06 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 08/07/2021 às 19:47

Bolsonaro tenta bagunçar campo político com voto impresso, avalia cientista político

(Foto: Reprodução/Youtube)
(Foto: Reprodução/Youtube)

O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) parece querer ‘bagunçar’ o campo político com a implantação do voto impresso nas próximas eleições. É essa a avaliação do professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e cientista político, Robert Bonifácio. “Um dos objetivos que possui ao defender o voto impresso é bagunçar o campo político visando deslegitimar o futuro possível resultado eleitoral desfavorável a si. Tal como ocorreu nos EUA, penso que há chances de no Brasil haver uma tentativa de golpe democrático caso Bolsonaro não vença as eleições de 2022.”, destacou em entrevista ao Diário de Goiás nesta quinta-feira (08/07).

Mais cedo, ainda nesta quinta-feira, Bolsonaro com tom ameaçador voltou a questionar o sistema eleitoral aplicável no Brasil. Não foi a primeira vez, tampouco deverá ser a última. “As eleições do ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, disse o presidente aos apoiadores, ignorando que teve seus mandatos na Câmara dos Deputados sucessivas vezes eleito por meio da urna eletrônica que hoje contesta. Não foi diferente em 2018 quando foi eleito para a cadeira no Palácio do Planalto.

Para Bonifácio, Bolsonaro pretende tumultuar o processo democrático, haja vista que, hoje vê sua gestão mal avaliada com índices de aprovação caindo de forma vertiginosa. Duas pesquisas publicadas nesta quinta-feira (08) mostram um cenário não muito favorável para o presidente da República. A CPI da Covid-19, tão negada pelos bolsonaristas quanto a vacina, também tem provocado fissuras no governo federal.

Robert avalia que as falas recentes do presidente da República servem à ele e seu eleitorado como “cortina de fumaça”. “Se pressupomos que as decisões sobre leis se dão no parlamento, ou seja, mantendo-se a normalidade democrática, os últimos sinais são de que o relatório favorável existente na comissão criada na Câmara para debater o voto impresso será rejeitado. 11 partidos se expressaram contrários à matéria e alteraram seus representantes na comissão a fim de cumprir com o que decidiram. Logo, essa questão não passa de uma tentativa de cortina de fumaça para o momento ruim que o governo federal tem vivido”, destacou.

Conforme a pesquisa DataFolha de hoje, 51% dos brasileiros consideram a atuação do governo federal ruim ou péssima. Esta é a pior marca desde o início do mandato de Bolsonaro, em janeiro de 2019. No último levantamento, feito em maio, aqueles que rejeitavam o governo eram 45%.

Publicada pouco antes, pesquisa da XP Investimentos e do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe). Desde outubro do ano passado, a proporção de brasileiros que avaliam o governo como ruim ou péssimo tem crescido mês a mês e chegou a 52% no início de julho. Há nove meses, no menor nível recente, o índice era de 31%. Já os que avaliam o governo como bom ou ótimo somam 25% neste mês. Em outubro do último ano foram 39%.Os que avaliam como regular são 21% e 2% não souberam ou não responderam. Metade dos brasileiros também disseram que têm expectativas negativas para o restante do mandato. O que esperam algo de bom são três a cada dez.

Guerra civil? O cenário pode se tornar nebuloso com um presidente contestando as eleições. Isso porque poderá haver pressão popular para fazer valer o resultado nas urnas, ainda assim, Bonifácio alerta que as instituições democráticas podem ser capazes de frear um possível levante bolsonarista. “O mecanismo automático é as instituições de defesa e segurança agirem contrariamente a um possível movimento de golpe, abafando-o. Para além disso, também pode haver pressão popular e até mesmo guerra civil, no pior dos cenários. Bolsonaro não apresenta um histórico de apreço à democracia mas, caso tente um golpe, penso que as instituições podem ser capazes de freá-lo”, conclui.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.