23 de dezembro de 2024
Publicado em • atualizado em 19/12/2024 às 08:51

O coronel presidente na COMURG tem preparo para enfrentar o desafio do ajuste radical

O sobrenome Aparecido destoa da discrição com a qual o futuro presidente da COMURG deve atuar na gestão da crise na empresa (foto Altair Tavares, Diário de Goiás)
O sobrenome Aparecido destoa da discrição com a qual o futuro presidente da COMURG deve atuar na gestão da crise na empresa (foto Altair Tavares, Diário de Goiás)

Militar austero, focado em gestão estratégica avançada e tecnologia da informação. Assim pode ser apresentado de início o novo presidente da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), coronel Cléber Aparecido dos Santos. E, ao contrário do sobrenome, não demonstrou, até agora, que quer aparecer. Por isso, é muito provável que veremos um presidente mais concentrado na gestão e menos na exposição. O olhar sobre o histórico dele já diz muito sobre o que vem por aí na gestão da empresa da prefeitura de Goiânia.

Além da experiência como militar propriamente dita, ele tem uma bagagem de dez anos de gestão de uma das fundações mais consolidadas em Goiás. Trata-se da Fundação Tiradentes que faz a gestão do Fundo de Assistência Social (FAS) constituído por contribuições obrigatórias dos policiais militares e rigidamente fiscalizado internamente por um conselho fiscal e externamente pela Promotoria de Fundações do Ministério Público Estadual. Nessa instituição, como presidente, o coronel conviveu na direção-financeira com a vice-prefeita eleita, a também coronel Cláudia Lira, quando ambos eram majores.

Mesmo diante das reiteradas aprovações de contas, o coronel administrou crises causadas por entidades das classes militares que vez ou outra questionavam o desconto do Fundo. Em algumas circunstâncias, os questionamentos eram desencadeados por militares-políticos que buscavam agradar os colegas eleitores a despeito de o desconto estar previsto na Constituição Estadual. Essas situações, junto com a relação também com os diferentes comandantes que assumiam a corporação e nem sempre sabiam enxergar a independência entre a Fundação e a PMGO, exigiram jogo de cintura e muita capacidade de negociação.

Coube ao coronel, quando ainda major, iniciar o processo de modernização e gerir ao mesmo tempo a assistência social, o Hospital do Policial Militar (HPM) e também o programa de Fardamento. Esse programa é encarregado de produzir e entregar todo o chamado “enxoval” dos PMs homens e mulheres, indo das diferentes peças de roupas de cada comando (são vários) aos coturnos e demais calçados de trabalho. Este serviço, inclusive, acabou sendo feito para contribuir com a missão da PM, já que não é uma atividade fim da Fundação, e com isso garantir fardamento sempre em dia para a tropa.

No tempo em que passou pela instituição, fez convênio com órgãos como a Fundação Dom Cabral de Minas Gerais, especialista em planejamento estratégico. Por se tratar de órgão peculiar, que cuida desde uma muleta, ambulâncias, odontólogos, até assistência póstuma (caixões e flores em caso de morte na corporação), a Fundação exigia um gestor pulso forte e bem informado.

Certa vez, o coronel foi até Jaraguá com vários membros da equipe para conhecer a empresa e as pessoas que fabricavam o fardamento adquirido para a tropa. Escolheu uma empresa que fabricava peças para a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Esse fardamento era considerado modelo e comandantes de PMs de outros estados vinham com frequência até Goiânia para conhecer o processo desenvolvido na Fundação Tiradentes, diante das dificuldades que eles encontravam para ter a mesma qualidade com igual preço. A chave para dar certo estava na rigidez da negociação, tocada por equipes que o coronel coordenava bem de perto.

As contas da instituição eram avaliadas sistematicamente pelo militar que desenvolveu um formato de relatório de controle acompanhado por uma empresa de auditoria permanente. E ele estava sempre presente na prestação de contas ao Ministério Público exigida para as fundações.

Foi dele a iniciativa de lançar uma instituição de ensino privada pertencente à Fundação, denominada de Faculdade da Polícia Militar, com intenção de obter autonomia financeira do FAS no futuro. Antes, mais uma vez designou diretores e alguns membros da equipe para conhecer o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em São José dos Campos (SP) como forma de ter um parâmetro de ensino para o projeto que tinha.

Somente não se sabe se o próximo presidente da Comurg vai manter a mesma discrição que sempre fez questão de impor, tanto na PMGO quanto na Fundação Tiradentes ou na FPM. Nessa fase Cleber Aparecido quase não concedia entrevistas e não gostava de muita exposição.

E, é de se esperar que, conforme anunciou o prefeito eleito Sandro Mabel (UB), o foco na gestão não vai ter influências políticas. A mão do militar sobre o problema já é um indício de que vai acabar o tempo dos políticos na COMURG.

Altair Tavares

Editor e administrador do Diário de Goiás. Repórter e comentarista de política e vários outros assuntos. Pós-graduado em Administração Estratégica de Marketing e em Cinema. Professor da área de comunicação. Para contato: [email protected] .