14 de outubro de 2024
Entrevista • atualizado em 14/10/2024 às 18:07

Vereadora com mais votos recebidos na história de Goiânia, Aava Santiago detalha estratégia: “quatro anos de entrega”

A vereadora do PSDB foi reeleita com 10.482 votos e descreveu ao Diário de Goiás quais os planos de campanha usados para tal feito

Com a conquista histórica de 10.482 votos registrados para o cargo de vereadora na Câmara Municipal de Goiânia, que a fizeram garantir a reeleição, Aava Santiago (PSDB) detalhou as estratégias empregadas na campanha às eleições municipais de 2024. Em entrevista ao editor-chefe do Diário de Goiás, Altair Tavares, a vereadora Aava destacou o ponto-chave: “quatro anos de entrega”, fazendo referência ao trabalho desempenhado durante o primeiro mandato.

Em bate-papo com o jornalista, a vereadora relembrou a trajetória política e as alianças firmadas durante o caminho, que culminaram nos resultados favoráveis desta eleição. Entre as conquistas que a levaram a ser a vereadora mais votada da capital, de acordo com ela, seu empenho em cumprir o que promete ao eleitorado: “Eu cheguei ao final desse mandato tendo cumprido mais de 90% das minhas propostas”, afirmou.

Confira abaixo a entrevista com Aava Santiago na íntegra:

Altair Tavares: Na Câmara de Goiânia, a votação da vereadora Aava Santiago, do PSDB, foi uma das grandes novidades. Ela foi reeleita e, segundo alguns dados estatísticos, a vereadora que recebeu a maior votação da história de Goiânia. A vereadora conversa conosco aqui no Diário de Goiás. Parabéns pela reeleição.

Aava Santiago: Muito obrigada, muito bom estar aqui no Diário de Goiás, que tem cumprido um papel importante de democratização da informação, de qualificação do debate público, especialmente sobre a política goianiense, goiana. Então, é muito bom estar aqui e voltar a falar com você depois de uma reeleição tão significativa.

Altair Tavares: O que a senhora fez que levou a quase quadruplicar a sua votação em relação à eleição anterior?

Aava Santiago: Não existiu uma fórmula exata de acertos, mas, sem dúvida, existe uma carta de compromissos que, na medida em que a sociedade percebe que esses compromissos não só não foram negociados, mas foram consolidados na trajetória, eu acho que isso é o que gera esse lastro de credibilidade. Então, eu entrei na Câmara com algumas bandeiras muito claras, muito consolidadas, que são resultado de uma trajetória de mais de uma década como pesquisadora, como educadora, na agenda de direitos de juventudes, redução das desigualdades, fortalecimento de mulheres. Eu trouxe isso para o meu mandato e, quando cheguei na Câmara, me dediquei a entender o regimento da Casa, me dediquei a entender onde as limitações de um cargo de vereadora poderiam dar lugar a parcerias para os nossos desafios serem sanados, se não dentro do processo legislativo, fora dele.

Eu brinco que a gente descobre logo de cara que o vereador tem bem menos poder do que ele imagina que tem, do que as pessoas imaginam que ele tem. A gente não pode onerar a despesa do Executivo. A gente não pode apresentar projetos que façam, que criem despesas, que criem conta para o Prefeito pagar.

O problema é: todos os projetos que criam programas, que ampliam vagas, que garantem produtos, são projetos que criam despesas. E, infelizmente, a gente tem um empobrecimento do debate público e a gente tem também uma dificuldade em relação à transparência do papel dos poderes. Então, muitos players da política se valem desse processo proposital de desinformação coletiva para fazer promessas que são absolutamente impossíveis de serem cumpridas dentro de uma Câmara de Vereadores.

Altair Tavares: Permita-me aqui uma questão. Não sei se eu estou ouvindo a vereadora ou a socióloga. Quem que eu estou ouvindo?

Aava Santiago: Só existe uma por causa da outra. A socióloga existe sem a vereadora, mas a vereadora não existe sem a socióloga. Até porque foi justamente compreendendo os gargalos do Brasil, que atravessaram brutalmente a minha história.A partir do olhar que a Universidade me trouxe nas Ciências Sociais, é que eu descobri que eu poderia atuar como uma agente de redução das desigualdades através da política institucional. Então, foram três caminhos que se encontraram.

