Principal via que cruza a região Leste ao Oeste de Goiânia e ainda tem extensões para três cidades da região metropolitana, o Eixo Anhanguera completa 45 anos em 2021 sem ter o que comemorar. Não bastasse as condições asfálticas precárias, alvo de uma disputa judicial, as plataformas e estações seguem o caminho do desmantelo.
Sem uma reformulação e investimentos à vista, os passageiros e motoristas sofrem com incontáveis irregularidades ao longo do Eixão e os próprios ônibus da companhia vão se deteriorando. A frota da companhia Metrobus é composta por 88 carros adquiridos em 2011 e outros 46 em 2014. Com uma década andando em uma via caótica, os mecânicos da estatal têm de se virar para arrumar as quebras a tempo de não comprometer a operação.
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De acordo com a companhia, três veículos tiveram princípio de incêndio em 2021, mas um levantamento mais antigo, feito pela própria empresa em setembro de 2018 mostrava que os ônibus passavam aproximadamente 70 vezes durante a semana pelo departamento de manutenção em decorrência de quebras provocadas pelo pavimento asfáltico do Eixo Anhanguera. Isso significava pelo menos nove veículos que retornavam ao pátio da estatal para algum reparo. O monitoramento restringia as quebras à freios, problemas com suspensão e pneus.
A pedido do Diário de Goiás, a Metrobus não atualizou os números em torno das manutenções, apenas respondeu que quando um veículo apresenta algum problema “o mesmo é substituído e é feito um ajuste na programação de horário para minimizar aglomerações nas plataformas e terminais. Portanto, embora possa haver problemas nos veículos por conta da pavimentação da via, nenhum deixa de rodar por um dia todo.”
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Reportagem fotográfica do DG esteve pelos 14km de todo o Eixão e flagrou quebras nos guard-rails da via, plataformas em estado de deterioração, ônibus com a lataria em estado crítico e asfalto em condições degradantes. Veja abaixo na galeria:
Motorista que dirige há anos no Eixo Anhanguera e topou falar com a reportagem do Diário de Goiás sob anonimato disse que a situação é crítica. “Tem lugares que se não tomar todo o cuidado corremos o risco de provocar acidentes. Por exemplo: há tantas irregularidades na entrada do Shopping Cerrado que se dois motoristas que se cruzam acabarem se descuidando é acidente na certa”, pondera. Questionado quais os piores trechos ao longo da via, o motorista brincou: “Saiu do Terminal Padre Pelágio até o Novo Mundo não tem nada bom”
Ele diz que mesmo com pequenas manutenções que vez por outra a empresa faz, sem uma reforma na pavimentação completa os problemas irão continuar a aparecer. “O Eixo Anhanguera não tem mais tantos buracos. O problema é outro: é que o asfalto está todo irregular, muitas ondulações, precisa de uma reforma geral. Não é só fazer reparos como costumam fazer. É uma reforma geral, enquanto isso não acontecer, não vai para frente”, pontua.
Em 45 anos, o Eixo Anhanguera viu frotas diferentes serem renovadas pelo menos três vezes durante as últimas décadas. A maior parte da frota que circula na via não é renovada há dez anos. Apesar de um aporte de 46 milhões que a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás aprovou recentemente, o futuro da empresa é incerto frente à pandemia. Hoje transporta em média 100 mil pessoas. Até 2018, a média era de 300 mil pessoas. O que era para ser um sistema exemplo para o mundo, hoje luta para sobreviver e dar o mínimo de atendimento aos passageiros que todos os dias utilizam o transporte coletivo da Região Metropolitana.
Prefeito reconhece situação de degradação e diz que busca solução
Apesar da concessão do Eixo Anhanguera ser municipal, ela é tocada pelo estado por meio da Metrobus. Mesmo assim, o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) acompanha o debate em torno das melhorias para a operação de perto. E reconhece que o serviço está longe de ser dos melhores.
Para minimizar os danos, o republicano busca junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional recursos para uma revitalização da via. “ Mas isso é um processo que demora um pouquinho, pois isso depende de termos jurídicos uma vez que a Anhanguera é do município mas está cedida ao governo do Estado, devido o Eixo fazer uso da Metrobus, que é do Estado”, pontua.
O republicano diz que está em constante diálogo com o governador Ronaldo Caiado (DEM) a respeito do futuro da via, além das respectivas equipes técnicas entre município e governo estadual. “Essa conversa está muito adiantada e acredito que muito em breve poderemos ter mais uma novidade na mobilidade de Goiânia em conjunto com o governo do Estado”, conclui.
Avenida já foi a mais bonita da cidade; Hoje é a mais feia, avalia presidente do SET
Que o serviço é ruim e o atendimento caótico até o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes Coletivos da Região Metropolitana de Goiânia (SET) reconhece. “O Eixo Anhanguera que no passado foi a Avenida mais bonita da cidade de Goiânia, hoje é a mais feia. O serviço acaba ficando degradado porque não tem uma boa estrutura, seja no pavimento, nas estações, no Terminal e sem dúvidas, precisa de uma reformulação completa dos serviços no Eixo Anhanguera”, destaca.
Adriano lembra que há mais de 20 anos o Eixo Anhanguera não vê uma reforma. “Já são mais de 20 anos que não existe praticamente nenhum investimento na infraestrutura, apenas houve a troca da frota que já está avançada. Por tudo isso, precisa sim, de uma grande solução para o Eixo Anhanguera.”
Para ele, o futuro é buscar uma solução que não apresente apenas uma solução de transporte, mas também urbanística ao Eixo Anhanguera. “Tem que se pensar numa solução muito boa e uma solução que a gente defende é uma solução que de fato dê uma vida nova sob o ponto de vista urbanístico. Goiânia iria agradecer muito se tivéssemos um projeto novo que privilegiasse o transporte mas que devolvesse à Avenida Anhanguera uma inserção urbana positiva para a cidade”, avalia.