No seu acordo de delação premiada na Operação Lava Jato, o marqueteiro João Santana afirmou que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci pediu que ele providenciasse uma conta no exterior para receber recursos atrasados da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva de 2006.
“Tem conta fora?”, teria indagado Palocci, segundo o delator.
Conforme Santana, a resposta foi afirmativa porque ele havia aberto uma conta, em 1999, para depósitos de campanha na Argentina.
“Antonio Palocci disse, então, que ‘para segurança de todos’ os depósitos seriam feitos, nesta conta, pela empresa Odebrecht, pois além do porte e seriedade, a empresa tinha ‘o respaldo do chefe'”, afirma Santana no anexo à delação.
“Chefe” era, segundo Santana, uma referência a Lula.
A partir daí, segundo a versão do delator, “foi aberta uma espécie de ‘conta corrente’ informal, entre o Partido dos Trabalhadores e a Polis”, sua empresa de marketing.
“O partido ia rolando dívidas acumuladas, ao longo de diversas campanhas, exclusivamente relacionadas a serviços efetivamente prestados.”
Segundo João Santana, a “administração destas dívidas era feita por Palocci, [por] coordenadores financeiros das campanhas e [por] tesoureiros do PT, com plena ciência dos candidatos e principais lideres do partido (Lula e depois Dilma). Os repasses no exterior foram feitos, exclusivamente, pela empresa Odebrecht”.
PIRÂMIDE
Segundo o marqueteiro, aos “restos a pagar” da campanha de Lula em 2006 “foram se juntando aos custos das campanhas de Marta Suplicy [atual senadora pelo PMDB] e Gleisi Hoffmann [senadora pelo PT] em 2008, bem como somaram-se à de Dilma em 2010, às do [ex-prefeito de São Paulo Fernando] Haddad e Patrus [Ananias] em 2012, e assim rolando até a de Dilma em 2014”.
Para o publicitário, o PT “foi criando uma espécie de pirâmide somente interrompida em 2015, com uma dívida, jamais paga, a superior a R$ 20 milhões”.
“Como forma de realizar os pagamentos, o PT foi utilizando recursos ilícitos que tinha para receber de empreiteiros. Para facilitar operações, foi acumulando os referidos pagamentos (“por fora”) por conta exclusiva da Odebrecht (no total, correspondiam aproximadamente a 20% do custo oficial)”, segundo o anexo da delação de Santana.
Conforme o delator, a Odebrecht, “por sua vez, foi acumulando e administrando esta dívida do PT, com seus compromissos financeiros com as campanhas do interesse da empresa no exterior -no caso, Angola, Venezuela e Panamá. Assim iniciou-se um círculo vicioso”.
LUIS FAVRE
Na sua delação, João Santana também afirmou ter contratado o marido da ex-prefeita de São Paulo, Luis Favre, que no entanto não prestou serviço algum.
“Marta fez um pedido curioso na época: que nossa empresa contratasse o então marido dela, Luis Favre, que precisava de emprego regular por ser estrangeiro. Que não nos preocupássemos com o custo disso porque seria compensado na verba não oficial da campanha. Palocci reforçou este pleito.
O texto entregue pelo relator diz que ele achou o pedido “curioso”, mas depois lembrou que Marta “fizera pedido semelhante, no passado”, ao também marqueteiro Duda Mendonça “durante o tempo dela como prefeita de São Paulo”.
Segundo Santana, Luis Favre “foi contratado com um salário de cerca de [R$] 20 mil mensais e seu contrato durou aproximadamente um ano, perdurando vários meses após a campanha, sem que nunca trabalhasse para nós”.
Segundo Santana, Marta disse “que não nos preocupássemos com isso porque o currículo de Favre nos permitiria dizer que ele prestava consultoria em nossas campanhas internacionais”.
Conforme a delação premiada do marqueteiro do PT, quem “honrou o compromisso” para os pagamentos a Luis Favre foi o ex-ministro Antonio Palocci, “pagando parte em espécie e o restante foi depositado na [conta da offshore] Shell Bill” pela construtora Odebrecht.