Altair Tavares: Não são tantos sociólogos exercendo mandatos, cargos. Mas, o mais famoso foi Fernando Henrique Cardoso.

Aava Santiago: Mas o mais famoso foi Fernando Henrique Cardoso. Não são tantos, mas uma das mais famosas no Brasil, que foi Dona Ruth Cardoso, foi responsável pelo maior programa de desenvolvimento sustentável da região amazônica. Ela que desenhou o maior programa de reforma agrária, porque ao contrário do que muita gente pensa, foi o Fernando Henrique, o presidente da República que mais fez reforma agrária nesse país, fez mais reforma agrária que Lula, Dilma e os outros presidentes todos somados.Então, a experiência de Dona Ruth Cardoso, a partir da sociologia e da antropologia, auxiliando e instruindo o Fernando Henrique, afinal de contas ele que foi calouro dela, e não o contrário, lá na USP. Ela é da primeira turma de Ciências Sociais na USP, ele é da segunda. Então, essa experiência dentro do meu partido também, sem dúvida, me inspiraram a fazer o que eu faço hoje. Mas ainda para concluir, quando a gente não consegue dizer para as pessoas o que um vereador faz, a gente pode tanto frustrar expectativas, como gerar expectativas equivocadas. Isso é muito ruim, é um banquete para os aventureiros, é um banquete para o estelionato eleitoral. Eu fiz um estudo muito profundo das possibilidades da vereança para fazer propostas que eu pudesse cumprir. Eu cheguei ao final desse mandato tendo cumprido mais de 90% das minhas propostas.

Altair Tavares: E um importante foi a ouvidoria da mulher?

Aava Santiago: Sim, a ouvidoria da mulher é uma dessas propostas. Porque a ouvidoria da mulher, veja bem, isso é uma coisa interessante, ela já existia na Câmara e ela era um e-mail. Você tinha o cargo, que era um cargo pequeno dentro da estrutura da Câmara, e você tinha o e-mail, a ouvidoria da mulher, que era para atender apenas servidoras da própria Câmara.E, pasme a minha surpresa, quando eu descobri que era um homem, inclusive, que respondia esses e-mails. Então, logo no processo de articulação da eleição da mesa diretora, ou seja, entre o dia em que eu fui eleita e o dia da eleição da mesa, eu construí o meu apoio dentro desse processo, condicionado à reestruturação da ouvidoria da mulher, criando um cargo de diretoria dentro da estrutura da casa, para que eu pudesse levar uma técnica compatível com a informação, aquilo que as mulheres precisavam. Então, eu levei uma doutoranda em gênero pela Universidade de Brasília, a Maria Clara, e a gente criou uma rede que hoje não atende só as servidoras, muito pelo contrário.

Hoje, eu afirmo seguramente e com muito orgulho, nós somos o equipamento público que mais atende mulheres com o serviço de psicólogas e de advogadas do Estado de Goiás. Para você ter noção, eu mando psicólogas para atender a DEAEM (Delegacia Estadual de Atendimento Especializado à Mulher). A gente manda psicólogas para atender a DEAEM, a gente manda psicólogas para atender estruturas que são do próprio governo do Estado. E o mais interessante, sem onerar um centavo do serviço público.

Eu estudei o regimento e descobri que não tinha a possibilidade de que a Câmara de Goiânia firmasse serviços voluntários. Eu alterei o regimento, coloquei a possibilidade da Câmara ser signatária de serviço voluntário, trouxe quatro universidades aqui de Goiás que assinaram um termo de colaboração com a Câmara e fornecem essas voluntárias para ouvidoria. Já são mais de duas mil mulheres atendidas com psicoterapia gratuita e mais de setecentas mulheres assistidas pela nossa boutique, que é a nossa loja, que fica no Mega Moda e que reforma o guarda-roupa de mulheres com medida protetiva.

