23 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 15/11/2020 às 08:16

Eleitor em Goiânia quer ver políticas públicas aplicadas e prefere candidatos experientes

Última pesquisa Ibope aponta Maguito na liderança empatado técnicamente com Vanderlan; haverá segundo turno em Goiânia
Última pesquisa Ibope aponta Maguito na liderança empatado técnicamente com Vanderlan; haverá segundo turno em Goiânia

Neste domingo (15/11), o eleitor em Goiânia irá se dirigir à urna para escolher os novos representantes para a Câmara dos Vereadores e também o próximo prefeito de Goiânia. Com o anúncio da aposentadoria do atual prefeito Iris Rezende (MDB) as articulações para quem pudesse substituí-lo foram aos montes. “Nunca antes na história dessa cidade”, parafraseando certo ex-presidente, viu-se tanto candidato à prefeito. São quinze. E tudo indica, que a disputa está em umapolarização nem tão diferente assim. Ex-prefeitos de cidades metropolitanas, Vanderlan Cardoso (PSD) e Maguito Vilela (MDB) devem ir ao segundo turno, caso se confirme as projeções das pesquisas de intenção de voto publicadas até aqui.

Na primeira pesquisa Serpes publicada pelo Jornal O Popular no dia 26 de setembro, Vanderlan Cardoso aparecia na ponta com a delegada Adriana Accorsi e Maguito Vilela empatados tecnicamente na segunda e terceira posição. Era um resultado animador para a petista. Nem tanto assim para o ex-governador do Estado. A deputada comemorou. “Fiquei muito feliz com o resultado da pesquisa e honrada de ser lembrada assim. Ainda falta muita coisa para acontecer, mas é um bom início para nós. É importante saber que boa parte da população já considera que somos o melhor nome para cidade”, disse ao Diário de Goiás

De fato, era só o ínicio e o que se viu depois disso, foi uma estagnação da petista que aparecia sempre na terceira posição, sem incomodar Vanderlan e Maguito. O emedebista apenas crescia. A percepção que se tem é que Adriana não consegue converter mais votos além da bolha que já votava no PT desde sempre. “O caso da Adriana é interessante. Se tivesse em outro partido, ela com certeza teria uma proporção de voto maior e com isso, mais perto do segundo turno. O anti-petismo ainda está forte num estado que tem uma aprovação ainda muito grande ao bolsonarismo. Isso a atrapalha”, pontua ao blog o professor de Ciência Política, Guilherme Carvalho.

Se no fim de setembro, Vanderlan estava isolado à frente nas pesquisas, o que se viu ao longo da campanha atípica por conta da pandemia – e bastante curta – Maguito se aproximou e ao longo desta semana, ultrapassou o ex-prefeito de Senador Canedo o que foi comemorado por líderes emedebistas. O presidente do MDB em Goiânia chegou a dizer que o partido está preparado para vencer as eleições no primeiro turno. Vanderlan parece não se incomodar. “Mas em 2018, eu tava em quarto ou quinto lugar para o Senado Federal e cheguei em primeiro”, disse neste sábado (14/11) em ato que encerrou a campanha no primeiro turno. 

A ‘nova política’ foi engolida?

Maguito Vilela tem mais de 40 anos na vida pública. Já foi governador do Estado de Goiás, prefeito de Aparecida de Goiânia por dois mandatos consecutivos e senador da República. Vanderlan Cardoso também por duas vezes esteve à frente de Senador Canedo. Já tentou ser alçado ao Paço Municipal e ao Governo do Estado. Há dois anos, está no Senado Federal. 

Há quem fale em ‘renovação política’. Um discurso que tem ganhado força nos últimos anos. “É preciso renovar o que tá aí”… “É preciso mudar o que está aí”. Para o consultor em comunicação e marketing político, Marcos Marinho, esse é um discurso engolido por ele mesmo. Ainda mais quando se trata das eleições municipais. “Esse discurso da renovação política vem ecoando já há algum tempo. Pelo menos há uns cinco anos que vem ganhando mais ênfase”.

Marcos reforça que no fim das contas, o eleitor não vai confiar a prefeitura da sua cidade em alguém que não conhece, por mais boas intenções que esse candidato possa ter. “Você vai sempre olhar para pessoas que já conhece. Quando você sabe que o candidato já fez e atuou bem aqui e ali, você vai confiar mais nele. É muito complicado jogar a prefeitura da sua cidade nas mãos de alguém que você não conhece o know-how da pessoa. Eu imagino que isso começa a atrapalhar essa renovação”, pontua.

