05 de dezembro de 2025
TRAMA GOLPISTA • atualizado em 24/05/2025 às 09:47

Moraes ameaça prender Aldo Rebelo por ironia em depoimento sobre trama golpista

Ministro ameaçou prender Rebelo durante depoimento de sexta no STF; Sessão também teve gafe de Gonet que falou “fiz uma cagada” no microfone aberto
Depoimento de Aldo Rebelo foi na sexta - Foto: arquivo / Wilson Dias / Agência Brasil
Depoimento de Aldo Rebelo foi na sexta - Foto: arquivo / Wilson Dias / Agência Brasil

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ameaçou prender o ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, depois que Rebelo ironizou o uso da expressão “deixar à disposição” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) as tropas em caso de uma tentativa de golpe. Ele simulou frases para falar que foi “força de expressão” e Moraes não gostou.

O alerta sobre risco de ser preso foi durante o depoimento do ex-titular da Defesa na sexta-feira (23), na ação penal da tentativa de golpe. Rebelo era ouvido como testemunha de defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier. Ele disse que a frase  “deixar à disposição” “não pode ser tomada literalmente”.

“É preciso levar em conta que, na língua portuguesa, usamos a força da expressão. A força da expressão nunca pode ser tomada literalmente. Quando alguém diz ‘estou frito’ não quer dizer que está numa frigideira”, afirmou Rebelo. Em seguida, o ex-ministro, foi repreendido por Moraes uma primeira vez.

“O senhor estava na reunião quando o almirante Garnier falou essa expressão?”, perguntou o ministro. Rebelo respondeu negativamente. “Então, o senhor não tem condição de avaliar a língua portuguesa naquele momento. Atenha-se aos fatos”, disse Moraes.

“A minha apreciação da língua portuguesa é minha e não admito censura”, retrucou Rebelo. Moraes então retrucou com a ameaça de prender o ex-ministro. “Se o senhor não se comportar, o senhor vai ser preso por desacato”, reforçou o ministro do STF.

Demóstenes sofre reprimenda na defesa

Houve ainda mais reprimendas durante a audiência. A defesa de Garnier, feita pelo ex-senador e hoje advogado Demóstenes Torres, perguntou se a Marinha teria condições para dar um golpe de Estado. Moraes, então, fez uma advertência: “Aldo Rebelo é um historiador, é uma pessoa inteligente. Ele sabe que em 64 não foi ouvida toda a cadeia de comando para se dar o golpe militar. Não podemos fazer conjecturas fora da realidade. Não pode perguntar algo que ele não tem conhecimento técnico. Ele é um civil, que foi ministro da Defesa, mas é um civil”, disse o ministro.

Mourão culpa Lula por 8/1

Também ontem no Supremo, o ex-vice-presidente da República e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) disse, em seu depoimento, que desconhece a tentativa de golpe. Ele chegou a culpar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva pela desordem em Brasília em 8 de janeiro de 2023.

O senador foi ouvido como testemunha do general Augusto Heleno, do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, do ex-presidente Jair Bolsonaro e do general Walter Braga Netto no processo em que o ex-chefe do Executivo é acusado de tentativa de golpe de Estado.

Na audiência, Mourão disse que não participou de nenhuma reunião que tenha envolvido alguma intentona golpista e afirmou não ter falado sobre o Peru, que vivia uma tentativa de autogolpe, em 2022. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, perguntou a Mourão se ele achava que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator, era “mentiroso”, já que o tenente-coronel também tinha falado sobre a conversa. “Não, não posso dizer que ele era mentiroso, até porque não tive acesso ao que ele disse”, respondeu Mourão.

Segundo as investigações, essa conversa foi entre tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, alvo da Operação Tempus Veritatis, e Mauro Cid. Cavaliere encaminhou para Mauro Cid prints de uma conversa contendo informações que seriam de uma reunião entre Bolsonaro e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão e outros generais. Riva afirma que Mourão negociou com outros generais a saída do Jair Bolsonaro, chamado de “01”.

Mourão foi responsável pelo último discurso da gestão Bolsonaro, quando fez um pronunciamento em rede nacional no dia 31 de dezembro de 2022. Acabou vaiado por bolsonaristas e até chamado de “traidor” pelos acampados no Quartel-General do Exército em Brasília.

Gafe: Gonet esquece de silenciar microfone e vaza expressão “fiz cagada”

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, não percebeu que seu microfone estava aberto e  reconheceu que fez uma pergunta fora de tom para Aldo Rebelo, mas usou a expressão “fiz uma cagada” que foi ouvida por todos. Ele perguntou se o ex-ministro acreditava que, sem adesão do Exército, a Marinha teria condições de promover uma ruptura.

A defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier reclamou do que seria uma pergunta opinativa. O áudio de Gonet como resposta escapou. “Fiz uma cagada”..

Rebelo afirmou que Garnier não poderia mobilizar tropas da Marinha sozinho. Também disse que, sem a capilaridade do Exército, essa Força não seria capaz de consolidar um golpe de Estado no Brasil.

O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, outra testemunha de Garnier, também prestou depoimento na sexta. Na quinta, 22, Olsen pediu para ser dispensado porque “desconhece os fatos objeto da ação penal”. A defesa de Garnier, porém, pediu para manter a audiência por entender que poderia ser esclarecedor, o que foi atendido pelo ministro Alexandre de Moraes.


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