05 de dezembro de 2025
Justiça • atualizado em 17/10/2025 às 19:37

Defesa de Vanderlan vê risco de “banalização” em suspensão de processo contra Gayer

Pedro Paulo de Medeiros diz que decisão de Alexandre de Moraes sobre resolução da Câmara pode definir futuro das ações criminais contra parlamentares
Advogado Pedro Paulo de Medeiros alerta que, se o Supremo acatar a resolução da Câmara, haverá “fila de blindagens” para suspender ações contra parlamentares. Foto: Divulgação.
Advogado Pedro Paulo de Medeiros alerta que, se o Supremo acatar a resolução da Câmara, haverá “fila de blindagens” para suspender ações contra parlamentares. Foto: Divulgação.

A defesa do senador Vanderlan Cardoso (PSD) aguarda a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a resolução da Câmara dos Deputados que determinou a suspensão da ação penal movida pelo parlamentar contra o deputado federal Gustavo Gayer (PL). O advogado de Vanderlan, Pedro Paulo de Medeiros, afirmou em entrevista ao editor-chefe do Diário de Goiás, Altair Tavares, que a medida é inédita e representa um “teste de blindagem” dentro do Congresso.

“A Câmara comunicou ao Supremo a decisão de suspender o processo criminal que o deputado Gustavo Gayer responde. Essa suspensão não significa absolvição ou arquivamento, apenas o adiamento do julgamento até o fim do mandato”, explicou o advogado. Segundo ele, o caso agora está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, que deverá decidir se a resolução da Câmara é compatível com a Constituição Federal.

“Em português claro: vamos ver se o Supremo acolherá ou não a determinação da Câmara dos Deputados. A decisão inicial é monocrática do ministro Alexandre, mas qualquer das partes pode recorrer e levar o caso ao colegiado da turma julgadora”, disse Medeiros.

O advogado ressaltou que, se o Supremo não acatar a resolução, a ação penal voltará a tramitar normalmente. “Se não acolher, a ação segue para julgamento. O ministro Alexandre de Moraes deve marcar sessão de mérito, onde apresentaremos os argumentos da acusação e da defesa, e a turma decidirá se condena ou absolve o deputado Gustavo Gayer”, afirmou.

“Instituto importante, mas que está sendo banalizado”

Pedro Paulo de Medeiros reconhece que o mecanismo de suspensão de processos contra parlamentares é previsto na Constituição, mas alerta para o risco de seu uso se tornar abusivo. “Esse instituto é importante, precisa existir para proteger o parlamentar de perseguições indevidas. Mas o que estão fazendo agora é banalizar. E tudo o que se banaliza perde o valor”, criticou.

O advogado destacou que, desde a mudança constitucional que permitiu o processamento de deputados e senadores sem autorização prévia do Legislativo, é a segunda vez que a Câmara tenta sustar uma ação penal. A primeira foi o caso do deputado federal Alexandre Ramagem, cuja suspensão não foi acatada pelo Supremo.

“Agora é a sustação número dois. Vamos ver como o Supremo se posiciona. Se o tribunal não colocar limite, vai virar rotina. Logo teremos dez, vinte, cem resoluções paralisando processos. Vai ser um festival de blindagens”, alertou e em tom crítico, ele classificou o cenário como um retrocesso:

Se o Supremo não barrar essa banalização, o Congresso vai recuperar, por via indireta, a antiga PEC da blindagem. E aí, qualquer parlamentar poderá se esconder atrás do mandato para evitar julgamento.

Para a defesa de Vanderlan, o julgamento de Alexandre de Moraes sobre a resolução da Câmara dos Deputados é decisivo para o futuro da relação entre os poderes. “Se o Supremo não barrar, vai ter fila. Toda semana vão surgir novas resoluções suspendendo processos. Isso vai banalizar o instituto e transformar o Parlamento num refúgio judicial. O Supremo precisa dar o limite agora”, concluiu o advogado Pedro Paulo de Medeiros.

Análise política: “Micro blindagem e teste de poder”

O editor do Diário de Goiás, Altair Tavares, que conduziu a reportagem sobre o assunto na Rádio Difusora de Goiânia, chamou o episódio de “PAC da Blindagem”, comparando-o a um projeto informal de proteção a parlamentares. “O caso Vanderlan e Gayer ensina muito sobre política, justiça e privilégio. Mostra como o Legislativo pode usar sua força para criar uma micro blindagem e proteger um deputado sob a justificativa do artigo 53 da Constituição, que garante a inviolabilidade por palavras e opiniões”, afirmou.

Altair observou que o dispositivo constitucional, criado na redemocratização para proteger parlamentares de perseguição política, vem sendo distorcido: “O direito à inviolabilidade da fala não é direito de ofender e cometer crime. Gayer chamou o senador Vanderlan de ‘vagabundo’ e insinuou corrupção sem provas. Isso é crime, não opinião política”.

Para o jornalista, o caso também evidencia divisões na direita goiana: “Vanderlan é uma das principais lideranças da direita em Goiás, e Gayer atua de forma mais radical e isolada. Essa briga mostra como o campo conservador está fragmentado”, avaliou.

Impacto jurídico e político

Na prática, a resolução da Câmara suspende o processo até o fim do mandato de Gayer, interrompendo a contagem de prazos e a possibilidade de prescrição. Entretanto, o efeito político é imediato: o deputado se livra, por ora, de uma possível condenação e mantém a elegibilidade para disputar as eleições de 2026. “O benefício que ele recebe não é apenas o adiamento da ação, mas a manutenção dos seus direitos políticos. É uma blindagem com efeito eleitoral”, destacou Altair.

O jornalista acrescentou que o caso abre precedente perigoso: “Se der certo, outros deputados vão repetir o método. Esse é um teste de blindagem que tende a se multiplicar. Por isso, a decisão de Alexandre de Moraes será um divisor de águas entre a autonomia do Legislativo e o controle constitucional do Supremo”, finalizou.


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