04 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 16/03/2021 às 08:51

“Brasil à deriva”: Marcelo Segurado fala sobre futebol, gestão esportiva e pandemia

Marcelo Segurado traça o cenário do futebol em meio a pandemia e os bastidores de sua segunda passagem no Goiás (Foto: Rosiron Rodrigues/Goiás EC)
Marcelo Segurado traça o cenário do futebol em meio a pandemia e os bastidores de sua segunda passagem no Goiás (Foto: Rosiron Rodrigues/Goiás EC)

Quando o executivo de futebol Marcelo Segurado retornou ao Goiás em outubro de 2020 sabia que teria um duro trabalho pela frente. Após uma passagem de sucesso no Vovô Ceará, retornava ao clube que o revelou “maturado” como ele mesmo disse em sua apresentação. À época, na vice-lanterna do Brasileirão, sabia que o rebaixamento poderia ser uma realidade e estava preparado para, necessário fosse, continuar e fazer o trabalho de reestruturação para o acesso. 

O trabalho que começou com Enderson Moreira e terminou com a dupla Augusto César e Glauber Ramos foi quase milagroso. Após um início sem vitórias com o primeiro, o elenco passou por uma reformulação com jogadores gringos, medalhões e atletas que passavam mais tempo no departamento médico do que dentro das quatro linhas indo à rua. Os resultados começaram a aparecer, animando até o torcedor mais pessimista. Mas a duas rodadas do fim do Campeonato, com a chama da manutenção ainda acesa, veio o comunicado: Segurado estava de fora das decisões do time. “Não fui pego de surpresa. De janeiro até minha saída, eu estava isolado. Não participava das reuniões, não era comunicado de nada, eu já tinha decidido que iria sair”, destacou o executivo em longa entrevista ao Diário de Goiás. Três dias após a saída de Segurado, o empate sem gols na Serrinha sacramentaria o sexto rebaixamento do Verdão da Serra à Série B do Brasileirão

A entrevista foi concedida na última quinta-feira (11/03) de forma remota e ainda fica a sensação do que poderia ter sido feito de diferente para que o clube tivesse a manutenção garantida na principal divisão do país. Apesar de não adiantar nada chorar o leite derramado, o olhar distante do tempo força a algumas análises: descomprometimento de jogadores, péssima preparação física e mexidas inoportunas durante as últimas rodadas do fim, na avaliação de Segurado foram decisivas. “Acho que a mexida no Ariel [Cabral] desestruturou muito o elenco, por que eles confiavam muito no Ariel como líder dentro de campo, a saída do Tadeu do time. Tiraram do gol do time um dos três melhores goleiros do Campeonato Brasileleiro? Alegando o que?”.

E o destino quis que o ponto final viesse um pouco antes do previsto. Hoje, Segurado está se preparando para assumir mais uma equipe. Chegou a receber uma proposta de um clube da Série B, mas não sentiu garantias de que pudesse ter condições de um trabalho bem feito. Enquanto isso, nesses tempos pandêmicos tem se resguardado, cuidado da saúde física e assistido muitos jogos. “Jogo da Copa do Brasil entre Real de Brasília e América de Natal até a Liga dos Campeões”, disse fazendo referência às partidas que passavam no dia. “Tenho vivido tudo o que eu posso viver de futebol”, destaca.

Hoje vê um Atlético Goianiense passando o que antes eram as duas equipes teoricamente mais fortes no futebol. O motivo? Gestão esportiva. “O Atlético Goianiense está na frente de Goiás e Vila Nova hoje porque tem um gestor do ramo do futebol, ele tem um staff de profissionais do futebol, no meu entendimento o Adson foi muito inteligente. As contratações dão muito certo, erra como todo mundo, mas erra o mínimo possível.”

Futebol e pandemia: “Brasil à deriva”

A pandemia forçou o mudo a ficar trancafiado em casa. As medidas restritivas impõe diversas limitações à população enquanto a vacina não fica disponível para imunização das massas. Os clubes tendem a ter dificuldades em montar elencos e elaborar protocolos seguros para o dia-a-dia de treinos e jogos. Segurado pontua que neste ponto, 2021 não apresentará grandes mudanças em relação ao ano que se passou. “Os clubes acostumaram-se a essas medidas, além de ter maior estrutura para fazer valer os protocolos”. O grande pulo do gato mesmo será na Segunda Divisão. “Clubes com menor estrutura. A Série B irá impor grandes dificuldades aos clubes conviverem com possíveis crises”, pondera.

