O vereador Tayrone di Martino (PT), ex-candidato a vice-governador na chapa de Antônio Gomide, quebrou o silêncio sobre os motivos que o fizeram renunciar à presença na disputa. O parlamentar usou a tribuna da Câmara na manhã desta quinta-feira (9) para criticar a Prefeitura de Goiânia e voltou a criticar nominalmente o prefeito da capital, Paulo Garcia (PT).
Também em entrevista coletiva, o petista disse não ter decidido sobre o processo eleitoral no segundo turno e admitiu ter recebido convites de outrs siglas.
Confira a entrevista na íntegra:
Passado o primeiro turno das eleições, existe uma conversa de que o senhor pode ir para o PTB. Além desse partido, o senhor já recebeu outros convites?
Tayrone di Martino: Primeira coisa que eu acho que precisa ficar claro é o motivo exato da minha renúncia, porque tem pessoas criando inverdades. Eu renunciei porque pela primeira vez na história do Brasil, um partido suspendeu um candidato que fazia parte da chapa majoritária, por esse candidato ter votado contra o aumento do IPTU, num projeto do prefeito Paulo Garcia, e o prefeito o ameaçou diversas vezes. Me ameaçou por telefone, quem estava aqui no dia 23 percebeu a pressão que estava acontecendo. O prefeito me falou claramente, por telefone, que poderia me expulsar do partido e acabar com a minha vida política. Depois ele demitiu todas as pessoas ligadas a mim, e não foram pessoas indicadas. Muita gente que já estava na prefeitura, que me ajudaram como vereador, e que só porque me ajudaram ou eram meus amigos foram demitidos, mostrando que a prefeitura parece loteada. Se demitiram essas pessoas só por causa de uma votação, quer dizer que não precisavam dessas pessoas na prefeitura? Então, é preciso fazer um questionamento, não só as minhas pessoas, como as do Felisberto, mas todos as pessoas, pois isso significa que tem muita gente que não é necessária na administração municipal. O Paulo Garcia, no dia 23, chamou uma reunião da executiva. Na reunião ele disse: “ouçam eles (Tayrone e Felisberto), ou me ouçam”. Fazendo essa ameaça clara a executiva municipal para que eu fosse penalizado. Tive uma suspensão da executiva que não foi correta, tanto é que não tinha nem quórum para dar a suspensão. Ele tentou me constranger mandando gente na sessão do dia 21 a noite, que foi feita as escuras, com adesivos do Gomide, que questionavam o meu voto já que eu estava na chapa dele. No dia seguinte, ele começou a assediar até gente do meu gabinete, ou seja, gente que não tinha nada a ver, só porque eram do PT, ou porque eram lideranças fortes, o Paulo começou a falar: “você fica com o Tayrone, ou fica com o PT e comigo”. Então tudo isso, somado a entrevista que ele deu tentando me desqualificar e as pessoas nem me cumprimentarem mais em evento de campanha. Eu tinha que tomar uma decisão. Por isso eu tomei a decisão pela renúncia da candidatura. Tive uma preocupação porque as pessoas falaram que a campanha do Gomide poderia ser impugnada. Eu pedi para esperar, para eu poder analisar juridicamente e depois que o próprio advogado do PT, Edilberto Dias, nos deu toda segurança jurídica que não impugnaria os votos, ou seja, se impugnar agora, a responsabilidade é dele. Tendo essa segurança, eu oficializei a renúncia. Uma renúncia que é uma resposta a truculência do PT, é uma resposta a truculência do Paulo Garcia, e uma resposta de que na Câmara, qualquer parlamentar pode votar naquilo que acredita. Estou com a consciência tranquila, com a cabeça erguida e agora estou livre para fazer o melhor mandato que um vereador possa fazer nessa casa. Posso dizer, com clareza, que depois de todo esse episódio é que começa o meu mandato de vereador. Eles tentaram me colocar numa camisa de força e agora eu vou discutir com a sociedade os grandes problemas da cidade. Eu quero discutir mobilidade urbana, quero discutir saúde, eu quero discutir educação, eu quero discutir segurança, mesmo não sendo responsabilidade do município, mas qual o papel social do município nessa área. Eu quero fazer os grandes temas serem debatidos nessa casa, para ajudar quando for preciso, e para denunciar quando estiver errado. Essa é a minha postura a partir de agora, vocês vão ver a postura que eu sempre acreditei, que é a postura de uma vereador que defenda em primeiro lugar o interesse da cidade. Essa é minha atitude na Câmara a partir de hoje.
O senhor vai para oposição?
Tayrone di Martino: Eu não digo oposição, mas também não vou ficar na situação. Eu serei um vereador que vai defender as pessoas que me elegeram, mais do que as pessoas que me elegeram, eu vou defender a população de Goiânia. Eu sempre disse isso, não é a primeira vez que eu falo, é um absurdo essa lógica de oposição e situação. É preciso fazer uma discussão do que é bom e ruim para a cidade. O prefeito precisa ter maturidade para discutir com os vereadores, para tê-los como aliados, para o bem da cidade. Agora, se não tem essa capacidade política e fica fazendo esse joguinho de oposição e situação, nós teremos só jogadas políticas e não teremos as mudanças que a população deseja.