Altair Tavares: Objetivamente, a senhora foi uma vereadora de oposição em boa parte do mandato de Rogério Cruz. A senhora teve posicionamentos no curso do mandato, envolvendo a disputa presidencial, inclusive, claramente, com apoio ao presidente Lula, que foi eleito. Esse curso, ele contribuiu de que forma para a sua votação?

Aava Santiago: Eu acredito que a oposição ao prefeito Rogério foi fundamental, não meramente por ser oposição, mas por ser uma oposição que gerou resultados objetivos para a vida das pessoas. Eu quero citar aqui alguns exemplos. Eu fui no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), pedindo o reestabelecimento do funcionamento das maternidades, consegui uma medida cautelar que obrigou a Prefeitura a regularizar em cinco dias o funcionamento das maternidades. Eu fui no Ministério Público e consegui uma determinação de que o lixo voltasse a ser coletado em 48 horas. Então, não tem uma rua dessa cidade, não tem um bairro dessa cidade, que não tenha sido alcançado pelo meu trabalho. E isso me deixa muito feliz, porque eu sei que tem milhares de goianienses que não sabem que eu sou a vereadora Aava Santiago, mas a vida deles melhorou por causa do meu trabalho, e isso é muito melhor do que eles me conhecerem pessoalmente.

Altair Tavares: A senhora tem uma vivência já há um bom tempo no PSDB, integrou a direção do partido, foi presidente do partido em Goiânia, e aí essa situação do partido vivenciando uma depressão profunda depois da derrota de 2018. O que o PSDB tem de futuro na sua opinião?

Aava Santiago: Me permita elucidar o pano de fundo da situação que você está trazendo aqui. Quem está vivendo uma depressão é a democracia brasileira. Porque nós enfrentamos a antipolítica que se consolidou dentro da esfera das instituições, operando essas mesmas instituições contra as suas próprias garantias. Isso é um nível de adoecimento muito profundo. Nós chegamos à beira de uma ruptura institucional. E com o adoecimento da democracia, os grandes partidos brasileiros adoeceram, cada um de acordo com o seu painel.

Se a gente pegar agora, linkar essa eleição de 2024, o PT foi um dos partidos que teve a maior perda de prefeituras, até mais que o PSDB. O PSDB fez mais prefeituras que o PT. Então, o PSDB é indiscutível que nós temos notas de melancolia, é indiscutível, mas essa melancolia assombra os grandes partidos brasileiros que, inclusive, outrora, num passado recente, foram fundamentais para garantir a redemocratização.

Altair Tavares: Agora, partidos vão e voltam. Por exemplo, o próprio Democratas, que era o antecessor do União Brasil, teve uma eleição passada…

Aava Santiago: Que era o sucessor do PFL. Você tinha o PFL, que virou o DEM, que agora é a União Brasil. A mudança, o esvaziamento dos partidos políticos, ou seus altos e baixos, fazem parte da democracia. O que não faz parte da democracia é a criminalização dos partidos políticos. E é contra isso, em maior escala, que a gente precisa lutar. Porque toda tirania é precedida do esvaziamento dessas instituições, da criminalização da própria política, que cria um ambiente propício para que os tiranos vendam que eles são a solução, a personalíssima solução. Então, a gente tem sempre que discutir as ideias, preservando o ambiente em que os partidos políticos possam oscilar, inclusive. Entre derrotas e vitórias, mas garantindo a importância de seu papel.

Altair Tavares: Vereadora, a senhora já mapeou seus votos? Por onde eles nasceram? Onde é que eles estão nessa cidade?

Aava Santiago: Meus votos estão em todos os corações aflitos com o presente, mas apaixonados pelo que Goiânia pode voltar a ser. Meu voto vem daí. Então, eu tenho voto na cidade inteira. Quem acompanhou a apuração do 0,35% de urnas abertas até 100% de urnas abertas, viu que eu não saí daquelas colocações. Entre primeiro e quinto lugar, eu fiquei oscilando ali durante toda a apuração. Ao contrário de alguns colegas, boa parte dos meus colegas, que tem o seu voto embichado pelos bairros que atuam. Então, às vezes o cara estava lá embaixo e estourava quando abria a urna da região dele. Ou o contrário, começava lá no alto e depois ia caindo. Não aconteceu isso comigo. Eu tinha um bordão na minha eleição de 2020, que quando eu falava sobre fortalecer mães trabalhadoras e fortalecer educação pública, eu dizia, “todo bairro tem uma escola e toda família tem uma mãe”. Então, esse mandato é pela cidade inteira.

