07 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 22/09/2021 às 10:25

Mesmo na ONU, Bolsonaro não esquece do cercadinho e eleitorado radical

Pesquisa PoderData revela derrota de Bolsonaro se eleições fossem hoje (Foto: Reprodução/TV Brasil)
Pesquisa PoderData revela derrota de Bolsonaro se eleições fossem hoje (Foto: Reprodução/TV Brasil)

Ao abrir as séries de discursos na Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira (22/09), o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) em vez de estabelecer um panorama aos outros Chefes de Estado sobre os problemas e soluções de políticas públicas no Brasil e mundo mirou em alimentar sua base eleitoral e reforçar as ideias já perpetuadas por seu eleitorado radical.

Na prática, Bolsonaro falou com o cercadinho que diariamente o acompanha no Palácio da Alvorada. O mandatário brasileiro não estava preocupado com a imagem do Brasil frente ao mundo, mas sim, no palanque político que o púlpito da ONU promoveu entre a militância mais extremada.

Os elementos foram os mesmos de sempre: críticas à imprensa, defesa do tratamento precoce e ineficaz contra a Covid-19 além da manipulação de informação em torno da condução à pandemia. Bolsonaro sequer poupou os prefeitos e governadores que adotaram medidas restritivas frente à pandemia, como se apenas no Brasil gestores públicos implantaram, por exemplo, decretos de lockdown parcial.

‘Medidas pífias’

Mesmo quando Bolsonaro fala das medidas econômicas e do mercado internacional, Bolsonaro não apresenta nada que os operadores do capital já soubessem. “Eles acompanham os jornais e sabem do que tá acontecendo. As concessões de aeroportos é uma coisa que em termos de receita gera muito pouco para o Brasil. Ele só pontuou nesse assunto para mostrar que há medidas liberais no Brasil e tenta fazer o discurso para esse mercado internacional mas acabam sendo medidas píficas”, avalia o cientista político e professor Guilherme Carvalho ao Diário de Goiás

Ainda assim, Bolsonaro mostra estar diante de um cenário imaginário que existe apenas no eleitorado radical que reforça o sentimento de salvador da pátria, afinal de contas, como acreditar que “temos os melhores desempenhos entre os emergentes?” e que seu governo “recuperou a credibilidade externa e hoje se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos”? Parece que Bolsonaro falava de algum outro lugar que não fosse o Brasil.

Talvez, quando Bolsonaro fala sobre meio-ambiente, seja o único tema que o presidente altera o tom até aqui, avalia Guilherme. “O que chama a atenção na verdade em tudo é o discurso pró-ambiental que ele faz mudando uma retórica mais inflamada de protecionismo mas que parece um claro aceno aos Estados Unidos de Joe Biden que vem criticando o Brasil sucessivamente pela política ambiental que o Brasil vem adotando. E Bolsonaro adota um discurso mais alinhado ao que as grandes potências querem ouvir do Brasil e aí ele mostra alguns números que não sei de onde ele tirou e que são importantes do ponto de vista para um alinhamento com a proteção ao meio-ambiente que as grandes potências exigem”, pondera.

Carvalho, no entanto, ressalta que este discurso talvez tenha sido o melhor que Bolsonaro fez até aqui, mas que promove incertezas diante dos principais atores internacionais. “De todos os discursos que ele fez foi o melhor do ponto de vista da inflamação do tom. Ele adota um tom ameno mas foi uma que mostra que as bandeiras de Jair Bolsonaro que saiu derrotado no confronto do Supremo Tribunal Federal para o mundo inteiro saber que ele sempre defendeu as bandeiras tradicionalmente e para a política internacional o que ele passa é mais incerteza”, concluí.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.