Apesar de tudo, a segunda onda do Coronavírus tem se mostrado mais agressiva em termos de variantes, além de estabelecer novos recordes diários de mortes. Um dia antes da entrevista ter sido realizada, o Brasil registrava pela primeira vez desde o início da pandemia mais de 2 mil mortes ao longo das últimas 24 horas. Segurado não há sequer um norte, nem plano de retomada seguro, seja para o futebol ou para qualquer outra atividade econômica. “Eu acho que o Brasil está tão perdido, tão à deriva, que o futebol é só mais um exemplo  do que é tudo. Para o futebol, para o comércio, mas os ônibus estão cheios, não tem planejamento para isso. Os Estados Unidos estão jogando durante essa pandemia 4 trilhões para resolver essa situação”, destacou.

Para Segurado tratam o futebol como “pão e circo”. “Dizem que o futebol não pode parar porque senão o povo vai para a rua. É um pensamento muito absurdo, parece que vão entregar os jogadores em campo em meio à uma pandemia, servirá de entretenimento para que as pessoas fiquem em suas casa”, destaca. Por outro lado, esquecem-se que por trás do campo, há uma cadeia grande de profissionais – em sua grande parcela, dentro do “grupo de risco”.

“Quantos funcionários do staff, comissão técnica, roupeiro, massagista, que geralmente são mais antigos, quantos desses morreram? quantas dessas pessoas que trabalham no futebol e são invisíveis morreram? E quantos parentes de jogadores que também perderam a vida?”, destaca. “Futebol parece que é máquina”, desabafa.

Marcelo Segurado concedeu entrevista por videoconferência ao Diário de Goiás

Em uma longa entrevista, Marcelo Segurado falou dos outros clubes goianos, do futuro do Goiás Esporte Clube e de algumas memórias que viveu ao longo da sua segunda passagem do clube. Não deixou de pontuar também sobre o cenário internacional no futebol. Confira os principais trechos da entrevista:

ENTREVISTA – MARCELO SEGURADO – EXECUTIVO DE FUTEBOL

MODELO DE GESTÃO DO ATLÉTICO GOIANIENSE

O Atlético Goianiense está na frente de Goiás e Vila Nova hoje porque tem um gestor do ramo do futebol, ele tem um staff de profissionais do futebol, no meu entendimento o Adson foi muito inteligente. As contratações dão muito certo, erra como todo mundo, mas erra o mínimo possível.  A dificuldade no Vila é por causa dos vários grupos políticos que ali existem. Quando se tem vários grupos políticos, alguns deles torcem para dar mais errado do que certo. Tem tudo pra ser uma marca muito forte, mas os grupos políticos atrapalham.

MONOPÓLIO PINHEIRISTA NO GOIÁS

A situação do Goiás, diferente de Atlético e Vila, é muito monopolizada, esse monopólio  se dá de fora para dentro, onde você tem a figura do Sr. Haile, importante porque talvez o Goiás não tivesse essa grandeza, se não fosse principalmente o trabalho dele nos 50 anos que ele se dedicou. Mas ele teve uma falha que foi não fazer um herdeiro, torço muito para que o Paulo Rogério possa ser esse herdeiro, mas acho que a forma que é organizado, o Goiás tem pessoas fazendo o trabalho visando agradar os Pinheiros, eles estão ali dentro 

fazendo o trabalho pra agradar e fazer e falar pra eles o que eles querem ouvir, talvez, quando se é leal, um amigo verdadeiro, aliado, às vezes não é falar só o que você quer ouvir, é aquele que contesta, que também pode falar alguma coisa diferente, ai sim criar diálogo e buscar o melhor para o Goiás e não buscar fazer média. São pessoas honestas, mas que vivem nessa função de fazer isso, estar ali, estar passando da forma que eles querem, que é bom pra eles. Torço para que o Rogério agora dentro do Goias, possa viver o Goiás e tirar essas pessoas do caminho e possa ele mesmo tomar as decisões, porque certas ou erradas, estouram sempre nas mãos do presidente.

