“Querem começar o jogo antes do apito”
Líder do governo na Assembleia, Fábio Sousa reclama que o debate eleitoral de 2014 tem contaminado a política: “Tentam ferir o governador”
Daniel Gondim e Eduardo Sartorato
Em seu primeiro ano como líder do governo Marconi Perillo (PSDB) na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Fábio Sousa (PSDB) comemora a aprovação de todos os projetos apresentado pelo executivo em 2013. Mesmo com a grande maioria dos parlamentares pertencentes à base governista, Fábio defende que o perfil do líder tem que de diálogo com todos. O tucano terá o desafio, nos próximos meses, de pacificar uma Casa prestes a instalar duas CPIs – CPI dos Grampos e da Segurança Pública – e mergulhada no jogo eleitoral de 2014. Fábio, aliás, admite que o clima das eleições já contamina o debate parlamentar. “Há uma tentativa de ferir, de sangrar e fazer o governador chegar enfraquecido”, reclama. Ele, inclusive, pede para que a situação “segure a onda” e não entre no jogo, para evitar a contaminação eleitoral. Em relação à chapa da situação, o deputado defende Marconi como candidato ao governo e José Eliton (ex-DEM) na vice, apesar das disputas internas. Fábio Sousa recebeu a equipe da Tribuna na quinta, 16, em seu gabinete.
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Tribuna do Planalto – Desde fevereiro o senhor é líder do governo na Assembleia. Qual o balanço que pode ser feito até agora?
Fábio Sousa – Ser líder do governo tem uma dificuldade. Além de ser um deputado, que tem seus projetos, seus interesses, sua ideologia e suas iniciativas, o líder tem que representar o governo, defender os seus interesses, costurar acordos, dialogar com segmentos da sociedade. Assim, tenho que deixar muitas das minhas funções de deputado para ser líder do governo, mas me esforço muito para o “deputado Fábio” não ficar de fora. Eu tenho acompanhado os projetos do governo, tanto é que tivemos vitórias em todos eles. Muitas delas foram à base da negociação, que é uma característica minha. Os meus projetos, porém, não param. Eu tenho um projeto para a Segurança Pública, que foi feita a quatro mãos, para que a PM fiscalize os eventos no Estado. Isso vai gerar uma segurança e evitar tragédias, como a acontecida em Santa Maria. O outro projeto meu é o Código de Defesa do Contribuinte, que é extrema importância.
Por que é necessário tanta negociação se o governo hoje tem ampla maioria na Casa?
Tem aquele ditado na política, que eu acho ridículo, que é “a maioria manda, e a minoria geme”. Eu poderia usar esse artifício, mas optamos por uma liderança do diálogo. É lógico que se chegar a um ponto de não haver consenso, vamos para a disputa de voto. Aí, é democracia, vence quem tiver mais voto, mas eu primo o diálogo. Não só com deputados de oposição e situação, evidentemente, mas também com setores da sociedade que entram em choque. Eu faço o canal de comunicação desse setor com o governo, com os deputados. Um exemplo foi o projeto da Goiásprev. À base de conversa e de uma abertura que o governo deu, aceitamos 19 emendas propostas pelos segmentos organizados.
Como o sr. espera que seja conduzida CPI dos Grampos? Pode atrapalhar o andamento dos trabalhos na Casa?
Sobre as denúncias da Carta Capital, se realmente elas forem concretizadas, eu fico muito livre para falar, porque, segundo a revista, até eu fui grampeado. Se isso aconteceu, não me importo de ter sido grampeado, apesar de isso ferir um principio constitucional. Eu sou um livro aberto, não me preocupo. O que me preocupa, porém, é a banalização das CPIs, que são criadas apenas para tentar fazer sangrar. Eu não acho que isso é bom e positivo para o parlamento, e ainda acho que a sociedade já consegue identificar isso quando a CPI está sendo usada para palanque político. No caso da CPI dos Grampos, a situação resolveu assinar, e eu confesso que fui convencido pela maioria a assinar.
Então o sr. era contra a CPI?
Nesse caso, eu sou contra porque é um assunto que compete ao Ministério Público, à Polícia Civil, que já recebeu a determinação para investigar. Eu era contra a politização de um assunto, que, se aconteceu, não era político. Agora, a situação vai participar exatamente para não permitir isso. A única sugestão é essa, de que não permitam que seja construído um palanque em uma CPI. É ruim para a casa ter CPIs que são banalizadas. Estão querendo criar novamente a CPI da Segurança Pública, mas nós temos uma comissão do assunto na Casa. Por que não fazer a averiguação através dessa comissão, porque não fazer o debate por meio dela? Preferem fazer CPI, porque dá manchete, dá notícia. Essa banalização é que é ruim.
O sr. acha que a Comissão Mista acaba desvalorizando as demais, já que os projetos passam por ela ao invés das outras?
