31 de agosto de 2024
Publicado em • atualizado em 21/07/2021 às 20:12

Candidato a prefeito em 2020, Fábio Júnior vai para o PT somar forças por Lula em Goiás: ‘Momento decisivo para lutar contra Bolsonaro’

(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)

Prestes a migrar formalmente para o Partido dos Trabalhadores (PT-GO), o candidato à prefeito pela Unidade Popular (UP) nas eleições 2020 em Goiânia, Fábio Júnior, olha para o cenário nacional e o efeito Lula para justificar a mudança partidária. Nesta quinta-feira (22/07) em encontro com a deputada estadual Adriana Accorsi (PT) o líder estudantil e popular irá sacramentar a filiação. No ato simbólico, outras jovens lideranças e influenciadores digitais também ingressarão na sigla. 

Em entrevista ao Diário de Goiás, Júnior destaca que pesou, no momento, fortalecer o projeto nacional que quer viabilizar a candidatura e volta ao Palácio da Alvorada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ao invés de criar outros campos, a minha ideia principal neste momento é de justamente fortalecer a candidatura do Lula em Goiânia, entendendo que vai ser um momento decisivo, como liderança de um setor de esquerda e influenciador nesse setor esquerda, colocar o pessoal para estar na democracia nesse momento até as eleições do ano que vem é fundamental.”

O líder popular também rememora sua campanha à prefeitura de Goiânia. “Com poucos recursos”, frisa e não descarta o retorno ao pleito em 2022 em uma campanha para a Assembleia Legislativa ou até mesmo a Câmara dos Deputados, em Brasília. “Pretendo ouvir a opinião do Partido dos Trabalhadores”, comenta. O momento agora, é de união contra um governo que em suas palavras é criminoso. “A gente tá lidando com o crime, com as milícias, o aparelhamento do estado.” Novos nomes devem somar forças a legenda petista em breve.

Leia a entrevista na íntegra com o ex-candidato a prefeito de Goiânia, Fábio Júnior (PT):

DG: Você foi um dos responsáveis pela fundação do UP, tem uma ligação muito forte com o partido que se lançou prefeito nas eleições em 2020. Nas redes sociais, o anúncio pegou muita gente de surpresa. O que te faz decidir migrar de partido nesse momento?

Fábio Júnior: Na verdade, passa por uma análise a nível nacional. A gente vê que essa polarização entre os bolsonaristas e entre o campo que defende o presidente Lula ela vem crescendo e é uma polarização que na prática coloca um pessoal autoritário, esse setor bolsonarista, que vem tentando de alguma forma aparelhar o estado, as polícias e dar um golpe e do outro lado um mais democráticos, que é composto por instituições, movimentos sociais e defendem a retomada de um projeto nacional e nesse sentido, eu acho que para as lideranças de esquerda pesa muito não tomar parte nesse momento de polarização. Ao invés de criar outros campos, a minha ideia principal neste momento é de justamente fortalecer a candidatura do Lula em Goiânia, entendendo que vai ser um momento decisivo, como liderança de um setor de esquerda e influenciador nesse setor esquerda, colocar o pessoal para estar na democracia nesse momento até as eleições do ano que vem é fundamental.

DG: Junto com você, estão indo outros nomes da UP para o PT?

FJ: Eu não me articulei dentro do partido para retirar pessoas porque acho uma prática equivocada, mas logicamente, é o sentimento de outras pessoas que devem trilhar o mesmo caminho. A minha influência por conta das eleições vai para fora do partido, então, nesse momento eu tenho tentado atuar com pessoas que estavam orbitando no partido por conta da minha figura para conseguir criar um local e ter um poder de influência decisivo para influenciar nas eleições.

DG: Para 2020, você projeta entrar em uma nova campanha?

FJ: É provável. Para além da campanha do Lula eu acredito que vou somar em alguma campanha do Partido dos Trabalhadores. Não basta só a gente eleger o Lula, é necessário que ele tenha condições de governar.

DG: Você entraria na coordenação de alguma candidatura ou colocaria seu nome à disposição para o pleito como deputado estadual ou federal?

FJ: Eu pretendo ouvir a opinião do próprio Partido dos Trabalhadores mas eu tenho disposição para ser candidato também.

