Entrando no quinto ano do mandato de senador da República, o radialista Jorge Kajuru (PSB-GO) foi empurrado para a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tornou-se um dos vice-líderes do PSB no Congresso Nacional e na falta de representantes que façam a interlocução entre Brasília e Goiás, caiu em seu colo essa responsabilidade.
Único senador goiano que aderiu à base do governo Lula, já que o empresário Wilder Morais (PL) prega oposição à gestão federal e o ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (PSD) diz que terá postura independente no Congresso Nacional, Kajuru tem tido agenda intensa com a base petista em Brasília. “Converso todos os dias com o Alckmin”, revela em entrevista ao Diário de Goiás.
Também mostra proximidade com o time de ministros do presidente Lula (PT). “Janto todas as quartas-feiras com o ministro da Justiça, Flávio Dino e o ministro da Educação, Camilo Santana”, salienta. Neste contexto, Kajuru diz ser um dos responsáveis pela última reunião que Lula convocou com os ministros, onde o petista deu mais um puxão de orelha na equipe por falta de articulação do Planalto com parlamentares.
A reunião que varou a tarde serviu para tentar resolver impasses e fissuras no relacionamento entre Câmara dos Deputados e Planalto, além de dar sobrevida à equipe ministerial que tem a missão no diálogo político. No entanto, Kajuru faz o diagnóstico. “O Lula não vai errar com um ministro que está errando com ele. Ele já perdoou dois até agora. Mas é um primeiro perdão. O Lula não espera o terceiro erro”, atesta.
A boa relação com os ministérios também promoveu, de acordo com o próprio Kajuru, um encontro histórico entre empresário e representantes do agronegócio goiano e o Governo Federal quando o parlamentar levou os levou para em um dia, reunirem-se com três ministros: o vice-presidente da República e titular da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), Carlos Fávaro (PSD), da Agricultura e Pecuária e Alexandre Silveira, de Minas e Energia.
“Por duas horas e meia conversamos com o Alckmin. Tivemos três horas de reunião com o Favaro e outras duas horas com o Silveira que é o ministro de Minas e Energia com uma hora e meia de reunião. Isso num dia só. Os próprios empresários me disseram que nunca haviam visto na história da política brasileira. Serem atendido por três ministros em quase sete horas de reunião”, detalha sobre o encontro.
Jorge Kajuru diz que prioridade de Caiado é “arrumar Goiás”
Kajuru também mostra-se disposto a ser uma espécie de interlocutor de Caiado e Lula. Acredita também, que interesses políticos, de olho em 2026, não irão alterar a relação republicana e civilizada que os chefes do executivo federal e goiano vem tendo nos primeiros seis meses de 2023. O senador também promete continuar trabalhando para que não haja fissuras entre ambos.
“Enquanto o Kajuru for o senador que representa o governo Lula em Goiás, a relação de Lula e Caiado será a melhor possível. Eu comecei toda essa relação e fiz questão de mostrar ao presidente Lula as virtudes do Caiado”
Neste momento, Jorge Kajuru passa a reservar uma série de elogios ao governador goiano. “O Caiado é o melhor governador da história de Goiás. Nenhum outro governador foi mais competente que Caiado. Por mais duro que seja nas suas posições, o Caiado não é intransigente no ponto de vista de ser rancoroso ou raivoso e prejudicar o estado porque não gosta de um presidente da República e amanhã será concorrente dele de repente”, pontuou.
Kajuru diz que apesar de Caiado estar de olho em 2026, o momento pede outros objetivos. “A prioridade do Caiado hoje é arrumar Goiás. Ele já tem se arrumado demais, especialmente na saúde, na segurança pública e na educação. Ele precisa melhorar nas estradas e vai melhorar. Eu consegui para ele nove novas rodovias. Consegui treze novos aeroportos e mais de 10 mil casas de habitação dignas, além das que ele já tem conseguido”, postulou.
O senador diz que continuará atuando da mesma forma. “Tudo que o Caiado me pede e faz questão de que eu seja o intermediário, eu promovo rapidamente e consigo rapidamente. Quando não me quer como intermediário, ele também não precisa de mim. Ele tem porta aberta em qualquer ministro. Ele prefere ter isso comigo, pela amizade e saber da minha relação com os ministros Lula e saber que eu não digo não para o Caiado”, pondera.