Não. A Comissão Mista é a junção de várias comissões e tem a participação de quase todos os deputados. Veja que a maioria dos grandes debates que acontecem aqui não ocorre no grande Plenário, mas na Comissão Mista. É lá que o deputado pode pedir vista, propor sugestão no seu voto em separado. É lá que acontecem os grandes debates, pois funcionam por quatro, cinco ou até seis horas seguidas.
O sr. considera uma vitória o fato da CPI dos Grampos ter sido proposta pela situação e não pela oposição?
Não era essa a intenção, até porque qualquer CPI proposta terá uma maioria de deputados governistas pela distribuição do número de cadeiras. Eu não acho que foi vitória de A ou B, mas o fato do deputado Marcos Martins (PSDB), um delegado de carreira e que já foi delegado geral, tê-la proposto dá ainda mais força. A CPI tinha que ter um poder maiúsculo, não banalizado.
Por tudo isso, o trabalho de investigação de uma CPI fica comprometido?
Há alguns questionamentos do próprio poder de investigação do deputado estadual, que não é como o do federal. O maior exemplo foi a CPI do Cachoeira aqui na Assembleia e a CPI do Cachoeira no Congresso. Lá, conseguiram investigar o governador Marconi Perillo, mas aqui, por decisão judicial, não pudemos investigar os prefeitos. A CPI ficou totalmente prejudicada.
Já há uma antecipação do debate eleitoral na Assembleia? Como isso prejudica o trabalho da Casa?
Infelizmente, eu não posso ser hipócrita, estão querendo começar o jogo antes do apito do juiz, eu acho isso ruim. Eu sempre bati na tecla de que 2013 teria que ser um ano de debate político-partidário, não político-eleitoral. Eu acho que é pedir muito, mas teria que deixar o debate eleitoral para o ano que vem. Parece que a lógica, porém, é diferente. Há uma tentativa de ferir, de sangrar e fazer o governador chegar enfraquecido. Eu não acho que seja por aí.
Essa contaminação é só da oposição?
Não, há pessoas da situação que gostam do embate político, gosta da campanha. Tem até a brincadeira de que há deputados que escutam fogo de artifício e já vão correndo para ver o que é. Cada um é de um jeito, mas temos que segurar a onda também. O governador sempre fala isso. Quase todas as reuniões que participei, quando alguém toca nesse assunto, o governador faz questão de ressaltar que essa conversa é só no ano que vem. Ele quer disponibilizar recurso, resolver o problema do ICMS, da Segurança Pública e por aí vai. Ele mesmo não quer fazer a discussão eleitoral, até porque não é bom para o governo. É hora de trabalhar.
Pode-se perceber que há dificuldade de quórum na situação em determinadas ocasiões. Como fazer para os deputados para permanecerem no plenário e resolver esse problema?
Recentemente, na votação da MP dos Portos, a oposição, em grande minoria, conseguiu obstruir a votação fazendo movimentações no parlamento e pedindo verificação de quórum. Isso é uma manobra e é legítima. Existem dias, perto de feriado, que eu nunca vi dar quórum normal aqui. Recentemente, aconteceu isso e fizeram todo tipo de conjectura, mas o fato é que era só véspera de feriado. Eu estou aqui há quase oito anos e sempre foi assim. É errado, nós todos deveríamos estar presentes na votação, mas, às vezes, isso acontece.
Em relação às eleições de 2014, como o sr. vê o quadro para a disputa pelo Palácio das Esmeraldas?
O Marconi é o nosso candidato. Queremos que ele seja o nosso candidato e virá com tudo, não tenho dúvida disso. Do outro lado, o Vanderlan Cardoso é candidato e tenho um respeito profundo por ele, como homem de família, pessoa e administrador consciente que foi quando prefeito de Senador Canedo, mas, com toda a sinceridade, vejo o quadro muito mais para o governador Marconi, que é político de fato, do que para o Vanderlan. No caso do Júnior do Friboi, é uma incógnita saber se ele será candidato ou se será o Iris. Tem que haver um respeito para falar do Iris, pois eu vejo tanta gente falando de outras candidaturas. O Iris já foi governador, prefeito, ministro e tem que ser respeitado. Então, eu acho que se ele quiser, será o candidato, não o Júnior. O Friboi é um empresário, vem de uma família muito bem sucedida e eu respeito isso nele. Acho, porém, que ainda falta muito timbre político. Basta ver as afirmações e colocações que ele vem fazendo.
O fato de Marconi ter vencido Iris em 1998 e 2010 torna o peemedebista um adversário mais “desejado”, já que o governador saberia o modo de derrotá-lo?
O Iris tem essa história toda, vencê-lo não é fácil de jeito nenhum. Posso ter discordâncias político-partidárias com ele, mas devemos ter muito respeito. Acho que ele é um candidato forte em todas as circunstâncias. O Marconi ganhou dele duas vezes e, provavelmente, ganharia a terceira, mas temos que respeitar o Iris. Eu acho que o PMDB precisa respeitar o Iris, e nós, dos partidos da base, temos muito respeito pelo Iris, não tenha dúvida disso.
