23 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 02/11/2023 às 20:46

O dia de finados

Foto: Banco de Imagens do Canva.
Foto: Banco de Imagens do Canva.

Afinal, o que é a morte? Enigma indecifrável? Com a morte tudo se acaba? O que será ou o que virá depois que esta vida chegar ao fim? A vida eterna é real? Por que a criatura humana não é eterna? Ou é?…

Verdade que a morte é um fato, não mera possibilidade da qual se cogita ou tese defendida por célebres estudiosos e cientistas. É acontecimento real sobre o qual não incide dúvida alguma. Somos mortais. Ninguém ficará para semente, embora as sementes semeadas por cada um permaneçam vivas, para apreciação das gerações.

Verdade que a morte poderá acontecer a qualquer momento, quando menos se espera. É determinação do próprio Deus ao homem: “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar” (Gn 3,19).

Depois da morte, independentemente do estágio espiritual que se conseguiu alcançar enquanto esteve no mundo, o ser humano terá acesso novamente à vida terrestre? Haverá chance de voltar aqui e viver nova vida? Há os que acreditam que sim. Contudo, este texto foi desenvolvido por quem acredita que não, guardado o profundo respeito por todos os que professam outros credos e defendem ideias contrárias.

Assim, cada qual é apenas uma única pessoa com uma só alma, um só corpo, uma única história, uma única eternidade. E na ultrapassagem desta para a outra vida, ninguém poderá se dar ao luxo de ser acompanhado por quem quer que seja e muito menos enviar notícias para os que aqui ficaram.

Tem-se, pois, que a morte não é nenhum enigma indecifrável e a eternidade faz-se real. Segundo os ensinamentos bíblicos, “Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza. Foi por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio a provarão” (Sb 2,23-24).

Por outro lado, acredita-se que, tendo em vista que muitas fragilidades humanas talvez impeçam a imediata acolhida do falecido na vida da graça, salutar se torna o oferecimento de sufrágios, preces e sacrifícios dos irmãos vivos, para que, o quanto antes, lhes resplandeça a luz da bem-aventurança. Este é o propósito da celebração do Dia de Finados.

O Dia de Finados é celebrado pelos católicos em 2 de novembro de cada ano. Esse costume vem desde o século II da era cristã, quando alguns cristãos visitavam os túmulos dos mártires e intercediam pelos que tinham morrido.

No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava. No século XIII o dia anual passou a ser celebrado em 2 de novembro, por causa da Festa de Todos os Santos, comemorada em 1º de novembro de cada ano.

doutrina católica evoca algumas passagens bíblicas, para fundamentar sua posição: a) Na manifestação do anjo Rafael, no Livro de Tobias (12,12); b) Por ocasião das provações de Jó, no Livro de Jó (1,18-20); c) Quando do sacrifício pelos mortos, no Segundo Livro dos Macabeus (12,43-46);f) Quando Mateus discorre sobre o pecado contra o Espírito Santo (12,32).

Além disso, os ensinamentos do catolicismo apoiam-se em uma prática bastante antiga, que ultrapassa a marca dos dois mil anos. E é verdadeiramente gratificante. Enchem a alma de contentamento e plenitude o gesto oracional e a intercessão pelos entes queridos e amigos falecidos. Inclusive, fazem um bem enorme à conversão pessoal e à aproximação a Deus.

Sobre finados, no entanto, o Papa Francisco faz algumas advertências. Disse o Pontífice em um de seus pronunciamentos, no Vaticano: “O Ser humano é estranho… Briga com os vivos, e leva flores para os mortos; lança os vivos na sarjeta, e pede um bom lugar para os mortos; se afasta dos vivos e se agarra desesperados quando estes morrem; fica anos sem conversar com um vivo e se desculpa e faz homenagens quando este morre; não tem tempo para visitar o vivo, mas tem o dia todo para ir ao velório do morto; critica, fala mal, ofende o vivo, mas o santifica quando este morre; não liga, não abraça, não se importa com os vivos, mas se autoflagela quando estes morrem… Aos olhos cegos do homem, o valor do ser humano está na sua morte e não na sua vida. É bom repensarmos isto, enquanto estamos vivos!”.

O certo é que o Dia de Finados é o dia das lembranças dos nossos entes queridos que já foram para a eternidade; é o dia das lágrimas derramadas por força da saudade mais penetrante; é o dia das orações mais fervorosas em forma de intercessão a Deus pela alma das pessoas que fizeram parte da nossa história e nos proporcionaram alegria, carinho e amor enquanto estiveram conosco; é o dia propício para pensarmos mais seriamente na nossa conversão. Não resta dúvida de que se trata de uma data muitíssimo especial para todos nós.

(Por Elson Gonçalves de Oliveira)

Elson Oliveira

Elson Gonçalves de Oliveira foi professor de Língua Portuguesa, é advogado militante e escritor, com vários livros publicados.