E isso não só continuou, como foi expandido, pela percepção de que em toda cidade existe uma demanda de que a prefeitura e de que o serviço público funcione. Então, agregando já as minhas pautas de vida, eu trouxe o enfrentamento à obstrução da transparência e trouxe também a responsabilidade com o dinheiro público. Não tem como a gente colocar isso só para uma região da cidade.

Altair Tavares: Algumas pessoas diziam que o Tião Peixoto iria puxar votos e a senhora seria puxada por ele no PSDB. Na prática, o resultado foi outro. A senhora esteve na Assembleia, foi saudada pelo Clécio Alves como aquela que o presidente deveria agradecer. Porque foi a senhora que puxou o Tião Peixoto para o mandato. Soou assim, deu uma satisfação especial, do ponto de vista político?

Aava Santiago: Precisamos fazer um ajuste nessa leitura no seguinte sentido. A gente teve uma mudança na legislação eleitoral. Então, a gente não tem mais bem essa figura do puxador. A gente teve a mudança de cláusula, a regra de que a chapa tem que atingir 80% e o candidato tem que atingir 20%. Então, eu poderia ter tido 20 mil votos, se o Tião não tivesse garantido os 20% dele, ele não teria sido eleito. Então, a justiça seja feita, eu não puxei, mas eu contribuí para que a chapa fosse catapultada para uma chapa com muitos votos, o que garantiu que os 20% dele valessem uma cadeira na regra do 80-20. Puxou, eu acho que não cabe tanto, mas garanti a cadeira com a minha votação. 

Altair Tavares: A senhora está sendo modesta. Eu afirmo, então, deixa que eu afirmo. Puxou. O fato é esse.

Aava Santiago: Agora eu vou confidenciar a você aquilo que eu não disse em nenhum microfone, até esse momento. Fiquei muito satisfeita com aquele momento ali. Não por querer, de maneira nenhuma, colocar o presidente da Assembleia em uma saia justa. Mas é sabido que houve uma estrutura muito poderosa envolvida na eleição de Tião Peixoto com centenas, para não dizer milhares, de comissionados envolvidos em uma campanha. E eu ali, no oposto dessa forma de fazer a eleição, não tendo nenhum cargo comissionado, nem na Prefeitura, nem na Assembleia Legislativa, nem no Governo do Estado, eu contei exclusivamente com a equipe do meu gabinete, a parte da equipe do meu gabinete que tirou férias, porque o mandato continuou. Inclusive, eu tive lei sancionada, projeto apresentado, lei aprovada, reunião da Comissão de Educação que eu presido. Tudo isso acontecendo em período eleitoral. Calendário eleitoral não empobrece meu trabalho parlamentar. Então, uma equipe muito enxuta. E, por outro lado, eu lancei um formulário na internet para as pessoas preencherem, se elas quisessem ser voluntárias na minha campanha. Eu tive dois mil preenchimentos.

Altair Tavares: A senhora teve dois mil leads, que a gente fala no marketing digital?

Aava Santiago: Exatamente. Dois mil leads. Dois mil Avengers, que é a forma carinhosa, como eu apelido os meus voluntários. A gente construiu uma campanha, que eu digo para você, parte da minha equipe de coordenação não acreditava que era possível. Não acreditava. Não acreditavam que era possível fazer uma campanha com tão poucas pessoas remuneradas, com tantos voluntários. E aí, disso também vem a resposta para a pergunta. Qual foi a minha principal plataforma eleitoral? O mandato. Qual é o grande segredo? Quatro anos de entrega. Porque se eu precisasse, como parte dos candidatos, ser fabricada às vésperas da eleição, eu não tinha poder de fábrica.


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