07 de agosto de 2024
Eleições 2022

Eleitor jovem será protagonista na campanha e partidos terão de reconfigurar mensagem, avaliam especialistas

A tendência é que os jovens colem de vez na política e não deixem de participar nos bastidores do período eleitoral, forçando assim uma nova configuração para que políticos possam realizar suas campanhas
Cresce número de eleitores entre os 16 e 18 anos no Brasil (Foto: TSE)
Cresce número de eleitores entre os 16 e 18 anos no Brasil (Foto: TSE)

O aumento percentual de jovens no processo eleitoral, após o período de regularização do título de eleitor finalizado nesta quarta-feira (04/05), irá forçar partidos políticos a adaptarem seus discursos durante o período eleitoral. Analistas, professores e representantes de partidos ouvidos pelo Diário de Goiás avaliam que o perfil entre os 18 e 24 anos serão protagonistas nas urnas eletrônicas.

“Historicamente, a tradição mostra que esses votos como eles tinham uma baixa porcentagem de participação eleitoral, os políticos não falavam a linguagem dessas pessoas mais jovens nem tentavam responder seus interesses e agora esse é um dado e realidade porque eu acredito que quando você amplia essa participação democrática dificilmente ela se retrai novamente”, pontua o professor e historiador político, Cristian de Paula Júnior.

Para ele, esse já será o legado das eleições 2022 na história. A tendência é que os jovens colem de vez na política e não deixem de participar nos bastidores do período eleitoral, forçando assim uma nova configuração para que políticos possam realizar suas campanhas.  “Eles vão ter que conversar com o eleitorado, explicar as propostas e fazer as estratégias de marketing que atinjam a esses interesses e a gente já tem percebido isso, vários políticos que já estão no Tik Tok, no Twitter, se comunicando através de memes e vídeos”, explica.

O próprio governador Ronaldo Caiado (União Brasil), com perfil mais à direita e conservador usa e abusa dos memes em suas redes institucionais chegando até a entrar nas “modinhas” das “dancinhas” do Tik Tok em publicações recentes. Para Cristian, esse será um comportamento que políticos – conservadores e progressistas – terão de adotar. “Dificilmente essa realidade vai se retrair, a tendência é ela manter e ser ampliada”, concluí.

Campanha suprapartidária exitosa

A Campanha Jovem Eleitor, do TSE, ganhou proporções inimagináveis com a adesão de toda a sociedade civil, empresas famosas e até mesmo celebridades internacionais a ponto do presidente da República Jair Bolsonaro se incomodar com os incentivos dos atores Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo. Esse conjunto foi preponderante para que o resultado de 85% de jovens em Goiás pudesse abrir o novo título.

“O papel mais influente foi dos digital influencers que são cabos eleitorais agora acrescidos e aditivados pelos algoritmos e são uma variável presente nas eleições que não tem como voltar atrás. Eles vão entrar para o embate público e o jovem quer se engajar nesse processo. O TSE fez a parte dele iniciando o processo de divulgação, mas quem salvou mesmo o recrutamento e levou a meninada para o cadastramento foram os digitais influencers”, avalia o professor e cientista político, Guilherme Carvalho.

Cristian considera que a campanha foi impulsionada pela polarização política que o Brasil vive. “É uma coisa natural que eu considero em virtude das últimas movimentações políticas que tem gerado essa polarização na sociedade, é natural que as pessoas sejam incentivadas a estarem votando e participando politicamente”, pontua.

O presidente da Fundação Ulysses Guimarães, do MDB, José Frederico Lyra Netto também avaliou positivamente a campanha. Ele, que estava temeroso com relação a participação do jovem na política, considera que a “virada” foi uma vitória para os próprios jovens que vão poder participar ativamente na escolha dos novos representantes.