O governador deu garantias para que o secretário Vilmar Rocha (PSD) seja candidato ao Senado. O sr. vê isso como uma antecipação?
Ele não deu garantias, ele disse que gostaria, mas eu acho que não está definido. A verdade é que o PSD é um partido forte, que precisa ser ouvido e respeitado. Se o PSD coloca a condição de ter o candidato a senador, com certeza isso será levado em consideração. Agora, a base precisa agradecer a Deus por ter dois nomes fantásticos para disputar o Senado. O primeiro é o Cyro, que é uma revelação fantástica. E o Vilmar Rocha, que é um grande estadista, com um intelecto incomum, extremamente preparado e que pode representar Goiás no cenário nacional de forma fantástica. A decisão será tomada no ano que vem e é lógico que o PSD terá um peso muito grande nessa decisão.
Há dois partidos que já lutam pela vice: o PP, que deve filiar o vice-governador José Eliton em breve, e o PTB, com o ex-prefeito de Itumbiara José Gomes da Rocha. Esta vai ser uma disputa acirrada?
Eu acho que não, porque são todos muito amigos do governador. Como é ele que vai conduzir este processo, acho que uma conversa resolve. José Gomes fez uma grande administração em Itumbiara. O José Eliton é uma pessoa que eu particularmente defendo, porque ele se revelou um grande político. Ele tem ajudado o governo em muitas ações e muitos posicionamentos. Eu acho que ele merece. Antigamente falavam que ele não tinha voto, e de fato não tinha, mas agora ele vai agregar voto.
Então, uma chapa Marconi, José Eliton e Vilmar Rocha seria o ideal?
Não diria o ideal. Esse negócio de chapa é só em 2014. Defendo o José Eliton pelo trabalho que ele tem feito nestes últimos três anos. Mas eu não quero antecipar nada.
Há tempo ainda para o governo se recuperar?
O Estado está nos trilhos. Você já vê o desenvolvimento, de fato, vindo. Economicamente o Estado tem índices maiores que da União. Nós tínhamos um problema em rodovias. Já foram quase dois mil quilômetros recuperados. O resto será recuperado até o ano que vem. As dificuldades financeiras foram superadas com algumas ações corajosas. As parcerias com o governo federal possibilitaram vários empréstimos. Isso está dando um salto muito grande para Goiás. Eu não tenho dúvida nenhuma que a população já está sentindo o efeito.
O governador tem viajado bastante ultimamente. É exatamente por que as obras já começam a aparecer?
Olha, eu nunca vi o governador quieto. Talvez ele não estivesse dando publicidade de suas viagens.
Na época da CPI da Cachoeira ele esteve um pouco mais quieto, não?
Mesmo naquela época ele viajava. Mesmo porque há ações no interior que exigem a presença do governador. Agora, é claro, há um ânimo maior porque o governo não só está nos trilhos, como deslanchou.
Mas agora estas viagens estão sendo mais intensas?
O Governo Itinerante dá essa noção, porque ele está ocorrendo várias vezes durante um mês. Esta semana, por exemplo, ele esteve em Minaçu, está em Águas Lindas e foi a Brasília também.
O sr. é do segmento evangélico. Como viu toda essa discussão em relação as polêmicas envolvendo o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) na Câmara dos Deputados, ao assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos?
Eu percebo três coisas. Primeiro que o Marco Feliciano é um deputado federal eleito com votos e, como qualquer outro deputado, ele tem direito a espaço lá na Casa. O direito dele, por exemplo, não é diferente do presidente Henrique Alves (PMDB-RN). Por ele não ser ativo na área de Direitos Humanos, penso eu não ser o lugar mais correto. Mas é um direito dele. E ele tem o direito de expressar a opinião dele. Ninguém pode ser julgado por ter opinião no Brasil. Nem o ativista gay, nem o pastor evangélico, nem o padre católico, nem o ateu. Isso é defendido na nossa Constituição. Mas, eu acho, que muitas das expressões não podem ser feitas de forma tão violenta. Você gera uma guerra que não convêm. O diálogo, quando é feito no respeito, mesmo na contrariedade, ele dá muito mais resultado. Eu tenho minha fé muito forte, eu sou um cristão que se esforça para praticar o evangelho, mas eu tenho que entender que eu não posso impor minha opinião para as pessoas.
Qual o projeto do sr. para 2014?
Se eu cobro da oposição e do governo não discutir eleições, eu tenho que ser coerente (risos). Até porque não estou pensando nisso. Quero ser um bom deputado. Quero fazer o meu trabalho com responsabilidade, não jogar para a galera. Agora, eu já fui tudo aqui na Assembleia Legislativa. Poderia ir para uma reeleição? Sim, ano que vem eu vou decidir. Mas eu tenho muita vontade de ir para Brasília. Não sei. Isso tudo vou decidir no ano que vem. Me interessa muito o debate nacional. Quem sabe?