COLEGIADO NO GOIÁS: “Pessoas que não tinham a mínima condição de opinar sobre futebol”

[Marcelo Almeida, ex-presidente] Deixou o futebol na mão de um colegiado de pessoas que não tem a mínima condição estar opinando no futebol. Colegiado você tem para questões administrativas, vai construir estádio, junta o colegiado e dá palpite. Chega a um ponto que na semana de jogo, você sabe se vai ganhar ou perder o jogo, por que você passa a sentir a vibração, você entra em um vestiário antes do jogo, você diz “hoje a gente não perde” outros você entra em um vestiário e pensa “poxa vida”. É no aquecimento, às vezes tá fraco e você sabe que não vai dar certo. Entender de futebol não é só saber nome de jogador, hoje em dia tem dirigente do Goiás que anda com o google, você fala o nome do jogador ele pesquisa e fala tudo que ele jogou, mas não tem o mínimo feeling de bola.

Goiás com vida dura na Série B

Vai ser um campeonato brasileiro muito difícil, não só pq tem o cruzeiro, mas pq tem clubes se organizando, o Coritiba já ta com time praticamente montado, já tá se organizando e fez contratações interessantes, CRB, CSA, está se organizando, além desses que caíram, acredito até menos no Vasco e Botafogo do que nos outros. Vai ser um campeonato muito difícil, e não pode jogar a responsabilidade nesses meninos, não tá na hora deles serem os protagonistas, é muito pesado. Quais são os jogadores que eram da base e subiram ano passado e que jogaram?  Talvez o Indio e Lordelo, e eu tenho medo de perder essa geração porque jogaram essa responsabilidade, se não for campeão goiano com esses meninos, vão jogar eles onde? 

Thiago Larghi: analista de futebol

Eu vejo muitas pessoas dizendo: “Ah, se o Enderson tivesse ficado. Se o Larghi não tivesse saído”. Eu não trabalhei com o Larghi, ele fez um trabalho… Eu acho que ele deu um passo muito grande. Ele não tinha uma experiência de rodagem a beira de campo. Fez alguns jogos do Atlético Mineiro. Trouxe uma comissão catada que não era uma comissão. O preparador físico dele, eles se conheceram aqui em Goiânia. O auxiliar técnico dele era preparador físico do Atlético-MG. Então, assim foi meio que um catadão e é um cara que tem uma ideia de jogo. Ele era analista de desempenho e eu não tô desmerecendo o desempenho dele. Ele era um analista. Eu chegando depois com as pessoas lá dentro, eu entendi, não estava. Mas conversando com jogadores, com o staff com todo o mundo, a coisa não poderia andar.

Enderson Moreira: Pegou um ambiente horrível

Aí veio o Enderson… Eu chego um pouco depois dele. Tínhamos quase 50 jogadores, e que não podiam vestir a camisa do Goiás, por causa de comportamento, falta de compromisso, o clima do Goiás era de briga, jogadores brigados com presidente, o presidente abandonou, uma confusão, um ambiente horrível, péssimo. Eu tenho minhas diferenças com o Harley, mas nesse processo de enxugamento ele foi bem pontual, de tirar jogadores dali, porque tirar as vezes é mais difícil de contratar.  

PREPARAÇÃO FÍSICA DESASTROSA

No período em que o Enderson assume, o Goiás era um catado de jogadores. Não tinha preparo físico algum. Um time de futebol hoje, tem que dar após o jogo, 11 a 12 km por atleta, dependendo da posição. Se for pegar um volante ou lateral, ele vai correr 13, 14km as vezes. Um zagueiro, corre até 10. A média no Goiás quando o Enderson Moreira chegou era de 8 km. Quer dizer, se a média dos outros é 13, 14km a média do Goiás era 8km? Era como se o Goiás jogasse com oito jogadores e os outros times com onze. A preparação física do Goiás foi um absurdo. Eu não sei o que fizeram até hoje durante o período da pandemia. E clubes como o Goiás tem que botar uma coisa na cabeça: a gente não tem condições financeiras de bater com outros clubes então a única forma é errar o mínimo nas contratações e preparação física. Os caras tem que estar forte. Isso é fundamental. Você vê o Fortaleza, o Ceara, o Athlético Paranaense… Preparação! É isso que os iguala a esses times maiores. Então você tinha uma condição física horrorosa, um ambiente péssimo, jogadores descompromissados e tudo largado, um clube sucateado. O Enderson chegou no time e começou a ter uma ideia de jogo, começou a jogar bem, aí tomava um gol, contra o Atlético, o Bahia… Jogando bem contra o Flamengo no Maracanã, os caras empatam e viram um minuto depois, as coisas de resultados não aconteceram com o Enderson. Teve erro nosso? Teve. Fomos buscar um terceiro zagueiro que era o Chico, e ele teve uma contusão no jogo contra o São Paulo. E o mais importante. Limpou tudo, quando limpou tudo foi exatamente o momento que não dava mais… O Enderson ficou nove jogos sem ganhar e a vitória ia acontecer e aconteceu contra o Palmeiras. E ali acendeu alguma coisa e os caras se abraçaram. Os jogadores se abraçaram e isso foi muito bacana. Tinha subido os meninos, o Augusto e o Glauber estavam num astral muito bom. As coisas foram acontecendo e elas foram sendo estragadas na medida que a coisa foi acontecendo porque começou a ter muita interferência no trabalho dele. Eu acho que ai foi desanimando também, da mesma forma que subiu, depois teve uma queda. 

