23 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 10/09/2021 às 21:45

“Breque dos Apps”: Entregadores prometem interromper entregas dia 11 de setembro

Alegando insatisfação com relação às altas taxas que os aplicativos cobram, o alto preço do combustível, além da precarização do trabalho acentuada durante a pandemia do novo coronavírus, os entregadores de aplicativo prometem paralisar o serviço de entregas entre o dia 11 de setembro e o dia 12 de setembro. A paralisação é nacional e alcança todas as empresas de delivery.

Uma liderança do movimento de entregadores que falou com o Diário de Goiás sob condição de anonimato, para evitar retaliações do aplicativo, explicou que entre outras demandas está um ponto de comunicação em Goiânia para resolução de possíveis problemas. “A gente não consegue contato com o Ifood. O entregador não consegue falar com o Ifood para resolver um problema que o entregador tem na sua conta ao decorrer do dia”. 

Prevenção a Covid-19

Já são um ano e meio de pandemia da Covid-19 e os entregadores alegam que os aplicativos pouco fizeram para proteger os trabalhadores. “O iFood entrega por mês um frasco com 500ml de álcool em gel que mal dá para uma semana de utilização”, destaca o líder. 

A precariedade para se trabalhar em meio à uma pandemia provoca medo nos entregadores. “Em todos os decretos da Prefeitura de Goiânia, o serviço de entrega por aplicativo foi considerado essencial. Nós somos trabalhadores da linha de frente e as empresas nada fizeram para nos ajudar. Trabalhamos com medo”, reforça.

Mesmo com a vacinação, o iminente avanço da variante Delta preocupa. “Os vacinados são os que mais tem receio. Queremos uma posição mais firme do iFood”, pontua que não sabe mensurar óbitos mas crava: “A maioria dos entregadores em Goiânia já foram infectados e passaram por muitas dificuldades”.

Altas taxas e três anos sem reajuste

As altas taxas que o aplicativo cobra também estão na pauta da manifestação. É que há três anos não existe reajuste. “Em algumas ocasiões, pagamos para trabalhar”, pontua o entregador. “Nossas taxas estão defasadas a quase três anos. A gasolina, no preço que está, não conseguimos nos manter trabalhando nas ruas.” A pauta do valor do combustível também estará presente na manifestação. 

Não há amparo e alguns trabalham em regime dobrado para conseguir seu sustento. “Trabalhamos 15 horas diárias, sem amparo do APP, sem direitos trabalhistas e ajuda de custo. Todo custo é por nossa conta!”

Fim das rotas agendadas

Uma ferramenta que gerou insatisfação nos motoristas de aplicativo foram as rotas agendadas. Adotada pelo iFood, elas obrigam que o entregador determine sua escala e a cumpra do começo ao fim. Caso ele saia desta rota, o trabalhador pode até ser punido. “Queremos o fim dessas rotas agendadas. Hoje o iFood determina que o entregador agende as rotas para trabalhar. Ele nos obriga a agendar os horários para trabalhar e cumprir essa escala agendada. Se não cumprir a escala, a retaliação. A conta fica ruim, ele gera bloqueios de 48 horas”.

Retaliação como resposta

Não bastasse toda a precariedade relatada, os motoristas de aplicativo ainda sofrem pressão e medo de retaliação por contarem o cotidiano. Entregadores ouvidos pelo Diário de Goiás só quiseram gravar entrevistas após garantia de anonimato. “Não aconteceu com um nem dois. Vários entregadores que falam com a imprensa acabam sendo banidos permanentemente das empresas”, destaca.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.