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Categorias: Política
| Em 11 anos atrás

União: Oposição fala um coisa, e faz outra

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Veja o texto publicado na edição da semana do Jornal Tribuna do Planalto:  

É cada um por si na oposição

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Grupo demonstra falta de interesse em costurar acordo para 2014, deixando claro que, no momento, objetivo é fortalecer projetos próprios
Daniel Gondim – Repórter de Política

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A união no grupo contrário ao governador Marconi Perillo (PSDB) vai ficar pa¬ra depois. A menos de um ano do início do período eleitoral, PMDB, PT e terceira via deixam de lado a construção de uma candidatura única e, no momento, buscam fortalecer os seus respectivos projetos.

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A conclusão é possível após breve análise dos caminhos percorridos até aqui pelas lideranças de cada um dos principais partidos de oposição. No PMDB, apesar das disputas internas, ninguém admite deixar de lado a cabeça de chapa. O PT, por sua vez, tem no prefeito de Aná¬polis, Antônio Gomide, um nome fortalecido, o que dá esperança aos petistas.

Já o ex-prefeito de Senador Canedo Vanderlan Cardoso (PSB) e o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), pré-candidatos da terceira via ao governo, se comportam como pré-candidatos, mas, apesar dos discursos, na prática não se mostram muito favoráveis a uma aliança com petistas e peemedebistas. 

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Por causa disso, já há quem crave que o bloco vai mesmo di¬vidido para as eleições. “Esque¬ça isso (união). Se o Marconi estivesse muito forte, teria a chance de alguns se juntarem. Mas todo mundo vê a possibilidade de ganhar achando que o Marconi está mal, ainda mais depois dessa pesquisa que diz que ele é o se¬gundo pior governador do Brasil. Todo mundo acha que pode ganhar a eleição”, analisa o deputado federal Sandro Ma¬bel (leia a entrevista com¬ple¬ta nas páginas 4 e 5).
Apesar da análise do peemedebista, há também quem avalie o momento atual da aliança como propício para que cada grupo construa suas próprias alternativas, deixando a conversa mais definitiva para o futuro. “A aliança ainda não foi firmada, então cada um pode construir seu projeto, até para testarmos as reações da população. Muito se fala em desgastes, mas eles são de¬correntes desse processo e se¬rão superados”, garante, otimista, o deputado estadual Karlos Cabral (PT).

Dificuldades

Na semana passada, Van¬derlan Cardoso cumpriu ex¬tensa agenda de compromissos em Anápolis. Um dos primeiros encontros foi justamente com o prefeito Antônio Gomide, que é apontado co¬mo o principal nome da sigla pa¬ra o governo. O principal as¬sunto da reunião foi justamente o interesse em unir todo o bloco contrário ao governador.

O presidente do diretório regional do PSB, porém, não aceita a insistência, principalmente por parte do PMDB, em ter a cabeça de chapa. Em entrevistas concedidas a rá¬dios de Anápolis, Vanderlan deixou claro que só integra o projeto se não houver exigência de que o candidato seja de determinado partido. “Isso não é união, é imposição”, dis¬se ele. Nesse sentido, o discurso do socialista fica mais pró¬ximo do PT, que também tem dificuldades em aceitar a imposição de um nome peeme¬debista. A insistência do PMDB no assunto irrita também os petistas, que avaliam que falta humildade na sigla aliada.

Em Anápolis, no encontro entre Vanderlan e os petistas, o sentimento era de que o PMDB já teve muitas chances para vencer o governador. Pe¬tistas e socialistas lembraram, por exemplo, que, nas últimas quatro eleições para o governo, o candidato derrotado pe¬la base aliada era peemedebista. Em 1998 e 2010, Iris saiu derrotado. Em 2002 e 2006, o atual prefeito de Aparecida de Goiânia, Ma¬guito Vilela, foi superado por Mar¬coni e por Alcides Rodri¬gues (PP), respectivamente.

Mesmo com o incômodo dos aliados, o PMDB não se importa muito e segue em sua cruzada pela cabeça de chapa em 2014. “O PMDB vai desaparecer se não soltar candidato. O diretório nacional está que¬rendo candidatos em todo lugar, ameaçando trocar diretórios. O jogo está duro”, avalia Sandro Mabel.

É justamente essa postura que incomoda os aliados, mas também até mesmo alguns membros do PMDB, que veem na ação do partido uma atitude que dificulta muito a construção de uma aliança maior da oposição. “O PMDB tem essa dificuldade mesmo. Hoje, ninguém no partido vai admitir que não tem um candidato melhor que o Gomide, por exemplo. Vão continuar insistindo que tem que ter um candidato só porque é o maior partido do Estado e não vão desistir até o último minuto”, garante um peemedebista.

Articulação nacional

Além disso, uma articulação nacional aproxima ainda mais Vanderlan e PT. O governador de Pernambuco, Eduar¬do Cam¬pos, é presidente na¬cional do PSB e também um pretenso candidato à presidência em 2014. Por causa disso, nacionalmente, há uma tentativa de reaproximação dos petistas com o pernambucano, que é aliado estratégico no Nordeste.

Nas últimas semanas, por exemplo, Eduardo Campos recebeu lideranças do PT para tratar de articulações por 2014. Nesse sentido, para re¬con¬quis¬tar o pernambucano, há a ex¬pec¬tativa que os petistas deixem espaço para o PSB em de¬ter¬minados Estados.

