“Eu tenho contrato com o consórcio do Maracanã”. “A tradição do Maracanã tem de ser respeitada”. Estes têm sido os argumentos de Fluminense e Vasco, respectivamente, a cada oportunidade em que os rivais se cruzam pelo caminho. Neste sábado (22), às 19h, pela semifinal do Campeonato Carioca, a polêmica chega ao seu sexto capítulo, com o clube das Laranjeiras, novamente, tendo sua vontade prevalecida, embora o Vasco não tenha só motivos para lamentar. Pelo contrário.
Com cinco confrontos até aqui desde que a confusão foi levantada, o Vasco, mesmo contrariado, ainda não sabe o que é perder com sua torcida se posicionando à esquerda das cabines de rádio do estádio -lado oposto onde acostumou-se a se localizar por décadas. Foram três vitórias e dois empates.
O Fluminense, porém, aposta no bom momento da equipe, que já foi campeã da Taça Guanabara e vem de classificação na Copa do Brasil sobre o Goiás.
Entre os jogadores tricolores, as polêmicas estão sendo deixadas de lado. “Vou entrar para jogar bola, longe de qualquer polêmica. Vou para jogar futebol, nada além disso”, declarou o jovem atacante Pedro.
No Vasco, a contrariedade é visível em todos os dirigentes, o principal deles, o presidente Eurico Miranda, que foi até as últimas consequências tentando alocar os torcedores vascaínos no lado onde interpreta como de direito. Através do departamento jurídico, entrou com um recurso tentando cassar o mandado de garantia tricolor e não obteve sucesso.
Entre os jogadores, porém, há um consenso de indiferença. Eles preferem focar no resultado da partida, que pode levar o Vasco à disputa pelo tricampeonato carioca.
“Particularmente, não me ligo muito nisso. Onde a torcida vai ficar não faz diferença”, opinou o meia Guilherme Costa.
‘É O DESTINO’
A polêmica teve início em julho de 2013, quando Fluminense e Vasco iriam marcar a reabertura do Maracanã após obras visando a Copa do Mundo do ano seguinte. O clube das Laranjeiras, já com o contrato com o consórcio, não abriu mão de abrigar sua torcida no lado direito. Os tricolores, empolgados, não perderam a oportunidade de provocar o rival e, no dia 21, data da partida, pregaram uma peça com o mosaico com a frase “É o destino”, relembrando uma música cantada na década de 80, quando o Flu levava vantagem nos confrontos com o Vasco (a partir da década de 90 a tendência se inverteu).
Em campo, porém, o Vasco, comandado por Juninho Pernambucano, levou a melhor. Venceu por 3 a 1, com direito a gol e provocação do “Reizinho” que, na comemoração, foi em direção à torcida tricolor e gritou: “Este lado é nosso!”.
Os torcedores vascaínos, por sua vez, deixaram o estádio cantando, ironicamente, a frase “é o destino”.
RONALDINHO
Outro ponto marcante nesta polêmica aconteceu dia 19 de julho de 2015. Na ocasião, Eurico não só havia perdido a “queda de braço” sobre o lado das torcidas como também teve que assistir a apresentação de Ronaldinho Gaúcho no Maracanã pelo Fluminense, justamente o craque que, semana antes, o dirigente havia cravado que estava “90%” fechado com o Vasco.
Inconformado por, novamente, não conseguir colocar os vascaínos ao lado direito das cabines de rádio, Miranda propôs uma espécie de “boicote”, recomendando que os torcedores não comparecessem ao estádio.
Em campo, mais uma vez, os jogadores ignoraram as polêmicas extracampo e um jovem Jhon Cley, com um chutaço de fora da área, calou o “Maior do Mundo” lotado de tricolores dando a vitória ao Vasco por 2 a 1.
ESTÁDIOS
Os três últimos clássicos entre Fluminense e Vasco acabaram acontecendo em outras praças. Em 1º de novembro de 2015, pelo Brasileiro, eles atuaram no Engenhão em função do Maracanã estar fechado para os Jogos Olímpicos do ano seguinte.
Na semifinal da Taça Guanabara de 2016, ainda com o Maracanã fechado, os clubes venderam a partida para Manaus.
Já este ano, na estreia do Campeonato Carioca, o duelo voltou a acontecer no Engenhão em função do Maracanã estar fechado por conta do imbróglio envolvendo o consórcio.
ORIGEM
Fluminense e Vasco duelam pelo setor à direita das cabines de rádio desde a reabertura do estádio após as obras para a Copa do Mundo. O Tricolor, na ocasião, assinou contrato com a Odebrecht, que administra o local, e entende que, por conta disso, tem o direito de escolha em relação ao posicionamento de sua torcida.
Já o Cruzmaltino entende diferente e levanta a questão da tradição, uma vez que o clube conquistou o direito de escolher o lado direito após ter se sagrado o primeiro campeão do Maracanã, em 1950.
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