no país”, pontua.
Futuro do PSDB
Um dos ex-presidentes mais longevos que a juventude do PSDB teve, Rodrigo aposta que seu partido deve ir para a base do governo Lula. “Eu não faço parte mais da direção estadual do partido, mas se pudesse aconselhá-los é que não fizessem oposição ao governo eleito. É momento de reconstruir o país e o vice da chapa é o Alckmin que apesar de não estar mais no PSDB tem a essência tucana”, pontua.
Questionado sobre o processo de apequenamento do PSDB ao longo dos últimos seis anos, Zani destaca que os próximos quatro anos serão decisivos para a legenda. “Eu acho que seria importante que o partido fizesse no máximo uma oposição crítica ao PT. Não é tempo de dividir mais o país. É momento de unificar e se o PSDB não quiser sair do mapa político deverá agir de maneira estratégica”, salienta.
Zani defende que o partido estabeleça novas lideranças e vê no governador reeleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, um caminho para isso. “Acho que ele e a Raquel Lyra [governadora eleita no Pernambuco] se souberem conduzir, poderão sabiamente conduzir o futuro do partido. O Leite tem a cara do PSDB e poderá ter a expertise para liderar a reconstrução da legenda”, pondera.