05 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 30/04/2021 às 20:49

Brasil, Covid-19 e as 400 mil mortes: “Que Deus tenha misericórdia desta nação”

O Brasil beira a marca das 540 mil vidas perdidas pela Covid-19 (Foto: Amazônia Real)
O Brasil beira a marca das 540 mil vidas perdidas pela Covid-19 (Foto: Amazônia Real)

Mais de cinco anos se passaram desde que o deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB) disse “sim” para o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Ao anunciar seu voto rogou que Deus tivesse misericórdia do Brasil. Num lance que não durou mais que 5 segundos, entrou para os anais da política brasileira. O caminho estava pavimentado para a deposição da petista. “Que Deus tenha misericórdia desta nação. Eu voto sim.”, anunciava.

De lá para cá muita coisa mudou e os tempos são outros. Cunha perdeu seu mandato, foi preso e teve sua prisão revogada. O MDB já não é mais PMDB e o Brasil elegeu o deputado federal, Jair Messias Bolsonaro como presidente da República. Em todo esse contexto, uma pandemia no caminho: ontem (29), o Brasil ultrapassava as 400 mil mortes. Hoje (30) são 2.595 novos óbitos que se acumulam: 403.781 no total.

Com o descontrole pandêmico, o Brasil enxerga na vacinação uma de suas únicas saídas para o caos. Levantamento feito pela Universidade de Oxford e publicado no Estadão mostra que Brasil é o segundo país do mundo com população acima de 20 milhões de habitantes com mais mortes por covid-19 por milhão, o chamado coeficiente de mortalidade ou simplesmente mortalidade. Mas esse contexto não sensibiliza o presidente da República que desdenha das mortes e brinca de aglomerar em eventos e campinhos de futebol aos domingos.

Não bastasse isso, ainda insiste no malfadado kit covid, um tratamento precoce sem qualquer comprovação científica. Único lugar no mundo que se fala de tal sandice: Brasil. Patrocinado por médicos alinhados ao presidente da República e o chefe de estado. Mas hoje (30), a Justiça de São Paulo proibiu a promoção do tal kit-milagreiro pelo Governo Federal. 

Caso Bolsonaro não tivesse diminuído a “gripezinha”, incentivado as medidas de isolamento social e promovido campanha pró-vacinas da mesma forma que faz pela cloroquina e a ivermectina, o Brasil talvez estivesse numa situação menos alarmante. Ao contrário, a política de “salve-se-quem-puder” que o Governo Federal promove tem colaborado com novas mutações e variantes mais letais e agressivas do coronavírus.

Projeção feita pela Geocovid, plataforma de biomapas, monitoramento e projeções em torno da Covid-19 prevê que no atual cenário, terminaremos maio com aproximadamente 452 mil mortes acumuladas. Será um mês menos letal da pandemia em comparação a março e abril, mas ainda assim duro. A média móvel continuará à beira das duas mil mortes, enquanto normalizamos o luto diário de cada dia. “Que Deus tenha misericórdia desta nação.” 

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.