“Pessoalmente estou muito feliz com esse movimento porque começamos o ano com números muito preocupantes de que a participação de jovens parecia que seria baixa dado a quantidade de títulos tirados até então e você teve essa coalizão na sociedade civil, partidos, artistas, Tribunal Superior Eleitoral. Vi de maneira positiva. Cada um fez sua parte”, destacou.

Para ele, não há lugar no mundo em que a mudança não ocorreu por meio do voto e faz todo o sentido a juventude participar desse processo. “O jovem vai poder participar da decisão sobre o futuro do Brasil. Isso é muito importante.  Participei de um movimento “Voto Jovem, Já!”. Panfletei nas portas de diversas escolas públicas e privadas, explicando como os alunos poderiam retirar seus títulos. Não tem país no mundo que fez mudanças sem a participação dos jovens e se a gente quer mudança a gente tem que estar na mesa. Isso começa pelo voto.”

Participação do jovem será protagonista na escolha de gestores

Membros de partidos também acreditam que a juventude fará toda a diferença no processo eleitoral. O cenário de devastação na economia, inflação galopante e as consequências da crise sanitária fomentaram o interesse da participação do jovem na política. “A juventude está com sede de participação e isso é uma resposta de dois anos sem qualquer política de juventude e assistência”, destaca a diretora de relações institucionais da União Brasileira dos Estudantes, Thaís Falone (PCdoB)

Ela considera que decisões desastrosas tomadas pelo Governo Federal na educação também são fatores que levam o eleitor jovem à urna eletrônica. “O corte nas universidades foi extremamente sentido na pandemia, a falta de ferramentas para garantir um bom serviço de educação, o aumento da violência nos lares, a ausência de atividades de lazer, arte, cultura, esporte, o índice crescente de jovens com depressão. Tudo isso formou um terreno muito produtivo para tomar partido. As pessoas querem mudanças práticas para a vida delas e entenderam isso com a pandemia”, destacou.

A opinião é compartilhada pelo presidente da Juventude Socialista, do PDT em Goiás, Laércio Neto. “Tivemos a pior educação nos últimos quatro anos. Em questão de ensino e conhecimento, o jovem está muito prejudicado. Temos a maior informalidade da história. A nossa juventude está ficando refém do desempregado. Além de não ter ensino de qualidade e não ter emprego, estão à mercê da informalidade e do desemprego”, pontuou.

Ele salientou que a campanha foi vitoriosa mesmo com o desestímulo do Governo Federal. “A gente vê que o Bolsonaro lançou fake news falando que estavam cancelando o titulo dos idosos de 70 anos para a cima, que nem são obrigados a votar porque ele sabe e está sentindo na pele porque as urnas vão dar uma resposta muito grande para ele. A juventude vai fazer sim uma diferença muito grande nas eleições. Esperamos muito que o Ciro vá para o segundo turno contra o Lula como resposta ao desgoverno que o Bolsonaro está fazendo no Brasil”, salientou. 

Mais de 85% novos eleitores apenas em Goiás

Com o encerramento do prazo para regularização do título de eleitor e emissão do primeiro título eleitoral em todo Brasil, encerrado nesta quarta-feira, (04/05), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE-GO) anunciou hoje (05/05), um balanço com números atualizados da situação eleitoral em Goiás, com acréscimo de 32.841 novos eleitores na faixa de idade entre 16 e 18 anos, o que representa um percentual de aumento de 85% no número de novos registros.

Os números indicam que a campanha para incentivo de emissão do primeiro título de eleitor fez efeito entre os jovens. Segundo os dados apresentados, somente os eleitores menores de 18 anos somam 60.808 pessoas, o que representa 1,266% do total do eleitorado do Estado.

O número de eleitores aptos a votar ainda deve mudar, para mais ou para menos nos próximos dias. Ainda existem cerca de 42 mil requerimentos presenciais em processamento, que ainda não foram computados, e mais de 103 mil aguardando análise das zonas eleitorais pelo Título Net, feito pelo sistema online. 


Leia mais sobre: / / Política

Comentários