O Corpo de Bombeiros Militar de Goiás confirmou um princípio de incêndio na área do Aterro Sanitário Ouro Verde – o lixão que foi palco de desmoronamento da pilha de rejeitos há uma semana, em Padre Bernardo. O foco foi identificado no início da noite de terça-feira (24) e seu combate é um desafio diante da instabilidade do local e porque ele ameaça tanto descer quanto subir o ponto de rolamento dos rejeitos.
O foco iniciou a aproximadamente 150 metros do topo do aterro e a cerca de 100 metros do lixo acumulado no fundo do vale, em uma área estimada de 250 m². O fogo apresentava propagação lenta devido à umidade do material localizado na zona rural, no setor denominado Sítio Recreio Tapety, onde fica o lixão.
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“Uma guarnição deslocou-se imediatamente ao local e constatou a presença de um foco de incêndio em uma ravina, justamente na área que sofreu desmoronamento no último dia 18 de junho”, informou a corporação nesta quarta.
Os bombeiros apontaram que havia risco de agravamento tanto no sentido descendente — com possibilidade de rolagem de material incandescente atingindo lixo e vegetação — quanto no sentido ascendente, com potencial de alcançar o topo do aterro e ampliar significativamente a área afetada.
Situação crítica: terreno elevado impede combate corpo a corpo e uso de água
“A situação é considerada crítica em virtude da inclinação acentuada do terreno (superior a 45°), instabilidade geológica e risco de novos deslizamentos”, informaram os bombeiros. Segundo a corporação, por causa dessas características, o combate direto com equipes no local não é indicado, sendo inviável a atuação corpo a corpo.

Para agravar, os bombeiros destacam que o uso de água, por sua vez, “apresenta baixa efetividade e risco de contaminação da área por carregamento de resíduos ao fundo do vale”.
O combate mais eficaz, segundo avaliação técnica, consiste no isolamento do foco com uso de maquinário pesado, que permita escavar e circunscrever o material em chamas.
Saídas são dramáticas
Após a contenção, o gabinete de crise deverá definir a melhor alternativa: revolver o material e aplicar água — mesmo com o risco de contaminação — ou permitir que o incêndio consuma lentamente o material isolado, o que pode gerar fumaça e afetar a população próxima.
O Corpo de Bombeiros finalizou informando que segue monitorando a ocorrência e permanece à disposição das autoridades locais e estaduais. A situação foi informada às lideranças municipais e encaminhada à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (SEMAD) para providências e decisões integradas com os demais órgãos envolvidos.
A Semad divulgou que estuda medidas viáveis para conter as chamas sem expor vidas a risco. O órgão reforçou que o local é de acesso extremamente difícil, no meio do caminho entre o topo e o fundo da grota por onde os resíduos deslizaram. “Até o momento, não se comprovou a causa do incêndio e não se sabe se ele foi criminoso”, informou a Semad.
Conforme a secretaria, por volta das 10h desta quarta-feira (25), a empresa dona do lixão disse que tem condições de realizar o combate ao incêndio em poucas horas, com vistas a impedir o alastramento para o resto do maciço. “O Corpo de Bombeiros tomou conhecimento da estratégia apresentada e entendeu que existe viabilidade na execução dela”, acrescentou.
Apelo aos moradores para evitarem a área
A Semad apela aos moradores da região para respeitarem o isolamento da área do lixão e evitarem transitar no perímetro próximo, em razão os riscos que ainda existem. O acesso é permitido apenas aos técnicos e especialistas que estão trabalhando na contenção e mitigação dos danos ambientais.
Ainda segundo a Semad, a Secretaria Municipal de Saúde de Padre Bernardo tomou novas medidas para resguardar o bem-estar da população local. Agentes Comunitários de Saúde (ACS) foram enviados para orientar as famílias que vivem nas proximidades do incidente e, em casos pontuais, os agentes retornaram com médico especializado para tratar de eventuais sintomas de contaminação por gases ou por contato com a água do córrego Santa Bárbara.
O córrego Santa Bárbara, que foi contaminado, não é usado para abastecimento público, que é garantido pela bacia do Rio Descoberto, que não foi contaminada. O Santa Bárbara, entretanto, é usado para fins econômicos na região, como agricultura, piscicultura e avicultura. O uso dessa água foi vedado pela Semad.
Além de análises realizadas pela secretaria, na terça (24) a Vigilância Sanitária Municipal realizou a coleta de 13 amostras de água em Padre Bernardo, sendo um total de 7 amostras específicas na região do incidente. “Essas amostras seguiram para análise microbiológica em Goiânia, e até o momento os resultados foram satisfatórios”, informou a secretaria através de nota divulgada pela Semad.
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