Imersos numa ‘realidade paralela’ desde que as eleições de outubro foram encerradas com derrota do então presidente Jair Bolsonaro (PL), bolsonaristas começam a compreender a vida real e que o ex-presidente já é página virada na história política do Brasil. Até esta sexta-feira (06/01) alguns acreditavam que o presidente Lula (PT) estava promovendo um teatro em torno de sua posse e que não despachava assuntos presidenciais.
Com o TikTok e o Kwai, aplicativos de vídeos curtos gravados feitos por anônimos que tinham “informações privilegiadas” de Brasília e de quartéis generais além de longas transmissões ao vivo no Youtube por influenciadores bolsonaristas e pseudo-jornalistas, muitos foram convencidos de que era questão de tempo até que Bolsonaro retomasse o poder.
Entre as muitas versões que deram ânimo a bolsonaristas, havia a convicção que o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno quem estava despachando de Brasília e que todos os atos Lula e sua equipe ministerial não passavam de fachada articulada com apoio da TV Globo. O jornalismo profissional, que sempre fez a cobertura do que estava de fato acontecendo, não só era ignorado como também desprezado.
Reportagem da Globo mudou humor de bolsonaristas
O comportamento de bolsonaristas começou a mudar nesta sexta-feira (06/01), justamente com o compartilhamento de uma matéria promovida pela Rede Globo em que a primeira-dama Rosangela da Silva apresentava a situação negligente e caótica que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou o Palácio da Alvorada. A entrevista foi conduzida pela jornalista Natuza Nery.
“Uai, JB desocupou o Alvorada?”, indagou um bolsonarista em um grupo bolsonarista no Whatsapp, que este jornalista que vos escreve está silenciosamente infiltrado. “Então aquele dia o caminhão da mudança estava de fato levando a mudança deles, e não só um quadro como disseram”, respondeu. “Está tudo muito complexo”, disse outro tentando conter os ânimos. “A verdade logo vem à tona, no mais, ficamos especulando”.
Em outro momento, compreendendo que Bolsonaro estava nos Estados Unidos e que Lula não estava brincando de ser presidente, os bolsonaristas percebem que estavam numa realidade paralela, com a conivência do ex-presidente.
Bolsonaro ‘nem aí’, ‘covarde’, ‘rabo preso’
“Eles são todos mentirosos. É tudo farinha do mesmo saco, bem que a esquerda sempre falou. O general Heleno foi no acampamento e falou que ia acontecer alguma coisa, que o Lula não subia a rampa. A Dâmares encontrou com a Elaine que era aqui do grupo no Flamboyant, disseram que ia acontecer alguma coisa, que ia ficar todo mundo feliz. Cadê? Mentira. Eles mentem, esses políticos. Tudo para continuar no emprego e ganharem suas fortunas”, destacou uma mulher que administra o grupo, em áudio.
“É verdade. As vezes tem o rabo preso também. A gente que fica aqui dando bobeira. Só que a gente sofre, né? Eles ficam lá de boa, tem dinheiro, ele ganha R$ 80 mil e a gente ganha uma miséria. Está nas mãos de Deus. Que Deus tenha misericórdia de nós. E parar de ficar gritando Bolsonaro, estou até enfezada com isso, fico até doente. Bolsonaro não está nem ai para nós”, respondeu outra por áudio.
Outra mulher, também por áudio, não negou sua frustração com Bolsonaro. “Rapaz, meu povo. Nosso capitão foi um covarde. Ele deixou a gente na luta. Eu mesmo passei três dias no quartel em Teresina e depois eu caí na real que ele fez foi dar um golpe nos brasileiros e patriotas”, disse em tom de desânimo.
“Eu sai da minha cidade do fundo de Goiás, passei dois dias ai no quartel de Goiânia. Fomos uma vez depois voltamos de nós e esse cara [Bolsonaro] não fez nada. Só vivia chorando, parecendo bosta mole, com a cara cheia de merda. DEus me perdoe. Estou enfezada. O povo fica falando ‘coitado do Bolsonaro’. Que coitado? Deixou a gente na farofa seca”, disse revoltada outra apoiadora também por áudio.
Realidade está aí
A realidade paralela do bolsonarismo parece estar chegando ao fim, apesar de alguns insistirem que uma ‘resposta do capitão’ virá em breve. Outros já articulam maneiras de pedirem o impeachment do presidente Lula. Ontem (06), extremistas chegaram a ir ao Aeroporto de Congonhas em uma carreata tumultuar o trânsito local. Agora, prometem passar o final de semana em Brasília em protesto.
Nos Estados Unidos, até hoje existem movimentos radicais minoritários que não aceitam o resultado das eleições presidenciais de 2020, ignoram o democrata Joe Biden, apostando que o pleito foi uma fraude e que a qualquer momento o republicano Donald Trump pode retornar ao poder. O modus operandi dos extremistas é o mesmo. Resta saber quanto tempo, força e magnitude ocorrerá o mesmo no Brasil.