05 de dezembro de 2025
Denúncia Médica • atualizado em 06/08/2025 às 21:51

Pacientes denunciam neurocirurgião de Goiânia ao Cremego após sequelas em cirurgias

Defesa alega que até a presente data, qualquer processo vinculado ao médico, seja em esfera judicial, administrativa ou ética
Vítimas afirmam ter sofrido com sequelas permanentes e alegam negligência médica. Fotos: Reprodução/Diário de Goiás.
Vítimas afirmam ter sofrido com sequelas permanentes e alegam negligência médica. Fotos: Reprodução/Diário de Goiás.

Pacientes que se submeteram a cirurgias com o neurocirurgião Tiago Vinicius Silva Fernandes, em Goiânia, relataram complicações graves de saúde após os procedimentos. Ao abrirem denúncia junto ao Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), eles afirmam ter sofrido com sequelas permanentes e alegam negligência médica. Os relatos foram feitos em entrevista ao editor do Diário de Goiás, Altair Tavares na manhã desta terça-feira (6).

Edson Alves, uma das vítimas, relata seu drama: “Depois da cirurgia, eu não tenho mais movimento do pé. Sinto muitas dores que atrapalham minha vida. Antes eu jogava futebol, trabalhava muito, era uma vida corrida. Hoje, só fico em casa, não consigo mais ter a rotina que tinha. Para me locomover, preciso da ajuda da minha família. Muitas coisas da minha vida foram decepadas.”

Ele diz que só agora conseguiu coragem para denunciar: “Eu tinha um pouco de medo, mas com o apoio de outros pacientes e do advogado, fui ganhando força. Sozinho, eu não tinha sucesso, porque ninguém me dava atenção. O médico não me deu nenhum suporte depois da cirurgia. Nem telefone para contato, só falava com a secretária e nunca atendiam. No hospital, a atenção era quase nenhuma.”

Vale lembrar que em junho deste ano, Márcio Lima, um outro paciente, apresentou as denúncias na Tribuna Livre da Câmara Municipal de Goiânia, durante a sessão. De acordo com o empresário, a cirurgia feita pelo neurocirurgião violou protocolos de sociedades médicas especializadas em cirurgia de coluna.

Ele também denuncia o atendimento e a postura do neurocirurgião. “O que estamos fazendo é o que deve ser feito para quem se sente prejudicado por erro ou negligência médica: buscar o conselho e a justiça. Eu ofereci denúncia às autoridades para que haja fiscalização sobre os planos de saúde. Minha ação é contra o plano, o hospital e o neurocirurgião. Hoje, estamos protocolando mais quatro denúncias de pessoas que passaram pelo mesmo médico, que sofreu abandono médico e negligência”, disse em entrevista.

Ambos receberam atendimento pelo plano de saúde Hapvida, que em nota enviada ao Diário de Goiás em junho, afirmou que tem mantido contato com o empresário e que está à disposição dos clientes citados por Edson Alves, para prestar o suporte necessário. A empresa também afirmou estar à disposição para prestar esclarecimentos às autoridades e instituições responsáveis.

Ao registrarem denúncia no Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), os pacientes relataram ter sofrido sequelas permanentes. Foto: Altair Tavares/ Diário de Goiás.

Posicionamento da defesa

Em nota geral enviada à reportagem, a defesa do médico afirma que o profissional “desconhece a existência de qualquer processo judicial ou ético-disciplinar instaurado contra si”. Ainda segundo o comunicado, a matéria “se vale de expressões genéricas, como ‘diversos pacientes’, sem indicar datas, contextos clínicos, nomes completos ou qualquer elemento objetivo que possibilite o legítimo exercício do contraditório e do direito de resposta por parte do médico”, se referindo às matérias anteriores de outros veículos que chegaram ao conhecimento da defesa. (Confira a nota na íntegra ao final).

A nota, assinada pelos advogados Jordão Horácio e Airton Pereira, também destaca que o médico possui uma trajetória marcada por conduta técnica e ética, e que “não há, até a presente data, qualquer processo vinculado ao médico, seja em esfera judicial, administrativa ou ética”. A defesa reforça que permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos formais que venham a ser solicitados por meios legítimos.

Andamento do processo e novas cirurgias

Sobre o andamento do processo, Márcio comemora uma conquista recente: “Ontem, o Nat Jus, que auxilia o judiciário com especialistas, determinou o reembolso urgente para minha segunda cirurgia. Pode ser que eu precise de uma terceira. Os exames e laudos comprovaram que a primeira cirurgia não teve eficiência. A justiça está reconhecendo que houve um fato grave.”

Ele também comenta as tentativas do médico de intimidá-lo: “O neurocirurgião entrou com ações contra mim, dizendo que eu o difamava, mas perdeu todas. O Ministério Público arquivou o caso. Ele até registrou um boletim de ocorrência contra mim, porque eu divulgava meu problema e alertava outras pessoas. Minha denúncia já revelou oito casos.”

Edson Alves reforça o sentimento de abandono após a cirurgia: “Eu queria fazer nova cirurgia, mas como vou operar com o mesmo médico que me complicou? Tenho receio. Passei por outros especialistas que indicaram um procedimento mais tranquilo, que não afetaria minha coluna. Uso órteses, cinta, para me ajudar. Acho que não tenho esperança de recuperar a função do pé, porque os médicos me disseram que não tem reversão”.

Confira a nota da defesa do neurocirurgião Tiago Vinicius Silva Fernandes na íntegra:

Nota
A respeito da reportagem publicada, que trata de supostas falhas médicas envolvendo um neurocirurgião de Goiânia, a defesa do médico esclarece que o profissional desconhece a existência de qualquer processo judicial ou ético-disciplinar instaurado contra si. Importa frisar que a matéria se vale de expressões genéricas, como “diversos pacientes”, sem indicar datas, contextos clínicos, nomes completos ou qualquer elemento objetivo que possibilite o legítimo exercício do contraditório e do direito de resposta por parte do médico, não é possível, sequer, constatar que se tratam de pacientes atendidos pelo médico.

A ausência de dados mínimos e a abordagem sensacionalista impedem, inclusive, a identificação concreta dos fatos ou da sua eventual veracidade.

O médico possui uma trajetória marcada por conduta técnica e ética compatível com as melhores práticas da neurocirurgia, tendo realizado milhares de procedimentos com zelo, responsabilidade e dedicação aos seus pacientes. Não há, até a presente data, qualquer processo vinculado ao médico, seja em esfera judicial, administrativa ou ética. Vale lembrar que a caracterização de erro médico demanda rigoroso processo de apuração, conduzido por autoridade competente e instruído com prova técnica pericial.

Por fim, a defesa reitera que permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos formais que venham a ser solicitados por meios legítimos, sempre no espírito da transparência e do respeito às instituições.”

Jordão Horácio – Advogado especialista em Direito Público e da Saúde, Doutor em Saúde Global (USP)

Airton Pereira – Advogado e pós-graduando em Direito Médico e da Saúde


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