05 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 06/06/2021 às 17:34

Copa América no Brasil: para quem diz que política não se mistura com futebol

O presidente da República, Jair Bolsonaro ao lado do mandatário da CBF, Rogério Caboclo (Foto: Lucas Figueirado/CBF)
O presidente da República, Jair Bolsonaro ao lado do mandatário da CBF, Rogério Caboclo (Foto: Lucas Figueirado/CBF)

A tentativa de intervenção do Governo Federal na seleção brasileira diante da realização da Copa América faz parecer que as prioridades estão às avessas. Se Bolsonaro e sua equipe ministerial agissem com a mesma celeridade e empenho com relação à pandemia, o Brasil talvez não fosse chacota mundial na condução da crise sanitária. Demorou um ano para o Ministério da Saúde começar a patrocinar testagens ampliadas no país, além de diversos e-mails não respondidos às fabricantes de vacinas. 

Ameaçam até demitir o treinador Tite. Se isso acontecer, revisaremos um episódio da ditadura militar. O presidente do Brasil, Emílio Médici queria ver Dadá Maravilha entre os convocados. O treinador João Saldanha que já havia denunciado a tortura em solo brasileiro promovida pelo regime à imprensa mexicana, recusou-se a atender o desejo do general. “Nem eu escalo o Ministério, nem o Presidente escala time”. Foi preterido por Zagallo às vésperas da competição.  

(Em tempo, enquanto esse texto era publicado, o presidente da CBF, Rogério Caboclo era afastado do comando da entidade)

Seria motivo de orgulho para nós, socorrer o evento, caso qualquer outro país não pudesse realizá-lo. Mas não é o caso. Não custa nada lembrar aos cartolas do futebol e gestores estaduais e federais: o Brasil vive um momento de celeiro das variantes do coronavírus. Estudos indicam que a variante manauara, tem uma velocidade maior de contágio, e, consequentemente, mais letal. Há três meses, a média móvel de mortes no Brasil ultrapassa os 2 mil óbitos e nem precisa destacar que estamos à beira do meio milhão de vidas perdidas. 

Na velocidade atual do contágio, 500 mil vidas ceifadas serão anunciadas durante a realização do evento. Como comemorar um título diante desse cenário? Não há clima. “Mas as partidas da Libertadores, Sul-Americana e Eliminatórias estão sendo realizadas”, alguns tentam defender. 

Nenhuma dessas competições reúne num mesmo lugar, viajando entre as mesmas fronteiras, por um mês, 10 delegações de países diferentes, sem contar a delegação da Conmebol. Mesmo com testes e a vacinação em massa de toda a trupe, o cenário é nebuloso. Lembre-se: pesquisadores e autoridades sanitárias veem um perigo as variantes que podem ser produzidas em solo brasileiro, além da “de Manaus”, que já circula por essas bandas.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.