Em meio à pressão do Supremo Tribunal Federal (STF) que marcou para dia 25 o julgamento que define se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) será réu no processo relativo à tentativa de golpe de Estado, os bolsonaristas remam no sentido oposto e promovem um ato neste domingo (16), no Rio de Janeiro, pedindo a anistia aos acusados de atentado contra a democracia. É o primeiro ato após a denúncia avançar no Supremo.
No discurso, o foco são os presos do dia 8 de janeiro de 2023. Mas isso se desdobra acima deles, porque o processo no STF liga os atos violentos desses presos com Bolsonaro e a cúpula do governo dele, acusados também de organização criminosa.
Essa relação tem ficado cada vez mais visível para a opinião pública, tanto que o ato de domingo não foi desmarcado, mas a estimativa do próprio ex-presidente parece ter murchado. Ele, que falava em reunir mais de um milhão em Copacabana neste domingo, passou, segundo a Revista Veja, a falar em 500 mil.
“O mais importante agora é, no próximo domingo, às 10h, em Copacabana. Espero botar lá pelo menos 500.000 pessoas, acertando um bom discurso, um bom pronunciamento. Só a direita leva povo à rua já há algum tempo. E temos que aproveitar esse momento”, disse Bolsonaro após reunião com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, segundo a revista.
A ducha fria tem caído aos poucos. A cada revelação feita dentro do processo, mostrando o nível de envolvimento e organização, foi se caracterizando para os investigadores e para muita gente que se tratou de um ato de terrorismo, inclusive com o planejamento da morte do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, do vice, Geraldo Alckmin e do ministro do STF, Alexandre de Moraes.
A investigação da Polícia Federal e a denúncia da Procuradoria-Geral da República fizeram essas ligações de forma robusta. E Bolsonaro acabou apontado como um dos líderes.
Vídeos divulgam ato
Mesmo assim o ato foi mantido. Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) divulgaram apoio à mobilização. Além deles, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia também divulgaram vídeos pedindo presença dos seguidores no protesto.
Com anistia, foco dos bolsonaristas no ato não será mais Lula, e sim a própria pele
Enquanto tentam retomar a empolgação, entretanto, até mesmo a pauta inicial, que incluía pedir o impeachment do presidente Lula, foi retirada da convocação oficial. O foco vai ser mesmo tentar livrar de punição os envolvidos na tentativa de golpe e insistir que Bolsonaro pode disputar a eleição em 2026. O ex-presidente está inelegível até 2030.
Além das centenas de pessoas já punidas pelos atos violentos do 8/1, ou presas aguardando julgamento, inclusive militares de alto escalão das Forças Armadas, Bolsonaro e outras 33 pessoas foram denunciadas e podem enfrentar penas que somam até 43 anos de prisão.
Dessa forma, a manifestação de domingo tenta pressionar o Congresso Nacional a aprovar o projeto que concede anistia aos presos pelos ataques de 8 de janeiro, e que poderia repercutir a favor dos demais denunciados. A questão é que isso perde fôlego ante a gravidade dos fatos revelados.
Não à toa, em meio ao avanço do processo no Poder Judiciário, no Congresso Nacional também anda morno o debate sobre pautar o projeto de lei que atende justamente a esse desejo bolsonarista de anistiar os condenados e presos. Por exemplo, assim que assumiu a presidência do Senado, em fevereiro, Davi Alcolumbre (UB) disse que anistia a golpistas “não é um assunto dos brasileiros”.
Aliados se complicam no Supremo e no Congresso
Além disso, com o passar dos dias, alguns dos apoiadores do ex-presidente apenas se complicam mais em Brasília. Há poucos dias, os deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE) se tornaram réus no STF por venda de emendas parlamentares, envolvendo crimes de corrupção passiva e organização criminosa que praticou até ameaça de morte, conforme a denúncia da PGR.
Ainda mais recente, é o caso também da situação delicada em que ficou o deputado federal goiano, Gustavo Gayer (PL), ameaçado de denúncia à Comissão de Ética do Congresso Nacional que pode cassar o mandato dele.
Voz que sempre brada a favor de Bolsonaro, o deputado esta semana ofendeu de uma vez nada menos que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, a ministra Gleisi Hoffman e o presidente da Câmara, Hugo Motta.
Ele removeu a publicação altamente ofensiva que falava de “trisal” e “garota de programa” e tentou enviar pedido de desculpas a Alcolumbre, mas essa reação ainda não veio entre os ofendidos, ao contrário. Além de Alcolumbre avisar que tomaria providências, também o PT de Gleisi divulgou que denunciou o deputado goiano no Conselho de Ética por quebra do decoro parlamentar.
No ato dos bolsonaristas por anistia, neste domingo, Gayer é um dos aliados do ex-presidente esperados para discursar e a expectativa é sobre como ele vai se comportar.
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