DECISÕES QUE CULMINARAM NA SÉRIE B

Acho que a mexida no Ariel desestruturou muito o elenco, por que eles confiavam muito no Ariel como líder dentro de campo, a saída do Tadeu do time. Tiraram do gol do time um dos três melhores goleiros do Campeonato Brasileleiro? Alegando o que? Sendo um cara que todo mundo gosta. Nada contra o Rangel que é um cara que todo mundo gosta e também é um líder importante. Isso tudo mexe, essas situações no dia-a-dia, protocolos… Horários de chegada, de saída, muito soltas… Tudo começou a dar uma aliviada na vitória sobre o Palmeiras, onde tudo tava acontecendo e começou as interferências, o que prejudicou muito a situação, os jogadores foram percebendo. Esse elenco do Goiás merecia ficar na Série A da forma como se comprometeram com o Goiás. Eu falo isso porque eu já falei que de janeiro para cá eu não participei de nenhuma decisão. Fui isolado.  

Eu sou um executivo de futebol que conseguiu notoriedade no  mercado, principalmente por ter ficado muitos anos em um clube só, tanto no Ceará quanto no Goiás. Eu aceitei o desafio porque tinha um planejamento, o Paulo Rogério me chamou e disse “vamos montar aqui”. Todo mundo sabe das diferença que eu tinha com o Harley, que eu tinha com o Osmar,mas nós fizemos uma reunião e falamos que iriamos colocar o Goiás acima dessas diferenças. Eu tenho uma história no Goiás, mas hoje eu vivo de futebol, você encontrar um clube que tenha um projeto bacana não é fácil. 

No Goiás eu não participava das reuniões, tinha vindo pra ficar até o final do campeonato, mas adiantaram isso. Quando eu sai todos o jogadores me mandaram mensagem, eu fiz amizade com eles e comissão o staff do goias como um todo. Fiquei decepcionado com o Augusto, em algumas situações, mas eu entendo, se ele não fizesse seria outro.

Transformações do futebol brasileiro: o papel do executivo de futebol em meio a mudanças

O futebol brasileiro vem  passando por transformações dentro e fora de campo nos últimos anos, há uma tendência cada vez maior de haver uma profissionalização disso, isso passa também pela parte executiva pelo gerenciamento do futebol, ainda vai demandar  tempo, para que nossos clubes tenham diretorias estatutárias profissionalizadas, mas a gerência e a gestão de futebol, ela passa necessariamente por uma gestão profissional, de pessoas que vão buscar aperfeiçoamento, vão buscar now hall, conhecimento para tratar desse departamento que é um dos mais importantes do clube. Tudo gira em um um clube, em torno do futebol, e o executivo, gerente, gestor ou executivos, porque a tendência também é cada vez mais terem mais de dois, porque é muito amplo o processo, tudo passa pelo futebol, o departamento de marketing, o físico, o técnico, o financeiro, o jurídico, o fisiológico, tudo funciona em torno do futebol, e tem que haver harmonia, um planejamento, uma organização para que tudo isso funcione de tal maneira que atenda as demandas do futebol, que é objeto final do clube. Então a importância cada vez maior é que venham buscar profissionalizar, buscar conhecimento para isso.

