09 de agosto de 2024
Lênia Soares

Demóstenes confia em sua persuasão e no peso da consciência alheia

Pessoas ligadas diretamente ao senador Demóstenes Torres (sem partido) se animam: acreditam que é possível evitar a cassação e ainda participar das eleições municipais deste ano. A nova missão de Demóstenes, que daria um bom roteiro a ser interpretado por Tom Cruise em Missão Impossível 5 – O Sócio Contraventor, teve início na tarde desta segunda-feira, 2, com a quebra do silêncio do senador. Seus depoimentos se estenderão até o dia 11 de julho, quando será votado o relatório de invalidação do mandato, aprovado previamente pela Comissão de Ética do Senado. Serão oito discursos proferidos pelo ex democrata até o fim da sua, e início da nossa, odisseia política.

Para estreia, Demóstenes escolheu a emoção. Dosou as palavras, não falou mais que 20 minutos para garantir expectativa e evitar o desgaste, mas não poupou na encenação. Classificou-se como vítima de “ostensiva campanha midiática difamatória com manipulação das informações”. Voltou a questionar a legalidade das gravações feitas pela Polícia Federal e divulgadas pela imprensa, tanto na coleta da prova quanto na transcrição, que traria “maldosas fraudes realizadas pela PF”.

O senador lembra que das 250 mil horas de gravação feitas pela polícia, apenas 150 minutos foram transcritos, dos quais só três minutos foram usados no parecer do conselho pela sua cassação. “Dentro de 250 mil horas de conversas gravadas, pode ser cassado um mandato de dois milhões de votos por causa de seis letras, três sílabas, duas palavras e uma interpretação”, disse.

Demóstenes afirmou compreender a desconfiança que permeia a conduta dos colegas parlamentares. Ainda assim, citou o nome de 44 companheiros em tom nostálgico de quem relembra velhas parcerias. “Sou o mesmo amigo de outrora”, afirmou para muitos que ouvem quase uma ameaça.

O desfecho não poderia deixar a desejar. Um pedido emocionado de perdão aos colegas senadores e deputados que, “por algum motivo”, se decepcionaram com sua conduta política. Nas entrelinhas, lia-se: Errei, mas quem não erra, Collor? Quem nunca foi investigado em operações da Polícia Federal, Marta Suplicy? Quem nunca burlou as regras desta Casa? Meus erros foram graves. Peço desculpas. E o de vocês? Silêncio… Acabaram-se os 20 minutos e os presentes na sessão plenária, incomodados, mudaram de assunto. Vamos falar da greve nas universidades?


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