22 de novembro de 2024
Lênia Soares

A Delta boa e a Delta má

Um peso, duas medidas. É a estratégia adotada pelo governo do Estado em relação a empresa Delta Construções. Quando se trata das prefeituras da oposição: “Incompetente e desonesta”. Quando o assunto é a gestão Estadual: “Idônea e com bons preços de mercado”. Está cada vez mais difícil entender os dois lados desta moeda. Será a mesma empresa, ora criticada, ora elogiada, pela equipe de comunicação do governo Marconi Perillo (PSDB)?

 

A maior prova da concepção esquizofrênica sobre a Delta está estampada na Assembleia Legislativa de Goiás. O alvo da nova Comissão Parlamentar de Inquérito, criada após o surgimento do escândalo Cachoeira, é a investigação dos contratos firmados entre a construtora – que foi considerada um dos braços empresariais do grupo comandado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos – e as prefeituras de Goiânia, Anápolis, Catalão e Aparecida de Goiânia, administradas pelo PT e PMDB.

Os parlamentares suspeitam da lisura das contratações que, em sete anos, somaram um montante de aproximadamente R$ 300 milhões em obras municipais. Por outro lado, ninguém colocou em dúvida os contratos firmados pelo governo estadual, para 2011 e 2012, com a mesma empresa, no valor de R$ 115,2 milhões. Em dois anos, Marconi gastará quase 50% do valor gasto por quatro prefeituras em sete anos. Proporcionalmente, o tucano empregou 34,4% a mais, na Delta, que as quatro cidades juntas.

Para a Capital, a empresa fornece serviços desde 2005. A partir dessa data, foram fechados 12 contratos, sendo a maioria referente a trabalhos de pavimentação. A construtora foi responsável também por trabalhos na edificação dos viadutos da Av. 85, sobre a Praça do Chafariz e na Praça do Ratinho.

Nos últimos dias, assessores do governador divulgaram notas agressivas, contra a prefeitura de Goiânia, criticando o deslocamento de uma placa em um viaduto na 85. O texto era de cunho pejorativo e trazia com destaque a informação de que a instalação da mesma havia sido feita pela Delta. “Viaduto da Delta, pago pela prefeitura de Goiânia, está desmoronando”, alfinetava um dos assessores nas redes sociais.

Vale lembrar que o incidente não provocou nenhum dano à população e que a instalação das placas não foi feita pela empresa citada. A prefeitura de Goiânia informou que as medidas necessárias para o reparo já foram tomadas.

Em Catalão, cidade administrada pelo peemedebista Velomar Rios, Anápolis, do prefeito Antônio Gomide (PT), e Aparecida de Goiânia, de Maguito Vilela (PMDB), foram firmados contratos para coleta de lixo, varrição e outros serviços. Todos considerados como “duvidosos” pelos parlamentares da base governista. Será?

As investigações da CPI da Alego contra as prefeituras foram barradas pelo Tribunal de Justiça. O presidente da Comissão, deputado Hélio de Sousa (DEM), informou que um recurso para anulação do mandado de segurança, e consequente continuação dos trabalhos, já foi enviado. O que o presidente não soube responder é quando os contratos do Estado serão investigados pelo grupo de parlamentares. “Não é o nosso foco”, disse, de súbito, o democrata, de repente questionado sobre o fato. Ao que parece, não estava preparado para tão inaudita pergunta.

Para não cair no esquecimento, é importante ressaltar que o Estado de Goiás renovou um contrato milionário da Delta com a Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas (Agetop). Houve também a confirmação do empenho, no valor de R$ 115,2 milhões, para a instituição. Segundo informações do Diário Oficial, o capital seria utilizado para pavimentação asfáltica do programa Rodovida.

A Construtora presta serviços também em obras e aluguel de veículos para a Secretaria de Segurança Pública e Justiça e para a Secretaria de Saneamento Básico de Goiás S.A. (Saneago). Os R$ 115,2 milhões, previstos no edital, correspondem aos valores reservados ao pagamento de serviços do ano passado e desde ano.

A empresa foi contratada, primeiramente, pelo governo Alcides Rodrigues. Na época, a Delta foi a vencedora de um certame licitatório para a locação das viaturas da Segurança Pública. Com a entrada de Marconi Perillo, os contratos foram renovados e ganharam um aditivo, superior a 60% do valor anterior, sem aumento correspondente na frota de veículos.

Nenhuma explicação, relacionada à renovação dos contratos com a Delta e seus aditivos, foi dada pelo governo de Goiás. Assim se faz a melhor administração da vida dos goianos.

Utilizando o conceito de Millôr Fernandes, para Marconi Perillo “democracia é quando eu mando em você, e ditadura é quando você manda em mim”. Um viva – ou um minuto de silêncio – pela política da socialdemocracia vigente em nosso Estado: você decide!


Leia mais sobre: Lênia Soares