Morando há mais de 15 anos no Brasil, Glenn Greenwald tem uma relação bem próxima com o jornalismo brasileiro. Por aqui, revelou escândalos de espionagem da Agência Nacional Norte Americana (NSA, sigla em inglês). Foi premiado por isso. Há três meses, tem protagonizado manchetes de jornais, tem seu trabalho reconhecido por determinados segmentos da sociedade e também odiado por outros. Tem até quem já tenha pedido sua prisão seguida de deportação para os Estados Unidos. A série Vaza Jato tem dado o que falar e o editor do The Intercept Brasil esteve ontem (03/09) na cadeira giratória do Roda Viva, da TV Cultura. Ele afirmou inclusive que os vazamentos fortalecem o combate à corrupção e também a Lava Jato.
Durante duas horas, Glenn deu muitas respostas sobre como obteve as conversas e até que ponto é ético e moral publicar diálogos adquiridos ilegalmente. “Se for de interesse público, não só pode, como deve”, explicou. Sua teoria é essa: procuradores e o então juiz da força-tarefa atuaram “às sombras” da lei no combate a corrupção. “É impossível combater a corrupção com um corrupto ou com métodos corruptos, exatamente o que nosso material está mostrando”, explicou.
Glenn foi lembrado que a Lava-Jato ao longo dos 5 anos recuperou mais de R$ 3 bilhões para a Petrobrás e realizou diversas prisões e condenações. Ele respondeu dizendo que já chegou a defender a Operação, inclusive na frente de procuradores como Deltan Dallagnol em palestra nos Estados Unidos, mas voltou a ressaltar que o combate a corrupção não pode ser feito com métodos promíscuos.
“É muito importante entender que eu era sempre um defensor da Lava Jato e também da luta e o combate à corrupção. Em 2017 eu dei um discurso onde estava Deltan Dallagnol e outros três procuradores da Lava Jato onde eu defendi e elogiei o trabalho da Lava Jato falando que corrupção é um problema enorme no Brasil, como alguém que mora aqui há quase 15 anos. Mas é impossível combater a corrupção com um corrupto ou com métodos corruptos, exatamente o que nosso material está mostrando”, mencionou.
Então, qual o legado que a Vaza Jato tem em detrimento à Operação Lava Jato? Ele afirma que a série de vazamentos não enfraquece a Operação, ao contrário. “Então eu acredito que o trabalho jornalístico que estamos fazendo não está enfraquecendo a Lava Jato, nem o combate a corrupção. Pelo contrário, porque está levando mais integridade e mais credibilidade porque é impensável usar métodos corruptos como um juiz colaborando com procuradores nas sombras em segredo e depois negando que fez isso publicamente.”