DG: Na primeira pesquisa Serpes do ano passado, você apareceu com uma intenção de voto muito boa o que serviu de base para você participar do primeiro e um dos debates mais importantes daquele pleito – o único com participação do candidato vencedor Maguito Vilela, que veio a óbito na sequência por complicações à Covid-19. Mas no fim das contas teve 1.052 votos ficando em 14º lugar. Quase um ano depois, como avalia sua campanha? O que teria mudado?

FJ: Eu analiso dois fatores como os principais: o primeiro foi a falta de estrutura financeira. Fizemos metade da campanha praticamente entregando jornais do partido porque não tinhamos dinheiro para rodar santinhos, a gente teve de esperar o fundo eleitoral chegar. Uma vez que ele chegou o material escoou muito rápido e a gente ficou sem. Do ponto de vista de campanha, ter visibilidade, alcançar pessoas, a gente não conseguiu fazer o mínimo que precisávamos para uma eleição para a Prefeitura. A gente operou uma campanha com um valor mais ou menos na faixa dos 10 mil reais, considerando prefeitura e as três candidaturas a vereanças, enquanto pessoas que tiveram mais votos que eu gastaram em torno de 1 milhão, como o exemplo do Thalles Barreto, do PSDB. Então, essa questão financeira nas eleições pesa muito e a gente entende que foi afetado por ela por não emplacar nossa campanha na rua. 

Outra questão que eu acho importante foi o crescimento da Adriana Accorsi (PT, 3º colocada nas eleições em 2020 à prefeitura) porque querendo ou não o meu eleitor é semelhante ao eleitor dela e no momento de afunilar quem poderia ir para o segundo turno houve uma migração pragmática dos votos que é algo que eu nem enxergo com maus olhos, porque seria melhor ter a Adriana Accorsi no segundo turno do que ter um segundo turno como aquele entre Maguito e Vanderlan, sendo o vice do Maguito alinhado ao bolsonarismo e o Vanderlan também. Houve um voto pragmático no final e não só no primeiro turno. Uma pena não termos conseguido ter competitividade suficiente para conseguir puxar esses votos pragmáticos e se colocar como uma alternativa.

DG: Nesse sentido, como vê a gestão do Rogério Cruz frente a prefeitura de Goiânia?

FJ: Eu acho que a Prefeitura tinha que aparecer mais. O Rogério Cruz tinha de ter posições mais claras. Existe uma confusão muito grande na Prefeitura até porque tentam combinar o plano de governo do Maguito com o perfil do Rogério Cruz e a impressão que fica é que entre um programa e outro a prefeitura fica tímida e invisibilizada em certos sentidos. Tem feito pouco ou aparenta fazer muito pouco, sobretudo com essa crise na pandemia, acho que a Prefeitura não tem conseguido ser vanguarda no sentido de dar soluções, como tem feito outras prefeituras, como Eduardo Paes, no Rio e outros prefeitos que tem conseguido levar mais vacinas e se articular para que a Prefeitura possa ter um papel de vanguarda no combate ao virus.

DG: No fim das contas você vai para o PT que defende um grande projeto nacional suprapartidário. Lula já se reuniu com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e José Sarney, do MDB, além de outros figurões da política nacional como o próprio prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PSD. Como vê a possibilidade de você e seu partido dividir palanque com essas legendas que até apoiaram o impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff, em 2016?

FJ: Eu acho que neste momento, temos que fazer o que for necessário para derrotar Bolsonaro. Se for necessário sentar com esses partidos mais ao centro para conseguir um esforço nacional. A gente tá lidando com o crime, com as milícias, o aparelhamento do estado. Esses partidos são fisiológicos e vão para o lado que estão tendo mais força. Logicamente com a volta do Lula esses partidos vão atrás. Os ratos não só abandonam o barco no momento que ele está afundando, eles também entram na hora do embarque junto com as pessoas. 

DG: Quais nomes você consideraria bons, neste momento, para pavimentar a candidatura ao Governo de Goiás no campo da esquerda ou no próprio PT?

FJ: Eu acredito que tem três nomes no PT bons para disputar o pleito. Dois dentro do partido e outro fora mas que poderia voltar. A deputada estadual Adriana Accorsi e a presidente da legenda, professora Kátia [Maria]. O que está fora do PT é o professor Edward Madureira, reitor da UFG. Acho que seriam bons nomes que poderiam representar o partido.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.