O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) parece estar desesperado. Não é que precise estar. As urnas eletrônicas o elegeram sucessivas vezes para seus mandatos como deputado federal e o colocaram no cargo que ocupa hoje. Se Bolsonaro acha que tem a popularidade que tem, não precisa colocar em xeque todo o sistema que elegeu ele e toda sua família.
Acontece que ao ameaçar a realização das eleições em 2022 ele já anuncia um possível golpe com um ano de antecedência ao pleito. Talvez isso seja novidade. Que país no mundo um presidente agiu da mesma forma? O ex-presidente norte-americano Donald Trump também insurgiu seus asseclas. Deu no que deu. Vitória de Joe Biden, violência na Casa Branca mas a democracia norte-americana “foi restabelecida” e o republicano temporariamente sumiu do mapa e hoje é flagrado esporádicamente jogando golfe e envolvido na criação de uma rede social.
Bolsonaro tenta convencer seus seguidores de que as pesquisas eleitorais são uma fraude quando na realidade, está desesperado com elas. Mente ao dizer que a DataFolha não o colocava como vencedor em 2018, quando na realidade, as pesquisas sempre indicavam a vitória do capitão da reserva: o único cenário que perdia, era com o pedetista Ciro Gomes. No segundo turno. O resto é fake news barata de whatsapp compartilhada na base de apoio do presidente.
Ao mesmo tempo que as pesquisas indicam uma ascensão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida eleitoral, elas também mostram que boa parte dos brasileiros acham que Bolsonaro tem culpa no cartório com relação à condução da pandemia. Ao longo da pandemia, Bolsonaro minimizou frequentemente os riscos do coronavírus, além de promover tratamento sem eficácia, tentou sabotar iniciativas de vacinação e combate à doença lançadas por governadores em resposta à inércia do seu governo na área.
A CPI que tramita no Senado investiga a má gestão de todo esse contexto além de suspeitas de corrupção na compra de vacina. 46%, do eleitorado brasileiro, segundo a pesquisa DataFolha publicada nesta sexta-feira, consideram que Bolsonaro é o grande culpado por todo esse cenário.
O desesperado Bolsonaro agora tenta criar uma série de cortinas de fumaças para desviar o foco de sua incompetência. Ontem escrevi sobre isso aqui. O professor e cientista político Robert Bonifácio resumiu muito bem o que o presidente da República pretende: ‘bagunçar tudo que está aí’, parafraseando um jargão do próprio capitão. ““Um dos objetivos que possui [Bolsonaro] ao defender o voto impresso é bagunçar o campo político visando deslegitimar o futuro possível resultado eleitoral desfavorável a si. Tal como ocorreu nos EUA, penso que há chances de no Brasil haver uma tentativa de golpe democrático caso Bolsonaro não vença as eleições de 2022”, pontuou o pesquisador.
Agora há algumas perguntas que devem ser respondidas: se Bolsonaro insuflar contra o sistema vigente no Brasil, o que ocorrerá? As instituições são fortes o suficiente para freá-lo? A democracia no Brasil está em xeque? Vivamos para ver 2022.
(Domingos Ketelbey é jornalista e editor do Diário de Goiás. Este é um artigo de opinião pessoal e não reflete a opinião do jornal)
Domingos Ketelbey
Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.