Em Goiás, existe terceira via sem o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM)?
Eis a pergunta que deve ser respondida pelo presidente nacional do PSB e governador do Pernambuco, Eduardo Campos, que, há poucos meses, articulou com Caiado a filiação de Vanderlan Cardoso ao partido socialista. Eis, mais que tudo, a pergunta a ser respondida por Vanderlan.
Recém filiada ao PSB, Marina Silva chegou criticando Caiado e estremecendo as alianças goianas. “A parceria com o democrata é um dilema ético do PSB”, afirmou Marina, que também o chamou de “inimigo dos trabalhadores”.
À parte o debate de posicionamento político e ideológico, há que se pontuar que foi Caiado o costurador da terceira via em Goiás. Foi ele que, no momento em que Júnior Friboi deixou o partido e foi para o PMDB, articulou o encontro e o entendimento entre Eduardo e Vanderlan.
Além disso, deu impulso político a uma via que, sem ele, fica restrita a Vanderlan como única expressão político-eleitoral.
Como Eduardo Campos dá mostras de preferir o discurso politicamente correto que Marina Silva parece lhe dar nacionalmente, a aliança local do seu PSB com Caiado torna-se um entrave.
Rifar Caiado seria assegurar um palanque que fica bonito na foto. Mas é também dar um tiro no olho de uma aliança que, a exemplo dele em relação ao PSDB e ao PT, busca ser alternativa ao tradicional em Goiás.
Na eleição passada, o DEM de Caiado por pouco não fica fora da aliança com o governador Marconi Perillo (PSDB). Para muitos analistas, caso o partido tivesse tomado o rumo da aliança com Vanderlan – num momento em que o ex-senador Demóstenes Torres estava forte politicamente -, a história da eleição no Estado talvez fosse outra.
Daí que se pergunta: sem o DEM, o que resta da chamada terceira via em Goiás? Vejamos: ficam na aliança PSB, PSC, PRP, quem sabe PDT e Solidariedade. Isso dá o quê, em termos de tempo de TV? Isso significa o quê em termos de ameaça real ao PSDB e PT-PMDB?
Na sua nota de resposta à declarações de Marina Silva, Caiado não fecha portas para a aliança. Lembra que foi o primeiro no Estado a apoiar Eduardo Campos. E indica que está disposto a lutar para manter a aliança goiana. Mas vai depender de Eduardo Campos, claro. Vai depender de Vanderlan.
Caiado mostra bom senso e pragmatismo político. Ele mostra o que tentam dizer que ele não tem. Por ora, os seus críticos é que carregam todos os defeitos – sectário, intransigente, anti-democrático etc. – que tentam lhe impor.
A velha política mudou de lado.
Confira a nota oficial de Ronaldo Caiado em resposta às declarações de Marina Silva:
O veto da candidata Marina Silva não é à minha pessoa, mas ao que represento, em três décadas de vida pública: o setor agropecuário e a liberdade de iniciativa.
É preocupante que alguém, que postula a Presidência da República, seja intolerante e hostil exatamente ao setor mais produtivo da economia, responsável por 23% do PIB e por mais de um terço dos empregos formais do país.
Lamento que alguém, com tais pretensões, demonstre tamanho desconhecimento da realidade agropecuária brasileira e veja no produtor rural – o maior empregador do país – um inimigo do trabalhador. É um colossal contrassenso. Em meu estado, Goiás, o agronegócio emprega nada menos que a metade da mão de obra ativa e responde por 67% do PIB.
A candidata tem razão num ponto: somos, eu e ela, coerentes. Só que – e essa é nossa diferença – não sou intolerante. Não confundo adversário com inimigo. Democracia não é política de terra arrasada, nem se aprimora em ambiente de duelo. Fui – e sou – um político afirmativo. Jamais escondi minhas ideias. Mas sempre convivi em ambiente democrático e civilizado, sabendo lidar com o contraditório. Veemência não é intolerância. Frequentemente, bem ao contrário, a intolerância se apresenta com a veste da delicadeza.
Fui um dos primeiros políticos do País a defender a candidatura do governador Eduardo Campos, por entender que ele poderia ter uma postura nova na politica brasileira, democrática, firme e corajosa.
Foi por crer na pluralidade que tinha me associado ao projeto político do governador Eduardo Campos, cujo discurso rejeitava radicalismos. E foi em nome do pluralismo e do diálogo que dei boas vindas à candidata, que agora me exibe a face da intolerância.
Essa ideia de “inimigo histórico” é antiga, retrógrada e preconceituosa e não atende aos interesses do País. Continuarei defendendo, no Congresso Nacional, os interesses do Brasil e do agronegócio, debatendo e apresentando propostas que harmonizem o desenvolvimento do país, compatibilizando-o com a preservação do meio ambiente.
Ronaldo Caiado
Líder do Democratas na Câmara dos Deputados
Brasília, 9 de outubro de 2013
Resposta de Eduardo Campos às declarações de Marina Silva:
Nesse momento, aqueles que estão incomodados com o surgimento de um caminho, de uma aliança que voltou a animar a política brasileira, procuram de todas as formas, até meio desesperadas, tentar atrapalhar essa construção de maneiras muito precárias e elementares. Uma é imaginar que vai me jogar contra a Marina, ou a Marina contra mim, o que é completamente impossível. Quem dá um passo como esse tem como referência o interesse público, a necessidade de fazer política colocando não só ideias, mas um pensamento renovador, que mostre que é possível fazer política sem pensar na próxima eleição, isso é que fica. Outra tentativa é buscar alianças regionais que porventura estavam sendo desenhadas, que sequer tiveram participação nem da Marina, nem minha, para colocar como uma contradição, esse é outro caminho furado.
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