Entre os mais de 800 mil profissionais da área de reciclagem no Brasil, as mulheres representam cerca de 60% a 70% dos catadores em atividade. Além da importância para a sustentabilidade das cidades, o trabalho de reciclagem garante o sustento de famílias inteiras, que dependem das mulheres, chefes de família. Em muitos casos, a principal fonte de renda vem das cooperativas de catadores.
Um exemplo vivo disso é Roseane Damaceno da Silva, uma das figuras femininas da cooperativa Beija Flor, que fica no bairro Granja Cruzeiro do Sul, em Goiânia. Roseane e outras seis mulheres trabalham juntas no galpão que recolhe e separa material reciclável. O papel da cooperativa é fazer a ligação com a empresa que derrete o que é coletado e transforma em outros itens.
Além de reciclar e transformar os materiais descartados, as cooperativas também transformam vidas. Por meio de seu trabalho com a reciclagem, Roseane sustenta os três filhos, com sorriso no rosto, batom nos lábios e satisfação por se sentir útil e valorizada. “A gente se sente mais valorizada trabalhando em grupo e os ganhos são melhores”, conta a recicladora.
A atividade que ganhou força somente há cerca de 15 anos no país, já existe oficialmente há mais de 50 anos, mas só recebeu incentivo fiscal do governo depois de 35 anos. Atualmente, a maior preocupação dos profissionais da área é a perda do benefício, que demorou tantos tempo para ser reconhecido. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu retirar o incentivo, chamado de Lei do Bem (11.196/2005), ato que itensifica o desestímulo dos recicladores.
De acordo com o vice-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Reciclagem, Romar Parreira, a atividade dos catadores é a forma mais rápida para conseguir renda para quem não teve oportunidade de qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho. Para ele, o trabalho dos recicladores é de extrema importância para o país. “Apesar dessa importância social, todo o setor da reciclagem está em risco, por causa da falta de incentivos. O grande problema desse retrocesso na lei é que o produto reaproveitado perde competitividade diante da matéria prima virgem. Assim, os principais prejudicados são os catadores, que já têm um ofício tão árduo e tão importante para o meio ambiente”, afirma Parreira.
O Brasil, que é reconhecido pela reciclagem de alumínio, reutilizando cerca de 98% de todo o material produzido nacionalmente, dá passos para trás superlotando lixões com outros materiais e comprometendo a sustentabilidade. A retirada dos benefícios representa retrocesso e causa desmotivação daqueles que trabalham para transformar e garantir a sustentabilidade, não só de suas famílias, mas de todo um país.
Luana Cardoso é estagiária pelo convênio do Diário de Goiás com a UFG (Universidade Federal de Goiás) sob supervisão de Domingos Ketelbey
Leia mais sobre: Mulheres / reciclagem / Sustentabilidade / Goiânia / Variedades