11 de setembro de 2024
Informativo

Os lugares cantados de São Paulo

Para além da fama de cidade caótica, depressiva, solitária e problemática, São Paulo foi tema de diversos cantores e compositores renomados da música brasileira. Entre as clássicas, estão “Trem das Onze” e “Samba do Arnesto”, de Adoniran Barbosa, e “Sampa”, de Caetano Veloso. Recentemente, o rapper Criolo fez uma canção não no mesmo espírito, mas trazendo à tona uma outra metrópole: aquela egoísta, em sua “Não Existe Amor em SP”.

No entanto, existem diversas músicas sobre a cidade que são menos conhecidas e que, ou fazem referência a lugares específicos ou ajudam a compreender a personalidade dela, que, de certa forma, funciona como uma face mais real para os moradores.

Com passagens aéreas para São Paulo mais baratas, as composições podem ser um bom caminho para introduzir os turistas ou visitantes ocasionais nos vários significados da metrópole mais populosa da América do Sul. A lista a seguir pode ajudar:

Augusta, Angélica e Consolação (Tom Zé, 1973)

Característica do compositor baiano radicado em São Paulo, o samba “Augusta, Angélica e Consolação”, do álbum Todos os Olhos, de 1973, é uma analogia e um jogo de palavras interessante entre três vias importantes e famosas da cidade – duas com nomes femininos.

Destinada a duas mulheres, Augusta e Angélica, mesmos nomes de ruas da região da Avenida Paulista, a música é uma lamentação do compositor a um possível término dos relacionamentos com elas. Augusta cruza a Avenida Paulista e se divide entre o “Baixo Augusta”, mais próxima do centro, e a parte localizada no bairro dos Jardins. Angélica também é uma avenida, que liga o centro da metrópole à região da Paulista. Entre elas, está a Rua da Consolação, uma das conexões mais importantes de São Paulo, indo da Praça Roosevelt, no centro, até a Avenida Rebouças. Assim como no samba, a (sua) Consolação fica entre a Angélica e a Augusta.

Tom Zé também descreve as personalidades das duas mulheres com base nas inclinações das ruas. Augusta era “vaidosa” e “gastava o dinheiro com roupas importadas”. Na Rua Augusta, há diversas lojas de grifes alternativas, além de ser famosa pelos bares noturnos. Angélica tinha uma roupa que cheirava a “consultório médico”, uma analogia com o alto número de clínicas na avenida. No fim, ele encontra conforto sentimental na Estação da Luz.

“Há uma sacada genial sobre os significados dos nomes, do sujeito que, no largo dos aflitos, procura uma estação de luz. O jogo lúdico ajuda este sujeito a cantar as três musas com fina ironia: porque estava tudo escuro dentro do meu coração”, diz Leonardo Davino, professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Trovoa (Maurício Pereira, 2007)

Não tão conhecido do grande público, o cantor e compositor paulistano Maurício Pereira é autor de diversas canções que citam lugares de São Paulo, inclusive a possivelmente mais famosa delas: “Trovoa”, do álbum Pra Marte, de 2007.

Regravada por Maria Gadú, Metá Metá e A Banda Mais Bonita da Cidade, a canção é um relato da intensidade de uma relação entre ele e sua esposa repleto de acontecimentos ao redor da metrópole, como quando caminha sozinho pensando nela nas ruas da Lapa e da Vila Ipojuca, na zona oeste, ou quando a encontra em uma “padoca da Santa Cecília”, no centro. O próprio Maurício afirmou em entrevista de 2013 que a canção só poderia se passar em São Paulo.

“[A música] precisa do espaço e do vazio de uma cidade grande pra se desenrolar. Mas dita e cantada desse modo, só podia ser em São Paulo. Tem a geografia, tem o jeito cotidiano, meio bruto, de falar, que é coisa nossa, tem uma pitada de rap. E foi feita numa época em que eu resolvi exacerbar a minha ‘paulistanice’, como se eu me sentisse em um exílio em relação ao Brasil, como se eu cantasse em uma língua ouvida e entendida só em São Paulo, na nossa solidão, no nosso estresse”, afirmou.

Lá vou Eu (Rita Lee, 1982)

Ainda que a música não fale exatamente de um lugar específico da cidade, é impossível fazer qualquer lista musical de São Paulo sem citar Rita Lee, sua “mais completa tradução”, como escreveu Caetano em “Sampa”, também uma homenagem à metrópole.

A letra da canção, se não traduz completamente o que é ser paulistano, consegue resumir de alguma forma o seu espírito: no primeiro verso, por exemplo, Rita Lee já faz referência à solidão geralmente descrita dos seus moradores (“Num apartamento/ perdido na cidade”).

Na segunda estrofe, há uma lembrança do caráter das pessoas (“Lá vou eu/ Com o que Deus me deu/ Escutando o som/ Conquistando o céu”) e também um dos versos mais famosos da carreira dela: “E na medida do impossível/ Tá dando pra se viver/ Na cidade de São Paulo”. A própria música, enfim, faz referências a relações ocasionais, como a cara fechada do zelador do prédio.

Amanhecendo (Billy Blanco, 1974)

Ao contrário dos músicos lembrados nesta lista, o paraense Billy Blanco fez não apenas uma canção, mas um álbum inteiro sobre São Paulo. Intitulado Sinfonia Paulistana, o disco tinha como objetivo a comemoração do quarto centenário da cidade, em 1974.

Composta por 15 movimentos, a obra conta musicalmente toda a história de São Paulo, desde a fundação até os anos 1970. As canções são interpretadas por Elza Soares, Pery Ribeiro, Cláudia, Claudette Soares, Nadinho da Ilha, Miltinho, coro do Teatro Municipal de São Paulo e orquestra regida pelo maestro Chico de Moraes.

Em Sinfonia Paulistana, há referências aos imigrantes na cidade em “Capital do Tempo”, à força do dinheiro – São Paulo já era a capital economicamente mais importante do país – em “O Dinheiro” e ao movimento constante da metrópole em “Amanhecendo”, essa muito conhecida por ser a vinheta do Jornal da Manhã, da também tradicional rádio paulistana Jovem Pan.

“Qualquer paulistano que não conheça sua obra, não teve a formação completa como paulistano”, afirmou o filho de Billy, Paulo Aranha, ao Estadão recentemente.


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