A deputada Iris de Araújo (PMDB/GO) anunciou que vai escrever sobre os bastidores da Comissão Parlamentar Mista do Cachoeira (CPMI). O anúncio foi feito num pronunciamento na Camara dos Deputados, após a derrubada do relatório do deputado Odair Cunha (PT) por 18 a 16, na CPMI.
No discurso, a deputada anunciou também a pretensão de candidatar-se a presidente do PMDB para defender a bandeira da “renovação de práticas e costumes da legenda (PMDB).
Demonstrando indignação e frustração pelo resultaddo adverso na CPMI do Cachoeira, a deputada Iris de Araújo afirmou que considera “inaceitável que o relatório final, de 5 mil páginas, tenha sido substituído por uns poucos garranchos que nada dizem”.
DOCUMENTO: DISCURSO DA DEPUTADA FEDERAL IRIS DE ARAÚJO NA CAMARA DOS DEPUTADOS, EM 19/12/12
“Este resultado é uma vergonha para o País. Joga-se por terra um trabalho sério, exaustivo, realizado ao longo de seis meses por parlamentares que ofereceram o seu melhor para avançar nas investigações a respeito desta quadrilha que infiltrou nas estruturas do poder público e de empresas para praticar a contravenção, os atos ilícitos, atuando o tempo todo como corruptor.
É inaceitável que o relatório final, de 5 mil páginas, tenha sido substituído por uns poucos garranchos que nada dizem. Isso é um escracho. É o pior momento do Congresso Nacional e coloca uma pá de cal na imagem desta instituição que deveria ser exemplo de seriedade, de credibilidade, mas que acabou sendo palco de manobras espúrias comandadas pelo PSDB e por integrantes do PMDB.
Quero, publicamente, repudiar estes atos! Como disse, considero vergonhosa a posição de integrantes do PMDB que deveriam se guiar pelos interesses maiores da sociedade brasileira que não compactua, em hipótese alguma, com a corrupção e com o crime organizado. Quero dizer que sou uma das fundadoras do PMDB e que, jamais, ao longo de nossa história marcada pela luta em prol dos ideais democráticos presenciei atos tão mesquinhos, tão pequenos, tão dissociados dos interesses do povo brasileiro.
Isso não ficará impune. De imediato, quero dizer que, caso o vice-presidente Michel Temer não se disponha à disputa, estarei mais uma vez a percorrer este país como candidata à presidente nacional do partido justamente tendo como bandeira central a renovação de práticas e costumes da legenda.
E não temo ingerências, nem quaisquer atos que visem boicotar este legítimo direito. No passado recente, já me dispus à disputa da presidência nacional. Contudo, agora estou amparada por uma bandeira forte que, tenho certeza, vai motivar toda a militância: a bandeira do resgate do PMDB autêntico, do PMDB de lutas, contra a corrupção, contra os atos ilícitos.
O alerta eu já tinha feito no discurso de terça-feira, quando, de certa forma, já prenunciava esta catástrofe. Dizia que a derrota do relatório elaborado pelo deputado Odair Cunha, que pede o indiciamento de 29 autoridades e a responsabilização de outras 12, é, simplesmente, jogar fora e anular por completo o árduo trabalho realizado pela CPMI.
Deixar passar em branco o documento final produzido pela comissão representou, sobretudo, um duro golpe na imagem do Congresso Nacional, que se apresenta à sociedade como conivente com práticas ilícitas. Mais: desmoraliza-se por completo o instituto da CPI. Neste sentido, quero deixar claro que pretendo também me integrar aos segmentos independentes desta Casa, protestar e realizar todos os esforços para constituir um forte movimento em defesa da imagem do Congresso Nacional, contra esta sequência de manobras e atos espúrios que corroem esta instituição, pela retomada das lutas sintonizadas com as aspirações da sociedade brasileira, contra as bandalheiras, a canalhice, ladroeira, as negociatas, a velhacaria.
Não há vencedores neste episódio, só perdedores. Livrar-se de imediato de um pedido de indiciamento não significa que ficará fora das barras da justiça. Como disse ontem, o fato de o relatório não ter sido aprovado não inviabilizará, na Justiça, os efeitos do seu conteúdo. Investigações de quem deve ser investigados continuarão. E a justiça será feita, ou pelos juízes, ou pelas urnas. Aqueles que cantam e dançam em cima da lama sabem que, fatalmente, escorregarão.
O relatório do deputado Odair Cunha só fez relatar o que todos os goianos já sabiam: a conivência do governador com Carlinhos Cachoeira, que era o principal financiador das campanhas eleitorais, notadamente da última, quando o Estado foi violentado pelo peso do poder econômico gerado pela contravenção.
Aliás, não há notícia na história de Goiás de tanto dinheiro jogado numa campanha e, só depois da Operação Monte Carlo, o povo pôde finalmente ter acesso à verdade! O governador de Goiás cometeu seis crimes e o relatório deixou isso bem claro: formação de quadrilha, corrupção passiva, advocacia administrativa, tráfico de influência, falso testemunho e lavagem de dinheiro. A partir de agora já começarei a escrever a verdadeira história dos bastidores da CPMI.