14 de setembro de 2024
Publicado em • atualizado em 25/12/2022 às 10:10

Bolsonaristas criam versões e tentam decifrar ‘enigmas’ de fotos postadas por Michelle e Bolsonaro

Foto em referência a festa judaica de Chanucáh postada pela primeira-dama instigou a imaginação de bolsonaristas (Foto: Divulgação/Instagram)
Foto em referência a festa judaica de Chanucáh postada pela primeira-dama instigou a imaginação de bolsonaristas (Foto: Divulgação/Instagram)

Derrotado nas eleições de outubro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deve passar por dias reclusos nos Estados Unidos, de acordo com o portal Uol. Envergonhado, sequer quis reconhecer o resultado e vai passar uma temporada na terra do Tio Sam sem dar satisfação aos militantes radicais que há mais de um mês estão acampados frente a quartéis pedindo golpe.

Bolsonaristas mais encantados, no entanto, ainda apostam numa última cartada do presidente derrotado e veem nas fotos que ele e sua esposa, a primeira-dama Michele Bolsonaro, vem postando nas redes sociais. Enigmáticas e algumas sem legendas, elas sempre mostram o derrotado em destaque. Seria um recado do casal aos militantes?

Ensandecidos, apoiadores do presidente derrotado pensam que sim e criam teorias em torno das mesmas. Há seis dias, Michelle postou uma imagem em referência a “festa de Chanucáh”. De origem judaica trata-se de uma festividade que se inicia no dia 18 de dezembro e se encerra nesta segunda-feira, 26 de dezembro.

Num raciocínio desconexo fazendo referência a festividade judaica, um usuário do Twitter chegou a clareza do recado: Bolsonaro sabe a hora de agir e se não no dia 26, ao fim da festa de Chanucá ou no mais tardar na madrugada do dia 27 interviria na contestação do resultado das eleições colocando as Forças Armadas ao seu serviço. 

Na legenda da foto, Michelle explica: “O principal significado é relembrar o grande milagre do azeite, o qual duraria um dia e durou 8 dias”. Bolsonaristas radicais adotam a tese de que isso seria outra mensagem subliminar. Aconteceria um ‘milagre’ também nos tempos modernos? 

Nas redes sociais, as reações às teses criadas são um misto de otimismo e desesperança. “Meu último dia de esperança é hoje dia 25/12 caso nada aconteça já era a minha esperança!”, disse uma internauta. “Amigo, aguarde até amanhã. Confie no capitão”, respondeu a autora da conspiração. “Interpretação perfeita, faz todo o sentido, pensei também na madrugada do dia 26 de dezembro, mas pelas velas do candelabro”, replicou outro usuário. “Também penso que pode ser na madrugada”, respondeu.

Bolsonaristas insistem em criação de narrativas para sustentar uma ‘realidade paralela’

O professor titular de Literatura Comparada na UERJ e pesquisador João Cezar de Castro que estuda movimentos bolsonaristas há anos, já concedeu muitas entrevistas a este jornalista que vos escreve já dizia que além de não gostar do “jogo democrático” a extrema-direita cria “inimigos imaginários” por meio da guerra cultural da internet.

Cézar Rocha sustenta, em entrevista recente ao Jornal Estado de Minas, que o Brasil se tornou laboratório mundial para ‘criação metódica de realidade paralela’. E neste ponto, as manifestações que ocorrem desde a derrota do presidente Jair Bolsonaro exemplificam o Brasil Paralelo que foi criado por bolsonaristas.

A criação de narrativas fantasiosas fazem parte dessa estratégia, que seja orgânica ou planejada, atingem as emoções de eleitores que tomam para si medos e anseios promovidos pelo bolsonarismo. 

O especialista em neuromarketing, Arthur Paredes também adota tese semelhante. Em entrevista ao Diário de Goiás, Paredes destaca que ao compartilhar uma notícia falsa ou teoria mirabolante, o eleitor e militante relativizam a verdade e ignoram os fatos. A emoção tem maior peso que a própria razão e racionalidade. Você já deve ter ouvido uma indagação próxima a essa: ‘Pode até ser mentira, mas tem um fundo de verdade’. Então, está ‘liberado o compartilhamento da informação’.

“Nós temos a vontade de atacar o opositor e ameaça ao candidato que a gente não gosta, é porque dentro do nosso bando – e temos nossa tribo – nós queremos alertar sobre uma possível ameaça”, explica Paredes ressaltado que ao propagar uma fake news o eleitor que nem sempre faz isso por ser uma pessoa má, mas sim por ver no candidato opositor uma ameaça ao seu grupo.

Quando isso acontece a tendência de compartilhamento de notícias falsas aumenta. “Para isso, nós não nos importamos com fatos, não importamos com a verdade que é relativa. Queremos trazer a notícia como se fossemos um porta-voz para proteger a nossa tribo e isso é o principal motivador para até pessoas boas disseminarem fake news”, destaca.

Domingos Ketelbey

Jornalista e editor do Diário de Goiás. Escreve sobre tudo e também sobre mobilidade urbana, cultura e política. Apaixonado por jornalismo literário, cafés e conversas de botequim.