Transição: Jogador x Executivo

O jogador de futebol vai ter uma vantagem em relação a qualquer outro profissional que venha atuar nessa área pelo fato dele ter vivido ou vivenciado a situação de vestiário, isso é um ponto positivo. Nesse contexto, o tempo médio é o tempo dele “desintoxicar” daquela situação que ele viveu quinze, vinte anos, com jogador e quando ele passa para o outro lado (gestor). Como dirigente do Goiás, eu fiquei por volta de oito anos, entre  administrativo, dep. de marketing, departamento de base, até chegar ao departamento de futebol, onde eu fiquei três anos e meio, eu fui o que mais ficou. Então demanda esse tempo de amadurecer, de você ganhar essa maturidade pra você poder estar transitando no meio de todas essas vaidades.

Clubes-empresas: pode viabilizar mas irá demorar

Eu acho que vai demandar tempo. O futebol está na mão de grupos políticos dentro dos clubes que não permite essa profissionalização. Acredito que possa acontecer no Goiás, mas é difícil. No Bragantino aconteceu porque o Brasil é um país tão fora da curva que o Red Bull investiu em times na Alemanha, nos Estados Unidos, na Suécia, em equipe de Fórmula 1 investiu tudo de base e foram conquistando e alcançando, a exemplo do Red Bull que disputou uma Champions ano passado. O imediatismo no Brasil é uma coisa tão absurda, que o Red Bull tá a 5,6 anos tentando subir de série, ele veio da D pra C, da C pra B e pra A. Para chegar à série A de um brasileiro encampou o Bragantino e no Paulista tá na A2 ou A3. Eu vejo com muita preocupação, porque essa seria a ideia, já que você vai ter um time que vai ter um dono, que esse dono venha a ser profissional.

Papel social do clube de futebol: algumas fantasias se criam

O papel social que o clube de futebol exerce é outra dessas fantasias que se cria, o futebol é, sempre foi e sempre vai ser um trampolim da social das camadas mais pobres. Mas eu não vejo o que os clubes fazem por esses meninos, a não ser aqueles que despertam algum tipo de potencial na base, eles têm um certo cuidado, o restante não tem, olha só o que aconteceu no ninho do urubu. Eu vejo muita gente falando mal de empresário, mas você olhar por um aspecto, ele se tornou uma figura que é necessária, porque o clube tem um atleta, dá a camisa, mas não dá uma condição alimentar, de nutrição, não da condição de um apoio familiar, psicológico, financeiro, esses jovens começam a serem captados por esses empresários e aí se tem bom e ruim, honesto e desonesto, e esses profissionais começam a  dar apoio, começa a dar estrutura. Ai esse menino ta ganhando 2.000 reais  e o clube contrata outro de 200(mil), aí quando a coisa não dá certo eles pegam o menino de 2.000 e põe pra jogar, ele vai bem, o clube chega no menino e o clube oferece 10.000, só que o empresário vai conseguir outro clube pagando 50.000, e ele vai pro outro clube.

Há a mitificação de que jogador ganha milhões, mas 4% dos jogadores ganham mais de cinco mil e 1% recebe mais de cem mil.

Futebol brasileiro x Europeu

Acho que a ultima vez que um clube brasileiro ganhou um mundial é com o corinthians porque os clubes brasileiros ficaram muito atrás, o futebol brasileiro ficou muito atrás, aí vem a formação do futebol brasileiro  hoje em 95% dos clubes brasileiros continua sendo a mesma formação que era dada antes, treinos táticos, de fundamento, não se trabalha outras condições do atleta, principalmente o cognitivo. Se você levar um jogador brasieliro pra jogar em alto nível na Europa, na Champions, ele não vai jogar, porque ele não vai dar conta da intensidade, daquela leitura. Eles estão levando os meninos porque eles vão ter que lapidar esses garotos. Jogadores com idade de 25, 27 anos, o mercado é Asia, Oriente Médio e talvez Estados Unidos, mais recentemente.

Léo Sena

O Léo Sena é um baita jogador, eu sempre converso com ele mas falta a ele intensidade, falta a transição defensiva-ofensiva, se ele tivesse isso ele não teria ido para Itália, teria ido pra  Alemanha, Inglaterra. O futebol italiano para começar a mudar foi buscar outro treinadores, outros jogadores, como o Cristiano Ronaldo, jogadores com esse perfil, de intensidade, tanto é que eu torço pra dar certo, torço muito pro Leo ir para Lazio, que também não é um top da Europa, mas já é uma grande força.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.