15 de novembro de 2024
Lênia Soares

Candidatura Friboi é mídia nova para velha embalagem; nome de confiança no PMDB é outro

O lançamento oficial da pré-candidatura do empresário José Batista Júnior, o Júnior do Friboi (PMDB), ao governo do Estado, interrompeu o acordo pré-nupcial do partido, que visava a garantia externa de coesão, e expos a mácula consolidada da divisão.

 

Está mais para lançamento de campanha de produto da JBS: para firmar conceito. Ver se cola uma “marca eleitoral” de confiança na cabeça do goiano. Assim: ‘É Friboi? Então vote!’

Mas isso, sem Tony Ramos…

Hoje, boa parte da agenda política do PMDB e partidos aliados é dedicada a compor consensos e unificar interesses.

O lançamento do já lançado e relançado Friboi ao governo, mexe na estratégia. Uma fagulha na batalha interna que altera o cálculo do rumo da batalha central: a eleição.

Deixar Friboi cair na estrada como pré-candidato oficial do partido é como o slogan do Banco do Brasil: bom para todos. Sossego durante sua peregrinação pelo interior de Goiás e oportunidade para que ele se consolide, ou frite de vez sua postulação.

É uma visão. Os dois lados teriam o que ganhar e perder com a jogada, independente de quem acendeu o pavio.

Seria como uma estratégia ainda não compreendida pela maioria – e a incompreensão não faz parte do jogo?

Nesse raciocínio, não seria de bom tom admitir que a chance dada ao empresário pode ser o xeque-mate que vai matar suas pretensões. Por outro lado, o empresário age. Age para tentar mudar a realidade de hoje, que para ele não é nada boa.

A outra visão das coisa aponta para mais do mesmo: guerra interna atiçada. O efeito imediato da faísca.

Senão vejamos. 

Em entrevista à rádio Bandeirante, o ex-secretário geral do PMDB, atual diretor da Fundação Ulysses Guimarães, Kid Neto, foi incisivo no sentimento de ‘outra’ ala partidária contrariada com a postulação de Júnior. “Não estou entendendo a estratégia de lançar um nome que não é o nome do coração peemedebista.”

Para Kid, o candidato “do coração peemedebista” é o que não se declara: Iris Rezende. 

Sem fazer questão do cuidado, ao defender o nome de Iris como candidato em 2014, Kid diz não temer nova derrota para o governador Marconi Perillo (PSDB) e fundamenta sua defesa nas pesquisas divulgadas. “Se não tivermos sucesso com o homem que está liderando as pesquisas em Goiás, teremos com o que patina com 1,4% das intenções de voto do eleitorado?” 

O diretor da Fundação presidida por Dona Iris (PMDB) é áspero em suas críticas contra a imagem de Friboi. E resume: “Mesmo morto, Iris Rezende seria a maior liderança que o PMDB tem hoje em dia; vivo, sua representação é inquestionável.”

Ainda quando dividido, nenhum partido comete suicídio. Mas há os que implodem no calor da batalha.

O fato é que Junior vai se reapresentar e Iris se calar. E Iris, calado, diz mais que Friboi falando.

Por mais desgastante que a situação aparente, no entanto, não se pode perder de vista a oportunidade dessa divisão agora beneficiar exatamente ele, Iris, uma liderança capaz de explorar justamente o tiroteio localizado para ganhar terreno na luta interna, manejando desejos, vaidades e postulações.

Um universo paradoxal, em que ninguém rasga dinheiro e as chances de unificação jamais desaparecerão.

E em que a marca de confiança, aqui, pode não ser Friboi. 


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