Especialista em comunicação na política, Marcos Marinho também aqueles que representam a ‘nova política’, sequer estão preparados para a exposição de sua imagem. “Como não há de fato, para uma boa parte desse pessoal que tá entrando na política, um preparo, não entram preparados para exposição de imagem, reverberar sua imagem, conquistar espaço. Como não tem esse preparo, ela entra, e já engolida porque tem gente que tá lá reverberando a mais tempo.”

A onda conservadora minguou

O que Marcos cita talvez explique um pouco o porquê candidatos que levantam as bandeiras conservadoras e vestem a roupa patriótica bolsonarista estejam minguando nessas eleições municipais. O fenômeno Bolsonaro em uma cidade que o elegeu com 74% das intenções de voto não foi visto nesta campanha. Os candidatos podem até espernear e dizer que os levantamentos são fajutos, que é tudo comprado e todo esse quid pro quo delirante. 

“Uma coisa que eu sempre falo é que a diferença das eleições municipais, em nível estadual ou federal, é muito grande. O eleitor do município ele está muito ligado nas pautas cotidianas. Buraco na rua, falta de médico. ENtão, há pouco espaço para pautas mais radicais, conservadoras e morais que o Bolsonaro usou. Não cabe apenas esse discurso. Você não consegue atrair e gerar nelas a crença que você vai resolver esses problemas. Porque pauta moral para tapar buraco de rua não acontece”, explica Marinho.

O argumento é endossado por Guilherme. “Tradicionalmente, eleições municipais não são pautadas por polarização ideológicas, mas por políticas públicas. São as eleições de maior qualidade que nós podemos ter porque na dinâmica nacional é natural que tenhamos polarização ideológica”. O cientista político reforça que as pessoas numa campanha municipal estão focadas em soluções para infra-estrutura da cidade. “As pessoas na eleição municipal querem discutir se a rua está asfaltada, como está a condição do saneamento básico, apesar de não ser atribuição da prefeitura desenvolver grandes obras nesse sentido. Prefeitura cuida de infra-estrutura, de segurança nas praças e parques municipais”.

E é isso que um prefeito deve focar: nas soluções inteligentes para uma cidade ter praças seguras, um asfalto transitável, a mobilidade acessível não apenas aos carros, mas também ao pedestre e aos que querem andar com segurança em suas bicicletas. Poder sair com sua família de forma tranquila à noite, sem ser incomodado. E neste sentido, Vanderlan e Maguito parecem ter a confiança da população para executar tais tarefas. O eleitorado municipal não quer saber de discursos marcanthistas e delirantes sobre o comunismo em Goiânia. 


A pandemia favorece nomes conhecidos

O doutor em Ciências Políticas, Lucas Okado que pesquisa comportamento político e a opinião pública explica que o eleitor deve separar bem as atribuições de um prefeito. “Questões sobre aborto, porte de armas, casamento homoafetivo não está na alçada do prefeito. O que importa agora são outras questões como saúde, educação, asfalto.”

Okado explica que a nova política foi uma ‘onda’ e Bolsonaro a impulsionou. “Esse fenômeno está atrelado ao colapso do sistema partidário motivado pelo desgaste dos dois principais players que protagonizaram as disputas nacionais desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, o PT e o PSDB”. No campo das eleições municipais, isso não está tão definido assim…

E mais do que isso. Lucas dá um outro tom para nomes antigos da política goiana serem protagonistas dessas eleições: a pandemia. “As eleições foram adiadas, o contato entre o eleitor e o candidato se reduziu e o período eleitoral está sendo mais curto. Isso favorece os candidatos que são conhecidos, logo políticos de carreira possuem vantagem sobre outros postulantes”, pontua.

Há poucos dias, entrevistei o ex-prefeito de Goiânia, Pedro Wilson, que nessas eleições concorre a vice na chapa da delegada Adriana Accorsi (PT). “As ideias se renovam, a idade vai avançando”, disse ele em uma de suas longas respostas. A pergunta era sobre o porquê aos 78 anos retomar à uma campanha política. Wilson destacou que estava sempre em Congressos e Fóruns sobre meio-ambiente se atualizando e aprendendo.

Iris Rezende (MDB) no alto dos seus 86 anos quis se aposentar. Dessa vez ele não desistitu de desistir a aposentadoria. Sairá da vida pública aprovado por 67,5% dos goianienses, em levantamento publicado no fim de outubro. A tendência é a aprovação aumentar até entregar o cargo em janeiro de 2021. Inúmeras críticas podem ser atribuídas ao mandatário goianiense mas não por sua idade. Quem o faz por este lado, ou o faz por ignorância ou por mero recalque.


Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.