22 de dezembro de 2024
Lênia Soares

Toma lá, dá cá

Bastou o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), voltar ao centro das investigações para os deputados goianos armarem estratégia de defesa baseada no desvio de foco. Um dia após a divulgação da autorização do ministro Humberto Martins, para inquirição sobre o possível relacionamento entre o tucano e o contraventor Carlinhos Cachoeira, a CPI da Assembleia aprovou a intimação e quebra de sigilos fiscal e telefônico do coordenador geral da campanha de Iris Rezende ao governo do Estado em 2010, Sodino Vieira.

 

Uma reação rápida à ameaça de desestabilização do plano de gerenciamento de crise do governo Marconi. Na prática, a CPI da Assembleia não conseguiu nenhuma informação relevante que não tenha sido investigada anteriormente pela Comissão do Congresso, no entanto, ela tem amparado o governador na barganha política dentro do Estado. Se o cerco se fecha de lá, eles pressionam de cá. O resultado? Uma oposição calada que não colabora com o escancaramento da verdade.

Desde que foi revelado a infiltração do grupo comandado pelo bicheiro na cúpula do governo de Goiás, beneficiando indicados de Cachoeira com cargos no Estado, a situação de Perillo ficou delicada. A revista Época chegou a divulgar o conteúdo de 169 ligações telefônicas entre integrantes da organização sobre trocas de favores políticos envolvendo o Executivo goiano.

A venda da casa de Perillo para o contraventor, paga com dinheiro da empresa Delta, foi outro ponto fundamental para a evidência do envolvimento, mesmo que indireto (já que foi intermediado diversas vezes pelo ex-senador Demóstenes Torres), do líder do Executivo goiano com o grupo criminoso.

Marconi amenizou a situação com seu show de discurso na CPMI. Ânimos acalmados, atenções desviadas e eleitores convencidos. Não. O governador se antecipou no depoimento e teve sua fala desconstruída com novas provas que voltam a incriminá-lo no processo.

Atualmente os membros da Comissão nacional discutem a reconvocação de Carlos Cachoeira, já que na primeira participação, o réu utilizou seu direito constitucional de ficar em silêncio. O próximo – se a força da oposição no Congresso não prevalecer, ou mesmo, se o PSDB desistir da blindagem ao governador goiano, que tem provocado desgastes à sigla – poderá ser Marconi Perillo. Ele poderá apresentar novos e elaborados argumentos justificando a contradição evidenciada pelas novas provas.

Enquanto isso em Goiás, os integrantes da “CPI de faixada”, como denominou o deputado estadual Luis Cesar Bueno (PT), ignoram o desgaste com a imagem e forçam convocação de pessoas ligadas ao ex-governador. O contraponto midiático é instantâneo. Marconi nas manchetes de ontem, Iris nas de amanhã.


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