02 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 19/07/2020 às 18:19

Maradona no México: da desconfiança ao sucesso no Dorados de Sinaloa

Desacreditado em sua apresentação, Maradona levou o Dorados ao vice-campeonato da Segunda Divisão Mexicana
Desacreditado em sua apresentação, Maradona levou o Dorados ao vice-campeonato da Segunda Divisão Mexicana

Quando Diego Maradona chegou em Culiacan para assumir o comando técnico do Dorados de Sinaloa, em 2018, quase ninguém botou fé que uma das figuras mais folclóricas da Argentina pudesse dar certo naquele time. Primeiro que a cidade não leva o futebol muito a sério, preferindo assistir jogos de beisebol. Não bastasse isso, no futebol, o Dorados estava na penúltima posição do Campeonato Mexicano da Segunda Divisão. Terceiro porque, Maradona nunca fez grandes campanhas como treinador de futebol. 

“Ninguém levou Maradona a sério como treinador. Ele foi um grande jogador e tentou ser treinador mas não teve uma carreira de sucesso. E a única coisa que fazia era esconder por trás da imagem de treinador seus grandes problemas pessoais”, disse o jornalista da ESPN, David Faitelson à equipe de produção do documentário “Maradona no Mexico”, disponível na Netflix e que narra as aventuras do hermano em solo mexicano.

Quarto, porque é impossível não relacionar Sinaloa, ao mercado das drogas, afinal, é o lugar onde um personagem central no tráfico internacional Joaquin “El Chapo” Guzman comandou um dos mais importantes cartéis do mundo e é complicado não relacionar Maradona ao que seria uma mácula em sua carreira – a cocaína. “As drogas. Sempre penso que jogador eu teria sido se eu não tivesse usado drogas”, reconhece o próprio ao falar sobre o que ele poderia revisionar na sua história.

Maradona conseguiu armar uma equipe ofensiva e que impunha respeito aos adversários

Com todo esse cenário, era difícil acreditar que Maradona no Dorados não passaria de puro marketing barato para levantar por algum tempo, tanto à imagem daquele time até então fracassado em uma das últimas posições da Segundona e do próprio Armando. Não foi.

Maradona conseguiu implantar uma filosofia daquela Argentina oitentista que consagrou a seleção campeã do mundo em 1986 e pouco-a-pouco foi aglutinando resultados positivos. Contra os críticos, corneteiros torcedores e o seus próprios fantasmas, Maradona fez uma campanha absurdamente incrível à frente do Dorados. No time em que o aclamado Pep Guardiola encerrou a carreira em 2006, por pouco Maradona não o devolveu à Primeira Divisão. Da penúltima posição, perdeu o título e o acesso numa final derrotada para o Atlético San Luis. No regulamento extremamente confuso do futebol mexicano, apenas um time sobe para a principal divisão do país.

Por recomendações médicas, Maradona pediu demissão ao final da temporada, em junho de 2019. Desacreditado em seu começo mexicano, retornou à Argentina ídolo no México. “Maradona no México” é mais um investimento da Netflix no futebol e narra a trajetória de quase um ano que levou El Pibe da desconfiança à redenção no futebol mexicano.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.