Quanto a convites que o senhor recebeu de outros partidos. Como será essa questão?
Tayrone di Martino: Eu estou filiado no PT, e o PT precisa se posicionar. Eu vou fazer todos os debates, todas as movimentações internas, até porque eu tenho apoio de gente dentro do PT, que faz os questionamentos que eu faço. Se o PT entender que eu não sou bem vindo no partido, ele precisa tomar uma decisão. Se isso acontecer, ai que eu vou discutir outras coisas, mas por enquanto eu estou no PT.
Nesse segundo turno, o senhor apoia a reeleição de Marconi Perillo?
Tayrone di Martino: Eu não me decidi sobre o processo eleitoral. Até porque eu estou participando de um conflito interno no partido, de uma briga interna, e nessa briga eu estou vendo todas as armas e tudo que eu preciso fazer, para que eu mantenha o mandato que me foi dado pela população, e para que eu defenda a cidade. Então, eu não tomei nenhuma decisão sobre o processo eleitoral estadual. Acho que analisando, avaliando, posso talvez tomar uma decisão, mas agora é uma decisão da população do Estado de Goiás.
Além do PTB, quem mais convidou o senhor?
Tayrone di Martino: Tive convites de vários partidos. Tive convite do PTB, recebi informações do PSD, da Rede, que é um partido que está sendo fundado, tive solidariedade do PC do B, Solidariedade não houve convite formal para eu me filiar, tive solidariedade de gente do PMDB, de gente do PSDB. As pessoas estão entendendo, que a minha renúncia e o meu ato, foi para denunciar a pressão e a forma como o executivo tenta tratar os vereadores de Goiânia, principalmente, os vereadores do PT, para atender interesses próprios, sem ser interesse da cidade.
Em algum momento desse processo, questionando a Prefeitura e essa mudança de posição em relação à base do prefeito, e também da renúncia a vice, o senhor conversou com alguém do PSDB, com o governador Marconi Perillo? Existem especulações de que o senhor teria sido influenciado pela base do Marconi.
Tayrone di Martino: Na verdade, a minha decisão foi minha, das pessoas que são próximas a mim, das pessoas que politicamente eu tenho confiança, que são pessoas do PT, ou que são pessoas que tem uma coerência política daquilo que eu defendo. A última vez que eu estive com o governador Marconi Perillo foi em uma reunião de todos os vereadores da Câmara, que nós fomos lá para discutir a questão do transporte coletivo. Na mesma reunião, que foi no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, e pedi para que fosse executada a obra de esgoto do Jardim Nova Esperança, inclusive é a obra que está sendo feita. Fora isso, eu não tive mais contato, não tenho amizade, não tenho ligação, não tenho nenhum tipo de envolvimento com o governador.
Teve gente que falou que houve uma desgaste da oposição de forma geral, possivelmente em benefício do governador nessa campanha eleitoral. Qual a movimentação do senhor?
Tayrone di Martino: Não, eu não entendo isso. Até porque, eu acho que o Gomide teve uma votação dentro da média esperada. Se você tem as pesquisas falando que ele teria 5%, 6%, 7% e ele tem 10%, está dentro da margem de erro e dentro do que estava previsto. Então eu não acho que teve qualquer influência, ou qualquer movimentação favorendo um ou outro candidato. O que teve sim, foi uma movimentação provando uma divisão interna do PT, da incompetência da gestão municipal e da incapacidade que atual prefeito tem de gerir o próprio partido e ainda mais a cidade, ou seja, é como se fosse um elefante em uma loja de louças.
Nós sabemos a proximidade que o senhor tem com o Padre Robson. Que peso teve isso que está sendo especulado, que teria sido uma pressão dele, para que o senhor mudasse de atitude na Câmara?
Tayrone di Martino: O Padre Robson é meu amigo e uma pessoa com quem eu trabalho, eu sempre deixei isso muito claro. A minha relação de trabalho com o projeto que eu desenvolvo na AFIPE, é totalmente diferente do meu projeto político. Eu não faço uma coisa dependente da outra. São atividades desvinculadas. Na AFIPE eu não falo que sou vereador, não falo de política, não peço voto, não tem nenhum tipo de interferência política. As pessoas que estão falando isso, falam tentando criar aquilo que não existe. Quando eu converso com o Padre Robson, eu falo das coisas de trabalho que eu desenvolvo com ele.
Ontem (8), o vereador Felisberto Tavares (PT), que também está suspenso do partido, anunciou apoio à Marconi Perillo. Mas o PT faz oposição ao governo de Marconi Perillo. O senhor cogita mudar sua postura política nessa eleição?
Tayrone di Martino: Eu não me decidi sobre o processo eleitoral, não parei para pensar sobre isso. Eu não vou nem cogitar porque nesse momento eu quero fazer as discussões necessárias para a cidade, como vereador.
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