O senador da República, Jorge Kajuru se tornou manchete nos principais jornais do país, após ter divulgado uma conversa telefônica em que aparecia negociando com o presidente da República, Jair Bolsonaro os detalhes sobre a instauração de uma CPI da Covid-19 no Senado Federal. No diálogo, o chefe do executivo pressiona o senador a pedir abertura de impeachment de ministros do STF. “Eu pedi o impeachment do Alexandre de Moraes dois meses antes dessa conversa com o presidente”, frisa em entrevista concedida na manhã desta terça-feira (13/04) ao Diário de Goiás.
Ontem (13/04), Kajuru disse que Bolsonaro deu um “chá de cadeira” no presidente da Pfizer, que o deixou esperando por 10 horas no Palácio do Planalto e não o atendeu. Horas depois, a Pfizer desmentiu o senador alegando que Bolsonaro nunca havia rejeitado um encontro com o executivo da farmacêutica. “Normal, você esperava o quê? Que ele fosse confirmar? Claro que ele desmentiu e o presidente da Pfizer como está vendendo vacina para o Governo não vai dizer isso. Agora que o fato aconteceu, aconteceu”, destacou.
Quem poderá confirmar o “chá de cadeira” é o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta que tem provas do encontro. “O ex-ministro da Saúde vai na CPI e confirmará esse acontecimento. Vocês vão ver na CPI o ex-ministro da Saúde que foi quem me declarou. E eu sei que ele é um cara sério e não mente. Eu confio nele. Eu falo do Luiz Henrique Mandetta. Ele vai contar a história se é verdadeira”, explicou. O Diário de Goiás entrou em contato com o ex-ministro e solicitou uma entrevista sobre o assunto.
‘Kajuru, eu não tenho medo de nada. Solta tudo’
Kajuru não acha que a gravação pode lhe render problemas judiciais. Para ele, Bolsonaro não tinha sequer se incomodado com a divulgação. O senador pontua, inclusive que chegou a avisar ao presidente que estava fazendo edições na gravação para publicar. A resposta de Bolsonaro deu uma dimensão que estava tudo bem. “Ele falou para mim assim: ‘Kajuru, eu não tenho medo de nada não, pode soltar tudo’. Eu só não coloquei aquela parte que ele chamou os senadores de canalha e xingou o Randolfe”, explicou.
Mas Bolsonaro disse aos apoiadores que Kajuru poderia publicar toda a conversa e o senador assim o fez. “Quando ele pediu ontem para botar tudo, eu botei”, complementou. O ex-radialista até tentou minimizar o assunto, mas com a provocação, não teve outra opção. “Ele pediu, uai. Eu queria poupá-lo. Poupar ele e poupar o Randolfe de ser ofendido. Agora que pediu, não fui eu”, destacou.
“Quem é Flávio Bolsonaro para falar de honra, meu Deus?”
A reação da Família Bolsonaro não demorou muito para acontecer e o filho, o senador Flávio Bolsonaro logo apresentou uma representação contra Jorge Kajuru no Conselho de Ética do Senado Federa. “Eu não estou nem um pouco preocupado com isso”, confessa. Ao contrário, dá risadas. “Eu só morro de rir de ser exatamente entre os 80 senadores ser exatamente o Flávio Bolsonaro a me pedir o Conselho de Ética. Quem é ele para falar de honra? Ele é acusado de crimes de corrupção. De rachadinhas. Quem tem que ir para o Conselho de Ética é ele”, dispara.
Kajuru inclusive, fez uma proposta ao filho do presidente da República. “Então eu pedi para ele, ‘vamo juntos, nós dois, neste dia’. Aí o Conselho de Ética julga a denúncia de crime contra você com provas irrefutáveis e julga a minha gravação com o presidente. Vamos ver quem cometeu um crime”, sugere.
O radialista ainda lembra que ao longo de sua vida teve lá seus problemas judiciais. Mas por conta da língua. “Eu tenho 60 anos de idade e nunca fui sequer citado em nenhuma esfera da Justiça, em nenhuma denúncia, muito menos de corrupção. Eu tenho processos de opiniões contra políticos, dirigentes de futebol e pessoas do meio da corrupção. Quem é Flávio Bolsonaro para falar de honra, meu deus do céu?”
“Eu já saí. Estou sem partido”, sobre futuro partidário
Kajuru também destaca que já saiu do Cidadania, mas não foi convidado a sair, tampouco expulso. “Em nenhum momento o Cidadania me convidou a se retirar do partido. O Cidadania foi comunicado por mim, ontem de manhã, que eu não continuaria no partido, porque a Executiva Nacional do Cidadania é contra a minha opinião”, explicou.
O problema aqui, é a forma como o partido encara a CPI da Covi-19. “Eles acham que tem que fiscalizar e investigar só o governo Bolsonaro e não os governadores e prefeitos. Então, eles não têm a mesma opinião minha, eu acho que a CPI tem que ser ampliada.”
O senador diz que irá lutar “até o fim para incluir Estados e Municípios nessa CPI”. “Como eu falei 10 dias antes da conversa com o presidente. Antecipei isso há muito tempo. Eu não consideraria uma CPI independente, legítima se fosse só contra o governo. Para mim, ela seria revanchista. Como o partido pensa diferente de mim, eu caí fora do partido porque eu já tinha avisado três meses antes que eu queria sair. O partido já sabia que eu iria sair.”