Jorge Kajuru diz não ter nada contra Bolsonaro e fala em “otimismo” com governo Lula
O senador Jorge Kajuru reforça não ter nada contra o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Inclusive, lembra que na primeira metade da gestão bolsonarista esteve muito próximo do capitão reformado do Exército. A relação passou por fissuras e o afastamento ocorreu após o radialista ter revelado uma gravação telefônica em que o presidente da República disse que “sairia na porrada” com o senador Randolfe Rodrigues que à época era o autor do pedido de criação da CPI da Covid, que impôs duros desgastes à gestão federal.
Kajuru lembra que tinha uma “relação extraordinária” com Bolsonaro e diz que o episódio da gravação não fez que os tornassem “inimigos” na política. “De forma alguma”, reforça. Ele atribui o fracasso da gestão Bolsonaro ao enfrentamento “pífio à pandemia”.
“Bolsonaro começou bem na escolha dos ministros e depois se perdeu. A verdade sobre a derrota dele é uma só: um enfrentamento pífio à pandemia. Uma das piores, talvez a pior do mundo”
Sua derrocada começa com a demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta (União Brasil-MS). “Ele começou a ter ciúmes do ministro Mandetta que vinha fazendo um excelente trabalho no Ministério da Saúde. Ele seria o melhor ministro da história do Brasil e com ele, não chegaríamos a 700 mil mortes. Ao demiti-lo, seu governo acabou. A partir daí começaram aquelas declarações infelizes sobre a covid-19. Não preciso nem repeti-las. Depois, outras frases que ele dizia em que acionava a boca e não o cérebro”, disparou.
Kajuru postula, no entanto, que o petista aspira sentimentos positivos ao senador. “Já o Lula me faz ter otimismo para com a economia do Brasil, desenvolvimento econômico e social. Você pode discordar do Lula o quanto quiser, mas o Lula é um animal político. O que é um animal político? A inteligência política dele é descomunal. Sabe articular e conversa com todos. Tem o comando dos ministérios”, destacou, reforçando que as fissuras existentes em Brasília.
Kajuru avisa que até pode errar em sua avaliação, mas isso não significará nenhum grande problema. “Se um dia, eu tiver motivo para não ser otimista com o Governo Lula, não tenha dúvida: eu não tenho compromisso com o erro. Quando eu erro, eu volto atrás e voltarei atrás”, atestou.
Kajuru reforça interlocução de agro com Lula e promete relação melhor já no segundo semestre
Kajuru reconhece que a relação de Lula com o setor do agronegócio não é nada boa. “Alguns falam que é meio a meio 50/50. Eu não sei, talvez seja até 60/40”, avalia. No entanto, já buscou meios para tentar melhorar o relacionamento com nicho da economia ainda muito resistente ao petista. E que movimenta bilhões no PIB brasileiro.
“Tenho a impressão que o Lula vai melhorar a relação porque tem pessoas como eu mostrando aos empresários que eles estão enganados. O Lula foi ótimo no primeiro governo e mandato dele para o agro. Ninguém nunca investiu para o agro. Ele investiu o dobro do que o Bolsonaro investiu”, pontuou.
O que fazia o agronegócio gostar tanto de Bolsonaro, então? “O Bolsonaro tinha ao seu lado uma excelente ministra da Agricultura que é minha amiga pessoal, a Tereza Cristina. Ela fez um trabalho muito bom no ministério e entrou para a história”, destacou. Para ele, o atual ministro do petista em nada perde para sua antecessora. “Tal qual o [Carlos] Fávaro vai entrar. Ele me deu carta aberta para procurar os empresários do estado que represento e até do Brasil. Agora já converso com gente de São Paulo, Rio, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Estou conversando com todo o agronegócio brasileiro”, destacou.
O senador então, faz um prognóstico positivo sobre o relacionamento do Lula com o agro. “Eu acredito que neste segundo semestre isso já vai ser resolvido”, destaca. E lembra do evento que promete reunir o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. “A partir do dia 28 de julho a visão do agronegócio e a indústria e comércio eu tenho certeza que será outra”, destacou.
Questionado se Lula deve mesmo vir a Goiânia, quando o natural seria que os empresários fossem a Brasília, Jorge Kajuru pensa de forma positiva. “Tenho certeza que ele não vai negar. Embora ele esteja bem representado porque eles são dois ministros das duas pastas que tem tudo a ver com o agro e a indústria e comércio. Ele vem aqui apenas para mostrar a Goiás o respeito dele para com o estado e com todos os empresários que viram do Brasil inteiro”, completou.
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