Um deles é Goiás, onde há uma orientação de que o diálogo com Vanderlan não seja deixado de lado, embora, atual¬mente, ele não esteja muito afinado.“É preciso melhorar o diálogo com o Vanderlan. Ele tem precedentes, foi candidato ao go¬verno em 2012 e tem um ca¬pital político interessante”, afirma o deputado Karlos Cabral.
Se há motivos para proximidade entre Vanderlan e PT, há, por outro lado, fatores que atrapalham o relacionamento. Um deles ocorreu na eleição mu¬nicipal de 2012, quando dei¬xou o empresário deixou o PMDB próximo do início da campanha eleitoral e lançou o deputado Simeyzon Silveira pa¬ra prefeito da capital. Na oportunidade, Vanderlan refutou uma aliança com o prefeito de Goiânia Paulo Garcia (PT).

Mais do que isso, porém, o problema de Vanderlan em relação aos petistas tem a ver também com a presença de Ronaldo Caiado na aliança. Isso porque o democrata é um dos principais opositores da presidente Dilma Rousseff (PT) no Congresso Nacional, o que dificulta muito a aproximação da sigla com o deputado federal em Goiás.
Nesse ponto, por exemplo, Vanderlan sai em defesa do aliado, e garante que não senta na mesa de negociações sem Ronaldo Caiado. No fim de maio, por exemplo, foi convocada uma reunião de todos os partidos de oposição ao governador. O PSB foi chamado, mas o DEM, justamente para não criar saia-justa com o PT, ficou de fora. O resultado é que o ex-prefeito de Senador Canedo não apareceu no encontro.

Por causa de todas essas dificuldades, o momento na oposição ainda não é de união. Oposicionistas, porém, garantem que tudo será resolvido a tempo. “É preciso muito diálogo e maturidade. Na Assem¬bleia, nesse segundo semestre, queremos atuar juntos para afinar os discursos. Somando isso com o um trabalho concreto, estaremos com tudo pronto na hora certa”, garante Karlos Cabral.

Sem articulador, bloco tem dificuldades no diálogo
Um dos problemas vividos na oposição é a ausência de um articulador cuja função seja justamente a de construir o diálogo entre as principais lideranças do grupo. A ideia, porém, esbarra na dificuldade de se encontrar alguém que não tenha interesse direto na eleição para liderar o grupo em busca de unidade.

“Não sei se precisamos de alguém que faça esse papel de pacificação. Não vejo ninguém tão superior que possa agir nesse sentido”, explica o deputado estadual Karlos Cabral (PT), que defende mesmo o diálogo direto entre as lideranças para aparar possíveis arestas.

O deputado Francisco Gedda (PTN) chegou a ser escalado para o papel de interlocutor em junho. Ele, que é próximo de Vanderlan Car¬doso, foi o responsável por tentar a aproximação do bloco PT-PMDB com a terceira via de Caiado e Vanderlan. Na época, o parlamentar mostrou confiança até em unir DEM e PT, mas, na prática, o trabalho não teve resultado.

Ainda assim, a necessidade de alguém para aparar arestas dentro do bloco é percebida por outros integrantes. “É muito difícil funcionar sem um interlocutor. Por exemplo, quando sentar o Júnior e o Vanderlan, ninguém vai conseguir convencer o outro de que, entre os dois, há um candidato melhor. Tem que ser alguém de fora para fazer esse trabalho”, analisa um deputado de oposição.

Iris

Por causa da experiência na política, o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende até age como um consultor dos caminhos da oposição. Desde o início do ano, por exemplo, o peemedebista tem recebido muitas lideranças, como Vanderlan Cardoso e Ronaldo Caiado, além dos petistas Paulo Garcia, Antônio Gomide e Rubens Otoni.

Quando saiu derrotado na eleição para o governo em 2010, chegou a se pensar que Iris atuaria mais como um consultor, ajudando na formação de novas lideranças. O grande problema é que, apesar de ter ficado mais de dois anos longe do cenário político, o peemedebista dá todos os si¬nais de que não perdeu a vontade de tentar o governo.

Com declarações recentes de que “não pode se ausentar” do processo, Iris deixou clara a intenção de, pelo menos, colocar seu nome à disposição. Assim, o interesse dele em ser candidato poderia prejudicar seu trabalho como articulador.

Histórico

O processo vivido pela oposição ao governador atualmente pode ser comparado ao enfrentado pela base aliada antes da vitória de Marconi Perillo em 1998. Antes das eleições municipais de 1996, quando o grupo tinha dificuldades de articulação, o ex-prefeito de Goiânia Nion Albernaz (PSDB) teve papel importante na construção da aliança.

Na época, o tucano trabalhou muito para conseguir aglutinar os apoios de PP, PTB e PFL (atual DEM) em torno de sua candidatura à prefeitura de Goiânia. Depois de muito esforço, o resultado veio em uma vitória sobre o PT, que comandava o Paço na época, e o PMDB, que tinha o governo do Estado.

A articulação iniciada por Nion em 1996 foi concluída em 1998, quando o deputado federal Roberto Balestra (PP) teve papel semelhante no processo que culminou na candidatura de Marconi Perillo para enfrentar Iris. Com um partido melhor estruturado, o pepista foi o responsável por construir o nome do atual go¬vernador. (D.G.)

 

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